Extraído do site : http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/212901-titulacao-precoce.shtml
Titulação precoce
GABRIEL
ALVESENVIADO ESPECIAL AO RIO
Daniel
Rocha, 17, está no doutorado. Raúl Chavez, também 17, está por enquanto
"apenas" no mestrado, onde é colega de Franco Severo, 19.
Botar
adolescentes para fazer pós antes mesmo da graduação é uma estratégia peculiar
adotada pelo Impa, o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, no Rio.
De lá saiu
Artur Ávila, 35, que se tornou no ano passado o primeiro brasileiro a ganhar a
Medalha Fields, espécie de Nobel da matemática.
Quando tinha
17 anos, Ávila também já fazia mestrado na instituição. Ele é um entusiasta de
começar cedo. Se o aluno tem alto potencial, o que só acontece em "casos
específicos", obrigá-lo a fazer a graduação antes do doutorado é uma
"bobagem", diz.
Em geral, o
Impa recruta os jovens talentos em olimpíadas de matemática promovidas quando
os alunos ainda estão na escola. Os professores da instituição tendem a pensar
como Ávila: se o aluno consegue acompanhar a pós, não faz sentido esperar. Os
alunos ouvidos pela Folha também são entusiastas do mestrado ou doutorado
precoce.
"É como
tocar piano. Quando antes você começa, mais fácil", diz Alan Anderson
Pereira, 22, que acabou de concluir o mestrado.
Há outra
coisa que agrada os alunos: a convivência mais próxima de jovens com interesses
similares. Muitos desses alunos vêm dos mais variados cantos do país, onde
geralmente eram os alunos mais "nerds" das suas turmas. No Rio, em
geral passam a morar em repúblicas com outros alunos do Impa.
A grande
dificuldade, por outro lado, é lidar com a exigência burocrática de um
bacharelado. No Brasil, para que o diploma de mestrado ou doutorado possa ser
emitido, é necessário ter feito o curso de graduação.
A solução
encontrada pelos alunos é levar a graduação em paralelo. Assim que conseguem
concluí-la, já podem emitir o diploma da pós.
Como o Impa
não tem cursos de graduação, os alunos se matriculam em outras universidades. A
mestranda Maria Clara Mendes, 20, de Pirajuba (MG), estuda na PUC do Rio, por
exemplo. "É um pouco complicado, mas dá para conciliar. Só é chato mesmo
quando os professores da graduação cobram presença, mas a maioria não faz
isso."
O mestrando
peruano Raúl Chavez, 17, estuda matemática na FGV do Rio --ele foi o segundo
medalhista mais jovem da história da Olimpíada Internacional de Matemática
(ganhou um bronze com apenas 11 anos, prata com 12 e ouro com 13). O doutorando
Daniel Rocha, 17, acaba de se matricular na UFRJ e também planeja usar seus
conhecimentos para "pular as matérias fáceis" da graduação.
Alan
Anderson Pereira, que é de Alagoas, também está matriculado na graduação... na
federal do seu Estado. Conversando com o coordenador do curso e fazendo alguns
ajustes aqui e acolá, faltam agora só três disciplinas para ele se formar.
Com tal
contorcionismo para conciliar graduação e pós, os alunos podem sentir inveja do
diretor do Impa, o matemático César Camacho, membro da Academia Brasileira de
Ciências.
Camacho fez
doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley sem ter graduação. Seu
orientador inicialmente havia exigido, mas nada que uma elogiosa carta de
recomendação de Elon Lages Lima, patrono da matemática brasileira, não
resolvesse.
Camacho
depois voltou para o Brasil, fez carreira no Impa e a questão do diploma de
graduação ficou por isso mesmo. Segundo Camacho, a exigência de tal documento
para a emissão de diploma de doutorado "é um aspecto legal que o Brasil
não venceu e que gera situações ridículas".
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