Pedro Ladeira/Folhapress
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Guilherme, 13, e Lorena, 17, que são educados em casa pelos seus pais, Lilian e Ricardo Dias
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Extraído do site : http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/02/1594329-ex-alunos-contam-experiencia-de-ensino-domiciliar-que-cresce-no-pais.shtml
MATEUS LUIZ DE SOUZA
Desde 2012, o MEC permite que o desempenho no Enem
seja utilizado como certificação de conclusão do ensino médio. O foco era
beneficiar alunos de supletivo, mas a medida na prática facilitou também a vida
dos jovens que foram educados em casa –o homeschooling.
Segundo a Aned (Associação Nacional de Educação
Domiciliar), desde então o número de adeptos no Brasil dobrou e atingiu 2.000
famílias.
A Folha procurou ex-alunos do homeschooling
para conhecer suas impressões sobre o sistema em expansão.
Lorena Dias, 17, saiu da escola em 2010, no 8º
ano. Ela diz ter pedido para sair, porque sofria bullying e os pais estavam
preocupados com as greves e a presença de drogas e no colégio público em que
estudava, em Contagem (MG).
"Não tinha muita ideia de como faríamos.
Fiquei um pouco perdida no início", diz.
Ela admite que o padrão rígido de estudos
estabelecido pelos pais no começo, determinando horários e os conteúdos, foi
flexibilizado com o tempo. Questionada se isso não é ruim, ela responde que
não. "Me senti livre para usar meu tempo da forma mais confortável. Na
escola, você segue o ritmo do professor."
Ela diz que sentia falta da convivência diária com
crianças. Para tentar compensar, os pais faziam encontros quinzenais de
famílias adeptas do homeschooling. Além disso, ela manteve contato com algumas
amigas da escola.
Lorena está tentando se matricular em jornalismo
em uma universidade de Brasília, onde mora hoje. A falta de um certificado de
ensino médio tem sido um problema –para utilizar o Enem, o aluno precisa ter 18
anos, um a mais do que ela. Lorena tenta agora uma liminar judicial.
Vale lembrar que, apesar do Enem, o homeschooling
não é regulamentado no Brasil, ao contrário do que ocorre nos EUA. Assim, as
famílias precisam estar cientes de que não há consenso sobre sua legalidade.
Uma interpretação judicial possível é que as famílias estão violando o artigo 246 do Código Penal (que considera crime "deixar de prover à instrução primária" aos filhos).
A Aned alega que quem dá homeschooling não está
deixando de prover instrução primária. A maior parte das famílias nunca teve
problemas legais, mas ficou famoso o caso do casal Cléber e Bernadeth Nunes, de
Timóteo (MG), condenado a pagar multa de R$ 9 mil em 2010 por educar os filhos
em casa. O conselho tutelar levou o caso ao Ministério Público, que abriu a
ação.
Os garotos Jônatas e Davi estão hoje com 20 e 21
anos. Jônatas critica o ensino formal –diz que as provas que fez eram
"pura decoreba". Em casa, não tinham horário para estudar: eram
livres para decidir quando pegar nos livros. De família religiosa, liam a
Bíblia com frequência.
Os garotos se dedicaram também à informática.
Adolescentes, criavam sites para clientes da região. Em 2011, ganharam R$ 30
mil de prêmio na Campus Party, por um projeto de melhora para o AcessaSP (rede
de acesso gratuito à internet de São Paulo).
Davi é hoje responsável pela informatização da
nefrologia do hospital municipal de Betim (MG). "Vou querer educar meus
filhos com ensino domiciliar", diz.
Não seria o primeiro caso. A família Brennan,
aliás, já está na terceira geração de homeschooling.
Os pais de Timothy Brennan Jr., 41, estudaram em
casa porque, quando a família se mudou dos EUA para o Pará, a escola mais
próxima ficava muito longe. Depois a família se mudou para o Rio Grande do Sul,
mas ele foi educado da mesma forma.
Hoje em Chapecó (SC), onde é dono de uma escola de
inglês, ele até tentou colocar os filhos em uma escola, mas ficou decepcionado
com os resultados. Resolveu ensinar em casa Marky, 14, e Ellen, 12.
Um desafio, diz, é que ele morava numa fazenda,
com liberdade para brincar e muitas crianças ao redor. Já Marky e Ellen estão
em uma cidade, onde o contato com jovens é menor, assim como os espaços para
lazer.
Outra limitação é que o sistema exige muito dos
pais. Ricardo Dias, 44, pai de Lorena, diz que vários pais o procuram para
saber como é o ensino em casa. "O pai fica o dia inteiro fora, a mãe
também. Eu falo: não dá, não faz."
"Por isso, a família tem de ter um nível
financeiro bom", afirma Luciane Barbosa, doutora em educação pela USP e
autora de uma tese sobre o assunto. "É muito difícil dar certo em outras
condições."
É a opinião também do pedagogo Fabio Schebella.
"Ao menos um dos pais vai ter que ficar em tempo quase integral com os
filhos, e muitas vezes vai ter de estudar antes deles.
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