Extraído do site : http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/04/02/estima-se-que-90-dos-brasileiros-com-autismo-nao-tenham-sido-diagnosticados.htm
Julliane Silveira
Do UOL, em São Paulo
"Fique tranquila, cada criança tem um padrão de
desenvolvimento." Essa é a resposta ouvida por quase todos os pais de
autistas na primeira vez em que questionam o médico sobre os diferentes
comportamentos de seus filhos. Obter o diagnóstico de autismo no Brasil é
difícil e demorado, porque muitas famílias e especialistas não conhecem os
sintomas ou menosprezam os sinais.
·
1 em cada 50
crianças sofre de autismo, segundo
dados divulgados há menos de um mês pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de
Doenças) dos EUA
"Estima-se que 90% dos brasileiros com autismo
não tenham sido diagnosticados. Falta informação: nunca foi feita
campanha de conscientização no país", diz o psiquiatra Estevão Vadasz,
coordenador do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de
Psiquiatria do HC de São Paulo.
Enquanto nos Estados Unidos
pediatras são treinados para identificar os transtornos do espectro autista até
os três anos, no Brasil, o diagnóstico é feito, em média, entre os cinco e
os sete anos de idade. E não porque se trata de um distúrbio raro: dados
divulgados há menos de um mês pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de
Doenças) dos EUA mostram que uma em cada 50 crianças tem o transtorno. Não há
estatística oficial entre os brasileiros, mas especialistas acreditam que a
proporção seja semelhante à encontrada em outras partes do mundo.
As famílias que procuram a AMA (Associação do Amigo do Autista) – uma das
principais entidades do país - relatam com frequência que foi difícil obter o
diagnóstico. "Os pais sofrem, porque o autismo está sendo mais
conhecido só agora. Ainda há grande dificuldade de encontrar um profissional
que conheça a síndrome. Percebemos que há insegurança do próprio médico",
relata Carolina Ramos, coordenadora pedagógica de algumas unidades da associação.
A esteticista Michella Franca, 35, foi chamada de
louca e preconceituosa por um psiquiatra infantil por suspeitar que seu filho
era autista, já que ele manifestava atraso motor desde os primeiros meses de
vida. Consultaram vários neurologistas em vão. "Diziam que ele era
mais atrasado por ter nascido prematuro. Mas, à medida que crescia, percebíamos
que ele não atendia ao nome, não dava tchau, beijo, nem mesmo os bracinhos
quando queria colo", conta. Só receberam o diagnóstico em um centro de apoio
a autistas, depois de dois anos. "Eu e meu marido estudamos por conta
própria e tínhamos certeza de que ele se encaixava nos transtornos do espectro
autista", diz.
Sintomas
De fato, esses são os principais sintomas da síndrome em crianças com menos de
três anos de idade. Observa-se, ainda, um atraso na aquisição da
linguagem ou uma grande dificuldade de se comunicar com palavras e por contato
visual. Bebês com autismo, por exemplo, podem não olhar nos olhos da mãe quando
são amamentados. Espera-se que o bebê de um ano e meio consiga
construir frases simples e pequenas – a maioria dos autistas não faz isso.
"Num primeiro momento, a
família acha que a criança é surda. Os pediatras pedem audiometria e outros
exames", afirma Vadasz. Nessa fase, a criança também pode apresentar
movimentos pendulares característicos: pessoa balança as mãos ou o tronco para
frente e para trás.
Em crianças um pouco maiores, os sinais vão ficando mais evidentes:
quadros mais graves levam a impulsividade, irritabilidade, intolerância à
frustração, autoagressão. Elas também podem
manifestar uma hiper-habilidade isolada, como ler precocemente, fazer cálculos
em alta velocidade, decorar dados específicos. "Isso pode despistar o
diagnóstico, porque os pais passam a achar que o filho é um gênio", pondera o psiquiatra Estevão Vadasz.
Esses sinais são cruciais para o diagnóstico do médico. Como complemento,
alguns exames podem ser feitos para excluir a suspeita por outras doenças que
causam sintomas parecidos. Se o médico da criança não parecer bem
esclarecido e a família acreditar que há algo errado, o mais indicado é
procurar grupos de apoio a crianças autistas para o diagnóstico e tratamento
corretos.
Tratamento
Quanto antes os pais identificarem as características e buscarem ajuda,
melhor. O tratamento precoce, iniciado antes dos três anos de idade, traz
resultados mais expressivos no desenvolvimento da criança com autismo.
O transtorno se manifesta de diversas maneiras em cada criança e, por isso,
a indicação de terapias pode variar. Em comum a todos os autistas está o
fato de que alterações no crescimento, arquitetura, reações químicas e conexões
dos neurônios em todas as áreas do cérebro levam à dificuldade de condução,
transmissão e processamento de informações. Isso não tem cura, mas pode ser
amenizado com métodos que envolvem as áreas de comunicação, comportamento e
pedagogia.
A ABA (análise do comportamento aplicada, na sigla em inglês) é a terapia mais
usada para ajudar a pessoa com autismo a driblar a dificuldade de se comunicar
e a reduzir comportamentos indesejáveis. O método é baseado em ação e
recompensa: a criança faz e ganha um mimo, que pode ser um brinquedo, o desenho
na TV ou outro item que lhe interesse. "Algumas pessoas criticam a
técnica, dizendo que se parece treino com animais. Mas o trabalho vai
evoluindo, a criança aprende a fazer sem receber algo em troca, a esperar",
explica Carolina Ramos, pedagoga da AMA.
Para trazer bons resultados, a terapia precisa ser aplicada todos os dias, por
ao menos quatro horas. Como nem todas as famílias podem bancar o tratamento ou
não têm acesso a centros especializados gratuitos, é comum (e indicado) que os
pais aprendam as técnicas em cursos ministrados por associações de apoio e
ONGs. "Dessa forma, é possível aplicar em casa e ajudar na
estimulação", diz Vadasz.
Outro método bastante usado é o PEC (sistema de comunicação por figuras, na
sigla em inglês). Como boa parte dos autistas tem muita dificuldade em se
comunicar por palavras, imagens e frases são usadas por familiares e
profissionais para entender e ensinar os pacientes a expressar vontades e
sentimentos. Esse sistema serve de inspiração para diversos aplicativos usados
em tablets, que vem servindo com ferramenta de comunicação para os autistas.
Fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta também auxiliam no
processo de aquisição de linguagem e desenvolvimento motor. Cabe ao médico que
acompanha a criança indicar outros tratamentos de acordo com as necessidades de
cada uma.
O uso da pet-terapia também tem trazido bons resultados. O contato com cães de
companhia treinados estimula a produção de ocitocina, hormônio responsável pela
criação de vínculos. "Percebemos uma melhora na interação e socialização
das crianças", diz Vadasz. Mas vale ressaltar que o cão precisa passar por
treinamento antes de entrar em contato com a criança, para evitar ataques inesperados
do animal.
Remédios são usados para tratar outros problemas que podem se manifestar
e atrapalhar as atividades e o desenvolvimento da criança, como falta de
concentração, insônia e hiperatividade.
FILMES QUE ABORDAM O AUTISMO
A Mother"s Courage: Talking Back to
Autism (Sólskinsdrengurinn) – 2009
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Narrado
por Kate Winslet, mostra a busca de uma mulher para desbloquear a mente de
seu filho autista
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Temple Grandin – 2010
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Baseado
no livro "Uma menina estranha", da própria Temple, uma mulher com
autismo que acabou se tornando uma das maiores especialistas do mundo em
manejo de gado e planejamento de currais e matadouros
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Adam – 2009
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Adam
é um rapaz com Síndrome de Asperger apaixonado por astronomia, que passa a
morar sozinho após a morte do pai
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Loucos de Amor (Mozart and the Whale) – 2005
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Donald Morton (Josh Hartnett) e Isabelle
Sorenson (Radha Mitchell) sofrem da síndrome de Asperger
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Mary
e Max: Uma Amizade Diferente (Mary and Max) – 2009
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Uma
história de amizade entre duas pessoas muito diferentes: Mary Dinkle, uma
menina gordinha e solitária, de oito anos, que vive nos subúrbios de
Melbourne, e Max Horovitz, um homem de 44 anos, obeso e judeu que vive com
Síndrome de Asperger no caos de Nova York
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Rain Man – 1988
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O
insensível Charlie Babbitt espera receber uma grande herança após a morte de
seu pai, a quem ele não vê a anos. Mas Raymond (Dustin Hoffman), seu irmão
mais velho, internado em uma instituição médica, alguém cuja existência
Charlie ignorava até então, é quem recebe toda a fortuna
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Muito
Além do Jardim (Being There) – 1979
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Chance
(Peter Sellers), um homem ingênuo, passa toda a sua vida cuidando de um
jardim e vendo televisão, seu único contato com o mundo. Ele nunca entrou em
um carro, não sabe ler ou escrever, não tem carteira de identidade,
resumindo: não existe oficialmente
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