Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

SER POPULAR É MELHOR QUE ESTUDAR?


ROSELY SAYÃO


Artigo extraído do Jornal "A Folha de SP", de 13/09/2.011, Seção Equilíbrio.



Esta é uma questão que muitos adolescentes superdotados sempre se deparam : A escolha entre ser popular, ou achar que, se continuar a se destacar academicamente, vai ser tachado de “nerd”. Na nossa época, o “nerd” era o “CDF” (diga-se de passagem).


Eu ficaria muito honrada, na minha época, aliás, se fosse chamada de CDF ...rs. Isto seria o reconhecimento de uma capacidade e habilidade minha que eu tanto admiro. Por isso, eu não vejo como uma crítica. Mas, claro, tudo depende do tom de como é dito e por quem esta palavra é dita. Aí, entendo que pode não soar como um elogio.


O fato é que, de fato, no nosso grupo de discussão de pais, do facebook, que leva o mesmo nome deste meu blog (aliás ... quem quiser participar do nosso grupo de pais, está convidado ! É só me chamar, no meu facebook e mandar mensagem, avisando que veio daqui do blog, ok ?), a gente, vira e mexe, se depara ou esbarra com esta questão da criança superdotada acadêmica achar que ser tachado de “nerd” ou de “CDF” não é legal.. não está com nada ... e, de repente, mudar de comportamento e, aquela criança que outrora era o exemplo e o orgulho da família, começa a apresentar alguns comportamentos diferentes e contrários aquele que estamos acostumados. Evidentemente que, nós, pais, estranhamos esta mudança de comportamento. Pois na adolescência, para muitas crianças superdotadas, é mais importante ser popular do que ser bom aluno. E nós, pais destas crianças, ficamos sem entender nada ... Ficamos angustiados pelo futuro de nossos filhos. Pelo fato deles estarem desperdiçando aquele lindo potencial. Ficamos com medo de que aquele talento nunca mais volte ... e que ele ceda o seu lugar e o seu espaço para aquilo que a criança considera como ser popular.


Mas, eu concordo com a conclusão da autora Rosely Sayão, do artigo abaixo. É preciso investir na sociedade e na nossa educação, enquanto pais, para que esta imagem de que ser popular está acima de tudo, para dar a garantia e a tranquilidade para a criança que ela pode continuar a ser talentosa, a estudar, a tirar boas notas, e transparecer a sua inteligência, sem que com isto haja um conflito entre os seus pares. A criança talentosa e inteligente precisa conquistar o seu espaço para continuar a ser aquilo que ela é e a fazer bom uso do dom que D´us lhe deu e, para isso, cabe a nós, enquanto pais dar o nosso apoio para que eles se sintam seguros em relação à sua personalidade e auto estima. Mesmo que isto signifique, como bem falou a Autora, remar contra a maré. Vamos remar contra a maré !!!



O que importa é fazer, acontecer e aparecer a qualquer custo ; ter êxito na vida é ganhar muito dinheiro



Uma mãe estranhou a queda no rendimento escolar do seu filho, um jovem de 15 anos que começou a cursar o ensino médio neste ano. Até aqui, ele sempre havia levado a escola muito bem: faltava pouco, suas notas eram suficientes para não ficar retido e também dava conta das tarefas que precisava fazer em casa.

Neste ano, a coisa ficou feia: o garoto perde a hora regularmente, suas notas estão bem baixas, apontando risco de repetição, e, ainda por cima, a mãe passou a receber recados da escola de que o filho não tem feito as lições dadas e tem arrumado encrencas com os professores.

Ela decidiu conversar com o jovem, porque nunca exigiu que ele fosse um aluno nota 10, mas também não deseja que ele abandone os estudos, pelo menos até terminar a escolaridade básica.
Você pode imaginar que essa conversa não foi nada fácil, não é?

Mas a mãe ficou espantada mesmo com o argumento principal usado pelo filho para justificar suas atitudes em relação à escola. "Não quero ser um nerd, mãe!", foi o que ele repetiu com veemência.

Nossa leitora quis saber o motivo do receio do filho de ser assim identificado e recebeu a resposta de que nenhum "nerd" era popular na escola. Ao contrário, esses alunos costumavam ser alvo de gracinhas dos colegas.


Essa mãe argumentou de todos os modos com o filho: deu exemplos de intelectuais reconhecidos mundialmente, falou de pessoas talentosas que são célebres por terem expressado seu talento etc.


Não adiantou nada. O filho ficou irredutível e até aceitou se esforçar para pelo menos passar de ano, mas garantiu que tirar notas boas não queria de modo algum, tampouco agir de modo a ser considerado um aluno "bonzinho".

Nessa idade, eles querem ser populares e admirados pelos seus pares.

Na chamada sociedade do espetáculo, precisam ter grande visibilidade no grupo que frequentam, o equivalente a ser considerado um famoso em nossa sociedade.

Vale a pena, então, refletirmos a respeito de como esses jovens querem alcançar isso. E, para tanto, vou citar dois exemplos.

O primeiro, descobri por indicação de um conhecido: o "Man versus Food", programa em um canal a cabo mostrando sempre um homem que tenta comer uma refeição enorme inteira. Vi dois episódios e considerei o suficiente. Assistir a um jovem enfrentando quilos de comida, em geral gordurosa e apimentada, passando mal e colocando a saúde em risco para ganhar notoriedade provoca no espectador enjoo e mal-estar. Mas é assim que o protagonista do programa ganha notoriedade na vida.

O segundo exemplo é de conhecimento de muitos: uma peça publicitária que, para enaltecer as qualidades de um carro, compara dois atores, um considerado um grande ator e o outro, um ator grande. Nesse comercial, é um brasileiro que se presta a ocupar o lugar de ator grande (com atuação considerada muito ruim em sua profissão). Foi dessa maneira que ele saiu do ostracismo e voltou a ser "famoso".


Muitos jovens enalteceram a coragem do moço, sua beleza e o dinheiro que ele ganhou para fazer parte dessa campanha. E então?

Temos passado essas lições aos jovens: ser corajoso é ser brigão, ser capaz de colocar a saúde e a vida em risco; o que importa é fazer, acontecer e aparecer a qualquer custo; ter êxito na vida é ganhar muito dinheiro, não importa como. Essas lições convivem com os mais novos diariamente, e os convencem.

As famílias e as escolas que valorizam virtudes como a ética, o respeito pela vida, o trabalho que beneficia a sociedade e a justiça, entre tantas outras questões importantes, parecem estar em grande desvantagem.


Não estão. As pessoas que os jovens mais admiram são seus pais e professores. Por isso, não podemos desistir desse trabalho de formiguinha, mesmo que isso signifique remar contra a maré.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?"
(Publifolha)



4 comentários:

  1. Para quem tem filhos adolescentes, este artigo cai como uma luva.. Alguém daqui já passou por isso ? Eu percebo, aos poucos, com a minha filha, que ela tenta abafar a imagem de "nerd" (o antigo CDF..rs..) que foi feita em cima dela. Mas, por outro lado, ao contrário do que aconteceu com o exemplo do texto, ela se preocupa e mantém as notas boas (muito embora não queira estudar para ter as notas boas ...). E ela tenta fazer um tipo de que não é boa aluna, que tem dificuldade, posta coisas no facebook de que não entendeu a lição, ou coisas do gênero, quando na verdade, no último boletim dela, a pior nota dela foi em artes e Educação Física 9. Nas outras matérias ela tirou entre 9, 3 e 10, considerando que ela está acelerada um ano de série ....rs..

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  2. Isso é complicado já que o adolescente está começando a formar sua personalidade, por isso muitas vezes o abandono. E se não houver a referência de um pai, mãe ou professor ele certamente irá buscar a de outro que muitas vezes pode não ser a pessoa adequada.

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  3. Filmes americanos rotulam nerds como excluídos,esquisitos e bobões;isso atrapalha muito nossos adolescentes inteligentes(qualquer rótulo é péssimo).Mas os tempos estão mudando ,hoje em dia o termo "nerd" está sendo substituído por "geek";que são os nerds descolados e super admirados pela galera."AINDA BEM!!!"

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  4. Advinha quem criou o protocolo BIT TORRENT (ou simplesmente TORRENT):
    http://es.wikipedia.org/wiki/Bram_Cohen
    A matéria é muito bem explicada e está em espanhol.

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