Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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sábado, 23 de abril de 2011

A criança superdotada e a questão da diferença : Um olhar sobre suas necessidades emocionais, sociais e cognitivas. Linhas críticas, 9, 16 (13-31).

Angela M.R. Virgolim (2003).



Uma colega minha, da comunidade do Orkut, trouxe uma parte deste terxto para nós tomarmos conhecimento e eu gostei tanto, que o procurei na internet, em sua íntegra, e achei que o meu público iria gostar de seu conteúdo. Como o texto é longo, eu vou postá-lo por partes. Se puderem, por favor, opinem sobre ele, ok ?


Resumo

Um dos problemas típicos que ocorrem com crianças e jovens superdotados é a falta de sincronia quanto ao seu desenvolvimento físico, cognitivo e social. O alto nível de sensibilidade emocional apresentado neste grupo acentua a noção de que os superdotados são diferentes por se encontrarem freqüentemente fora do estágio, fora de fase ou fora de sincronia com relação ao seu contexto social. Este texto se propõe a debater a questão da diferença, enfocada a partir das necessidades sociais, emocionais e cognitivas da criança e do jovem superdotado, e particularizada nos múltiplos mitos que cercam a questão da superdotação. O texto também reflete sobre as definições mais modernas de superdotação, em oposição à visão unicista dos testes psicométricos, enfocando especialmente as teorias de Howard Gardner e Joseph Renzulli, e fornece indicações para pais, professores e para o próprio aluno poderem lidar com os problemas advindos destas falsas concepções a respeito do tema.



Introdução

Há, com certeza, em nosso imenso Brasil, professores dedicados e pais extremados que tentam garantir a todos os seus alunos/filhos chances igualitárias de aprender, de crescer com equilíbrio e obter sucesso em todas as suas atividades. Estas crianças estariam sendo encorajadas a desenvolver seus potenciais e suas habilidades, a cultivar uma auto-estima positiva e um sentido de adequação no seu ambiente social e escolar. Apoiadas, amadas e bem direcionadas na vida, são estimuladas, respeitadas e recompensadas por suas conquistas e realizações.


No entanto, milhões de crianças brasileiras vivenciam outro tipo de situação. Sentem-se frustradas, confusas, excluídas, infelizes, e muitas vezes com um sentimento generalizado de que há alguma coisa errada com elas. Elas se sentem diferentes e gostariam apenas que as pessoas as aceitassem como elas são.


Algumas desconhecem o alcance de suas próprias habilidades. Outras suspiram pela falta de oportunidade de aprender assuntos diferentes e desafiadores, que geralmente não são vistos no currículo regular.


Estes jovens são aqueles que estão sempre nos perguntando : mas para que serve isso que estou estudando ? São crianças curiosas, sensíveis, que não sentem prazer no ambiente escolar, pois as coisas que aprendem em algumas áreas são fáceis demais, sem maiores desafios. Estas reclamam : para que tanto dever de casa ? Para que repetir tudo aquilo que já sei ? Reclamam que as aulas são monótonas, os professores são chatos e os colegas não as entendem. Alguns ainda levam para a casa os mais diversos rótulos, muitas vezes nada lisonjeiros, e que acentuam mais ainda a questão da diferença.


E, ainda em casa, sofrem pressão dos pais para que tirem notas boas em tudo, sejam criativos e não cometam erros. Este é o padrão típico da realidade de jovens a quem se costuma rotular de superdotados.


O termo não é novo e muitas vezes envolve confusão, até mesmo pelos seus portadores, os quais não se vêem como superdotados. Isto provavelmente se dá porque a palavra os remete aos super-heróis das estórias em quadrinhos que, com seus poderes sobrenaturais, os fazem se sentir ainda mais diferentes dos demais.


A questão a ser debatida aqui é que essa diferença existe, embora não implique,necessariamente, em alguma coisa negativa e que deva ser evitada, modificada, retorcida até conformar a um padrão estereotipado. A diferença é aquilo que faz cada um de nós únicos, e como tal, capazes de contribuirmos para o mundo que nos cerca de uma forma criativa e original. Precisamos, então, de sintonizarmos com nossas capacidades e habilidades e, especialmente, com nossas necessidades emocionais e sociais que nos moldam como seres únicos e especiais. Este texto se propõe a debater a questão da diferença, enfocada a partir das necessidades sociais, emocionais e cognitivas da criança e do jovem superdotado, e particularizada nos múltiplos mitos que cercam a questão da superdotação.


Dissincronia interna


Um dos problemas típicos que ocorrem com crianças e jovens superdotados é a falta de sincronia quanto ao seu desenvolvimento físico, cognitivo e social, a que Jean-Charles Terrassier(1979) denomina dissincronia interna. Com esse termo, Terrassier assinala a grande disparidade que às vezes existe no desenvolvimento das diferentes capacidades da criança, como por exemplo, ritmos diferentes nas áreas intelectual, psicomotora, lingüística e perceptual. É comum que estas crianças possam ler em grande velocidade, às vezes desde os 3 ou 4 anos de idade, mas, em alguns casos, a coordenação psicomotora não segue o mesmo ritmo, tornando-se deficiente ; a criança sente dificuldade para escrever e demonstra não ter paciência em fazer os exercícios de ortografia passados pela escola. Ela pode também demonstrar grande habilidade em uma área cognitiva, por exemplo, em matemática, mas um desempenho medíocre em outra, como linguagem. As vezes, a disparidade aparece na área emocional : como um adulto, pode discutir temas políticos e sociais com uma profundidade muitas vezes não esperada pelo seu desenvolvimento cronológico; mas, em outros momentos, demonstra atitudes típicas de crianças bem menores ao ser frustrada em suas necessidades.



Dissincronia externa


Ás vezes, a falta de sincronicidade no desenvolvimento da criança superdotada não se dá apenas dentro da própria criança, mas pode ser observada em relação ao seu ambiente externo. Podemos observar a dissincronia externa (Terrassier, 1979), por exemplo, quando há uma falta de adequação entre as necessidades da criança e o currículo escolar que, na grande maioria das escolas brasileiras, não é diferenciado para atender essa população. Se a criança superdotada não se encontra em atendimento especializado, dificilmente terá, em sala de aula, a profundidade e a abrangência de informação que necessita nas matérias escolares que domina ou tem vontade de aprender. Portanto, a falta de sincronicidade entre a necessidade da criança e o que é, na realidade, oferecido pela escola, gera, em muitos casos, frustrações, dando origem a diversas dificuldades sociais e emocionais. A dissincronia externa pode também se revelar por outros fatores, como : falta de conformidade da criança ou do jovem com as expectativas culturais baseadas em sua idade cronológica (a sociedade espera dela determinados comportamentos de acordo com sua idade cronológica, mas ela age de acordo com sua idade mental) ; problemas relacionados aos colegas (muitas vezes não são aceitas devido aos seus interesses diferenciados ; ou por alguns traços de personalidade, como timidez, arrogância ou isolamento ; ou por fazerem muitas perguntas em sala de aula, sendo por isso rotuladas como CDF ou “sabichões”), com a subseqüente preferência por amigos mais velhos, que apresentam interesses mais relacionado são dela ; pressão externa para seguir carreiras mais valorizadas socialmente, muitas vezes em detrimento de aspirações artísticas ou de menor prestígio ; e pais super ambiciosos que procuram o destaque do filho como meio de atingir a própria realização, deixando, com isso, de atender às reais necessidades da criança (Cropley, 1993; Ehrlich, 1989; Winner, 1998).


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