Extraído do Blog da jornalista Carmem Guerreiro : http://ansiamente.wordpress.com/2012/05/10/a-arrogancia-segundo-os-mediocres/
Adorei o texto !
Este texto cai como
uma luva para nós, Mães de Crianças Superdotadas, sobre como nos sentimos de não podermos falar para os outros, sobre
as façanhas e feitos de nossos filhos precoces e superdotados, porque se
falamos, soamos como arrogantes aos olhos dos outros (medíocres).
" (...) Pois bem. Ser arrogante é, então, atribuir-se qualidades que fazem com que você se ache superior aos outros.
" (...) Ou pior: que me fazem alguém melhor que os outros. São os outros que se colocam abaixo de mim ..."
TEXTO :
“Adorei o seu sapato”, disse uma amiga
para mim certa vez.
“Legal, né? Eu comprei em uma feira de
artesanato na Colômbia, achei super legal também”, eu respondi, de fato
empolgada porque eu também adorava o sapato. Foi o suficiente para causar
reticências quase visíveis nela e no namorado e, se não fosse chato
demais, eles teriam dado uma risadinha e rolariam os olhos um para o outro,
como quem diz “que metida”. Mas para meia-entendedora que sou, o “ah…” que ela
respondeu bastou.
Incrível é que posso afirmar com toda
convicção que, se tivesse comprado aquele sapato em um camelô da 25 de março,
eu responderia com a mesma empolgação “Legal, né? Achei lá na 25!”. Só que aí sim
eu teria uma reação positiva, porque comprar na 25 “pode”.
Experiências como essa fazem com que eu
mantenha minhas viagens em 13 países, minha fluência em francês e meus
conhecimentos sobre temas do meu interesse (linguística, mitologia, gastronomia
etc) praticamente para mim mesma e, em doses homeopáticas, comente entre meu
restrito círculo familiar e de amigos (aquele que a gente conta nos dedos das
mãos).
Essa censura intelectual me deixa
irritada. Isso porque a mediocridade faz com que muitos torçam o nariz para
tudo aquilo que não conhecem, mas que socialmente é considerado algo de um
nível de cultura e poder aquisitivo superior. E assim você vira um arrogante.
Te repudiam pelo simples fato de você mencionar algo que tem uma tarja
invisível de “coisa de gente fresca”.
Não importa que ele pague R$ 30 mil em
um carro zero, enquanto você dirige um carro de mais 15 anos e viaja durante um
mês a cada dois anos para o exterior gastando R$ 5 mil (dinheiro que você, que
não quer um carro zero, juntou com o seu trabalho enquanto ele pagava parcelas
de mil reais ao mês). Não importa que você conheça uma palavra em outra língua
que expressa muito melhor o que você quer falar. Você não pode mencioná-la de
jeito nenhum! Mas ele escreve errado o português, troca “c” por “ç”, “s” por
“z” e tudo bem.
Não pode falar que não gosta de novela
ou de Big Brother, senão você é chato. Não pode fazer referência a livro
nenhum, ou falar que foi em um concerto de música clássica, ou você é esnobe.
Não ouso sequer mencionar meus amigos estrangeiros, correndo o risco de
apedrejamento.
Pagar R$200 em uma aula de francês não
pode. Mas pagar mais em uma academia, sem problemas. Se eu como aspargos e
queijo brie, sou “chique”. Mas se gasto os mesmos R$ 20 (que compra os dois
ingredientes citados) em um lanche do Mc Donald’s, aí tudo bem. Se desembolso
R$100 em uma roupa ou acessório que gosto muito, sou uma riquinha consumista.
Mas gastar R$100 no salão de cabeleireiro do bairro pra ter alguém refazendo
sua chapinha é considerado normal. Gastar de R$30 a R$50 em vinho (seco, ainda
por cima) é um absurdo. Mas R$80 em um abadá, ou em cerveja ruim na balada, ou
em uma festa open bar… Tranquilo!
Meu ponto é que as pessoas que mais
exercem essa censura intelectual têm acesso às mesmas coisas que eu, mas
escolhem outro estilo de vida. Que pode ser até mais caro do que o meu, mas que
não tem a pecha de coisa de gente arrogante.
O dicionário Aulete define a palavra
“arrogância” da seguinte forma:
1. Ação ou resultado de atribui a
si mesmo prerrogativa(s), direito(s), qualidade(s) etc.
2. Qualidade de arrogante, de quem
se pretende superior ou melhor e o manifesta em atitudes de desprezo aos
outros, de empáfia, de insolência etc.
3. Atitude, comportamento
prepotente de quem se considera superior em relação aos outros; INSOLÊNCIA: “…e
atirou-lhe com arrogância o troco sobre o balcão.” (José de
Alencar, A viuvinha)
4. Ação desrespeitosa, que revela
empáfia, insolência, desrespeito: Suas arrogâncias ultrapassam todo
limite.
Pois bem. Ser arrogante é, então,
atribuir-se qualidades que fazem com que você se ache superior aos outros. Mas
a grande questão é que em nenhum momento coloco que meus interesses por línguas
estrangeiras, viagens, design, gastronomia e cultura alternativa são mais
relevantes do que outros. Ou pior: que me fazem alguém melhor que os outros.
São os outros que se colocam abaixo de mim por não ter os mesmos interesses,
taxar esses interesses de “coisa de grã-fino” (sim, ainda usam esse termo) e
achar que vivem em um universo dos “pobres legais”, ainda que tenham o mesmo
salário que eu. E o pior é que vivem, mesmo: no universo da pobreza de
espírito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário