Maior pontuação do Rio. Gabriel mostra a medalha sob o olhar orgulhoso da mãe, Edilene: com dedicação, se vai longe - Márcia Foletto
RIO - No chão
do quarto, livros. Na sala, o cenário é o mesmo. Apesar do incômodo de sua mãe,
é assim que o estudante Gabriel Laurentino, de 16 anos, gosta de deixar seu
material escolar: sempre à mão. Aluno do 2º ano do ensino médio do Colégio
Pedro II, campus Tijuca, ele ganhou a medalha de ouro na Olimpíada Brasileira
de Física das Escolas Públicas (OBFEP) 2013, entregue este ano. Detalhe: com a
maior pontuação do Rio de Janeiro. O prêmio, promovido pela Sociedade
Brasileira de Física, deu a Gabriel o passaporte que precisava para participar
da seleção da Olimpíada Internacional de Física, que acontecerá em julho de
2015 em Mumbai, na Índia. Caçula de quatro filhos de uma família humilde do bairro
de Cordovil, Gabriel nunca viajou para fora do país, e já sonha com a chance de
mostrar o que sabe no continente asiático.
— Ele é um diferencial,
tem todas as chances de estar entre os cinco estudantes que irão para a Índia,
e ainda trazer a medalha para o Brasil. Inclusive, a pontuação que ele
conquistou na Olimpíada contribui para que ele possa concorrer a uma bolsa de
estudo no exterior pelo programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal —
diz José Ricardo Campelo Arruda, coordenador estadual da OBFEP.
Com o tom de
voz muito baixo e visível timidez, Gabriel conta que sempre foi fascinado pelas
ciências exatas. Tanto que, em 2010, ficou entre os 200 melhores estudantes do
país na Olimpíada Brasileira de Matemática e, no ano passado, conquistou o
primeiro lugar na Olimpíada Interna de Química do Colégio Pedro II — onde
estuda desde o 6º ano do ensino fundamental.
— São
disciplinas que tenho facilidade, sempre tiro boas notas. Hoje, não tenho muito
certeza de qual carreira profissional seguirei, mas penso em fazer Engenharia
Química. Nas ciências humanas já tenho mais dificuldades — conta Gabriel, cuja
menor nota no boletim do primeiro semestre deste ano é em Geografia, 9,3.
UM JOVEM COMO
QUALQUER OUTRO
Apesar de só
tirar boas notas e ser sempre procurado pelos colegas de classe para tirar
dúvidas, até por telefone, na véspera das provas, Gabriel não gosta de ser
chamado de nerd pelos amigos.
— Levo a vida
como todos os jovens. A diferença é que a maioria acha que as ciências exatas
são bichos-papões, e eu sou apaixonado por elas. Como meus amigos, gosto de
ficar mandando e recebendo mensagens no celular, de tocar violão e, sempre que
posso, vou na casa da minha namorada, em Pilares, depois da aula — argumenta o
estudante, que nas horas vagas ainda é coroinha na igreja do bairro.
Com semblante
orgulhoso, a mãe de Gabriel, Edilene Laurentino, conta que nunca precisou
exigir que ele melhorasse as notas na escola.
— Meus filhos
sempre estudaram em escola pública. A medalha de ouro que o Gabriel recebeu é
uma prova de que, quando se tem dedicação, a pessoa consegue ir longe — diz
Edilene, que é porteira da UPA Madureira.
Orientador
educacional do Colégio Pedro II, Rene Vettori lembra que Gabriel já se
destacava com notas altas desde o ensino fundamental. No ano passado, Vettori
foi quem fez a pré seleção dos estudantes da instituição para o Programa de
Vocação Cientifica da Fiocruz, o Provoc, e não teve dúvida na indicação de
Gabriel.
— Lógico que
ele foi aprovado, pois tem uma capacidade intelectual incrível. Atualmente, ele
é o aluno do Pedro II mais cotado para ganhar, em 2015, o prêmio “Pena de Ouro”
da instituição, que é dado ao estudante que adquire a maior média geral de todo
o ensino médio. É um orgulho ter o Gabriel como aluno — adianta Vettori.
A pontualidade,
a participação e a frequência nas aulas fazem parte da rotina do estudante.
Diariamente, ele usa ônibus e metrô para ir e voltar da escola, mas não acha
cansativo. Além de estudar das 13h às 18h, ele ainda participa das reuniões do
colégio como representante da turma.
— Sempre sou
eleito representante. Dizem que tenho liderança mesmo falando baixo. Será? — questiona, com um sorriso nos lábios.
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