Extraído do site : http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI59100-15228,00.html
O QUE SER?
Filipe, no palco do colégio Móbile. Ele quer fazer Artes Cênicas, depois
de estudar Medicina. Sabe tanto de Física que a professora criou uma aula
avançada para ele
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O menino Franklin Oliveira Silva, de 1 ano e meio,
engatinhava pela cozinha quando um boleto de crediário caiu no chão. “Casas
Bahia”, o menino disse. O relato é de sua mãe, Bernarda Barros de Oliveira.
“Pensei que ele tinha memorizado a propaganda.” Desde então, diz Bernarda,
sempre que saía à rua com Franklin, ele identificava letreiros – da Caixa
Econômica, do Bradesco. Seu marido, José Áureo da Silva, diz que as dúvidas
acabaram quando o menino tinha 2 anos. “Ele leu ‘jacaré’ em uma placa da cidade
de Jacareí.”
Criados no interior do Maranhão, José Áureo e
Bernarda só estudaram até a 4ª série. Perceberam que com seu filho a história
seria muito diferente. Compraram uma lousa para estimulá-lo a escrever. E
decidiram mandá-lo mais cedo para a escola, para praticar. “Parecia um sonho”,
afirma a mãe. “Mas a gente não sabia com quem falar.” Moradores da periferia de
Barueri, na Grande São Paulo, eles dizem ter procurado todas as pré-escolas da
região. Nenhuma aceitou o menino. “Uma diretora disse que não interessava se
ele lia, ali só entrava com 4 anos”, afirma Bernarda. Convencidos de que o
filho não podia esperar o ritmo das outras crianças, procuraram ajuda em
universidades, clínicas de psicologia e até em programas de TV. “Fomos pedir
uma escola especial para um vereador e ele perguntou qual era a deficiência do
meu filho.” A reação que mais chocou a mãe foi a de um psicólogo do serviço
público. “Ele disse que era para ter cuidado, porque a inteligência pode ser
usada para o bem e para o mal”, afirma. “Ele perguntou assim: ‘A senhora sabe
quem foi Hitler? Uma criança muito inteligente’. ”
A peregrinação de José Áureo e Bernarda mostra como
o país está despreparado para identificar e educar seus maiores talentos. O que
deveria ser motivo de júbilo – um talento raro, o potencial de realizar feitos
extraordinários – é tratado, na maioria das vezes, como um problema. O Censo
Escolar de 2006, do Ministério da Educação, registra 2.553 crianças e
adolescentes superdotados no Brasil. Deveria haver 1,3 milhão, segundo os especialistas
da área. A estimativa se baseia na lei das probabilidades : haveria, em qualquer
população humana, 3% de pessoas com talentos especiais (assim como, no outro
lado do espectro, haveria 3% de pessoas com deficiências de aprendizado).
Esse talento especial pode se manifestar de várias
formas. Até alguns anos atrás, acreditava-se que o principal indicador da
inteligência era o raciocínio lógico. Para isso, o teste mais famoso é o Q.I.
(quociente de inteligência), inventado em 1905 na França. Hoje, divide-se a
inteligência em quatro grandes áreas: talento acadêmico, criatividade,
capacidade de liderança e domínio sensório-motor (leia o quadro ).
Dentro de cada capacidade, há múltiplas habilidades. A motora, por exemplo, vai
do esporte à eletrônica. Um menino que joga bem futebol, se estimulado, pode se
tornar um grande cirurgião. Reconhecer uma criança superdotada, em qualquer
dessas áreas, é crucial para ela própria, para sua família e para o país. Em
alguns casos, para a humanidade. Uma dessas crianças pode, no futuro, criar uma
sinfonia, descobrir a cura do câncer, escrever uma obra de arte.
Existe pelo menos 1,3 milhão de
superdotados no Brasil. Mas poucos recebem educação
especial
Um exemplo de como o talento nato requer uma dose
exacerbada de esforço é a história do pianista brasileiro Nelson Freire. Aos 4
anos de idade, ele tocava canções de memória no colégio das irmãs em Boa
Esperança, sul de Minas Gerais. Os pais contrataram então as aulas de um
maestro de Varginha, para estimular seu talento. Na 12a aula, o maestro disse
que Freire não tinha mais o que aprender com ele. Para continuar o
desenvolvimento musical do menino, a família inteira se mudou para o Rio de
Janeiro. As aulas lá abriram oportunidades para sua futura carreira
internacional.
Assim como Freire, todo superdotado é um gênio em
potencial. Mas, sem o estímulo correto, ele não se desenvolve. É o destino de
grande parte deles, já que os professores não são formados nas faculdades de
Educação para identificá-los. Têm até uma visão estereotipada do que é ser
superdotado. Acham que se trata apenas daquele aluno que tira 10 em tudo
sempre, que toca Mozart aos 2 anos e resolve equações de cabeça na 1a série. “É
como se fosse um grupo fantástico demais para existir”, afirma a psicóloga
Cristina Cupertino, coordenadora do programa para talentos da rede de colégios
Objetivo e consultora da Unesco para o Núcleo de Atividades de Altas
Habilidades e Superdotação de São Paulo. “Identificar um superdotado vira uma
questão quase esotérica, como quando se diz ‘Eu não acredito em gnomos’. ”
O tema está tão fora da pauta das escolas que a
maior parte delas se recusa a tocar no assunto. De 15 colégios particulares
procurados por ÉPOCA, apenas três dizem ter reconhecido alunos superdotados. Os
outros afirmaram que nunca registraram um caso ou que preferem não dar
entrevistas sobre isso
MÚSICA, CHINÊS, MATEMÁTICA...
Maria Cecília ao piano. Ela passou em uma escola para superdotados nos
EUA, mas preferiu voltar para o Brasil
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Lidar com os melhores cérebros não é fácil, em
lugar nenhum do mundo. Nos Estados Unidos, um país que se esforça para
desenvolver (ou mesmo importar) os maiores talentos, um em cada cinco jovens
que abandonam a escola é classificado mais tarde como alguém de inteligência
acima da média, segundo a publicação acadêmica Guia da Educação de
Superdotados. “Como não há uma definição do governo federal do que é uma
criança superdotada, fica difícil identificá-las”, diz Colleen Harsin, diretora
da Academia Davidson, da Universidade de Nevada, nos EUA. “Outro problema é que
os professores não são obrigados a passar por um treinamento para lidar com os
jovens talentosos.”
Esse treinamento tem de incluir a habilidade para
identificar características como a curiosidade, a persistência, o
questionamento, o perfeccionismo e a boa memória. E outro treinamento, para os
professores saberem o que fazer. Quando Franklin finalmente conseguiu se
matricular numa escola, aos 4 anos, ele já lia livros infantis. “Mas ficou
frustrado porque queria aprender a escrever e fazer contas, e na escolinha só
tinha desenho”, diz Bernarda, sua mãe. Segundo ela, em vez de incentivá-lo a
buscar seus interesses, a escola o tratou como uma criança exótica. “A
professora colocava ele para ler na festa do Dia das Mães. Eu reclamava daquela
gente em volta dele. Expõe muito o bichinho.”
Pensada para atender a maioria, a escola não soube
lidar com Franklin. “A educação trabalha com a uniformidade do comportamento.
Todos têm de pensar igual, vestir igual, usar a mesma linguagem”, afirma a
pesquisadora Denise de Souza Fleith, doutora em Psicologia Escolar pela
Universidade de Connecticut. Para incentivar o filho, os pais de Franklin
economizaram para pagar uma escola particular. O pai diz que ele estava tão
interessado nos estudos que ele resolveu ensinar o que aprendia na obra. Assim
o menino aprendeu raiz quadrada. “Eu não sabia fazer a conta, dava os lados do
triângulo e o resultado, e o Franklin aprendeu.” Na 3a série, as economias da
família apertaram e o menino voltou para a escola pública. “Ele perdeu o
interesse pela escola. Dizia que não precisava fazer lição porque já sabia.
Começou a ver televisão e esquecer as coisas”, diz a mãe. No primeiro bimestre,
Franklin tirou 7 em História e em Geografia, uma das piores notas de sua vida
escolar.
Nos EUA, um em cada cinco alunos que abandonam a
escola é depois diagnosticado como superdotado
Esse desinteresse é comum quando a criança
superdotada fica presa a aulas que não a desafiam. O sistema escolar estava
desestimulando seu potencial. Até que ele foi notado por um professor, na 4a
série. “Ele nos chamou e recomendou que inscrevêssemos nosso filho na bolsa
para superdotados do Colégio Objetivo”, diz José Áureo, o pai. Franklin, hoje
com 11 anos, está desde o início do ano no novo colégio. E voltou a ter
rendimento acima da média. No quarto que divide com os pais, onde faz sua lição
de casa, Franklin me mostrou os cadernos da 5a série do Objetivo. Muitos deles
estão quase preenchidos. “Durante a aula, enquanto os meninos não terminam a
tarefa, eu vou adiantando a apostila. É só ler as explicações”, disse, enquanto
batia o olho em um desafio do caderno de inglês. Sem parar de falar, ele
resolvia de cabeça um jogo de palavras cruzadas em que tinha de escrever por
extenso e em inglês os resultados da soma de números de três casas decimais.
Se a bolsa demorasse mais um ano, o talento de
Franklin poderia ter sido prejudicado. “A partir da 5a série, o superdotado não
identificado pode ficar seriamente desmotivado”, diz Zenita Guenter, fundadora
e diretora do Centro para o Desenvolvimento do Potencial e Talento (Cedet), em
Lavras, interior de Minas Gerais. “As meninas fogem do tédio para a dispersão,
perdem a concentração. Os meninos ficam agitados e agressivos.” Nessa fase,
eles apresentam comportamento similar ao de crianças hiperativas. Ambos os
grupos têm muita energia e agitação motora e psíquica. É fácil confundir o
diagnóstico. Em pesquisa de mestrado para a Universidade de Brasília, a
psicóloga Vanessa Ouro Fino constatou que, entre 120 crianças superdotadas, 19
eram também hiperativas. E, num grupo de 120 crianças diagnosticadas como
hiperativas, nove eram superdotadas – algumas delas, diz Vanessa, não tinham o
distúrbio.
No que eles são bons | |
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Os superdotados têm talento em uma ou mais entre quatro áreas de habilidades | |
Inteligência É o talento acadêmico. Alunos que têm alto desempenho nas disciplinas da escola | |
Criatividade Grande habilidade na produção artística e científica. O aluno faz quadros, compõe músicas ou tem idéias originais marcadas por sua sensibilidade | |
Sócio-Afetiva Capacidade de liderança, persuasão, maturidade e boa convivência em grupo. É a inteligência emocional | |
Sensório-Motor Talento esportivo, resistência física, coordenação motora e percepção sensorial. São os atletas e alunos habilidosos com mecânica | |
Fonte: Desenvolver Capacidades e Talentos, de Zenita Guenter |
Olá
ResponderExcluirMe chamo Cássia e sou mãe do Guilherme de 7 anos.
Ontem recebi da psicóloga o resultado do psicodiagnóstico do meu filho, onde nos testes, foi constatado qi mto acima da média.
Estou sem saber p onde correr.
Me ajuda!!!
Olá
ResponderExcluirMe chamo Cássia e sou mãe do Guilherme de 7 anos.
Ontem recebi da psicóloga o resultado do psicodiagnóstico do meu filho, onde nos testes, foi constatado qi mto acima da média.
Estou sem saber p onde correr.
Me ajuda!!!
Olá, Cássia e Gui.
ResponderExcluirDe onde você é ?
Se quiser, posso te dar uma consultoria. Havendo interesse, entre em contato no meu e-mail (claudiahakim@uol.com.br).
Vc disse que não está sabendo, para onde correr. Então, corra para o meu grupo do facebook , "grupo “Mãe de Crianças Superdotadas”.. he he. Este grupo é destinado para os pais que procuram o melhor para o desenvolvimento do seu filho em todos os aspectos e também para os profissionais e pessoas quem possuem interesse, na área da superdotação.
Todos serão bem vindos. Não é necessário que você tenha um filho comprovadamente superdotado.
O grupo é fechado, para que as pessoas tenham mais liberdade de expressão, para que não tenham medo de tirar suas dúvidas e sofrer consequências ruins por isso.
Minha intenção, no grupo, é divulgar notícias, informações, tirar dúvidas jurídicas ou dar a minha opinião sobre a minha experiência, enquanto consultora jurídica e escritora do Blog maedecriancassuperdotadas.blogspot.com.
Se você não estiver encontrando o grupo no facebook, peça para me adicionar como amiga, que eu te coloco no grupo, ok ?
Também continue se informando a respeito (no meu blog, tem um artigo sobre os livros que eu indico para conhecer e lidar com estas crianças : http://maedecriancassuperdotadas.blogspot.com.br/2012/03/dicas-de-livros-para-saber-como-educar.html. O livro da Maria Lúcia Sabatella (Talento ou Superdotação – Problema ou Solução, é ótimo e super didático ! ).
Atenciosamente,
Claudia Hakim