Texto de autoria de Virgolim, A.M.R.
(2003). A criança superdotada e a questão da diferença: Um olhar sobre suas
necessidadesemocionais, sociais e cognitivas. Linhas críticas, 9, 16 (13-31).
Desenvolvimento assincrônico e a intensidade das emoções
O desenvolvimento assincrônico é tema de debate
entre o Grupo Columbus, da Universidade de Columbus, Ohio (EUA), e vai além da
dissincronia discutida por Terrassier ao propor que a superdotação contenha
tanto uma sub-estrutura cognitiva quanto uma emocional ; com isso, ressalta-se
o fato de que a criança superdotada não somente pensa diferente de seus
colegas, mas também sente de forma diferente.
A preocupação com as necessidades emocionais da
criança superdotada é de tal ordem, que este grupo delineou a seguinte
definição para abarcar tais particularidades : “Superdotação é um
desenvolvimento assincrônico no qual habilidades cognitivas avançadas e grande
intensidade combinam para criar experiências internas e consciência que são
qualitativamente diferentes da norma. Essa assincronia aumenta com a capacidade
intelectual".
A unicidade do superdotado os torna particularmente
vulneráveis e são necessárias modificações na educação parental, no
ensino e no aconselhamento psicológico, a fim de que possam alcançar um
desenvolvimento ótimo (Silverman, 1993, p.3). O desenvolvimento
assincrônico resulta, assim, em consciência, percepções, respostas emocionais e
experiências de vida completamente incomuns.
Uma criança com organização cognitiva bastante
avançada pode apresentar também um alto nível de sensibilidade emocional. Essa
sensibilidade pode variar enormemente – assim, em um momento ela pode
demonstrar um grande avanço emocional, e em outros momentos, grande
imaturidade. Talvez seja por isso que encontramos na literatura uma
certa discrepância na forma com que acriança portadora de habilidades
superiores é retratada : em alguns casos, como avançada emocionalmente, e, em
outros, como psicologicamente imatura.
Na verdade, conforme realça Silverman (1993), ela
pode ser os dois, dependendo do momento em que você a observa. Desta forma, os
pesquisadores do grupo Columbus assinalam que o superdotado pode encontrar-se
em risco psico-social se
estiver, ao mesmo tempo : (a) fora do estágio – lidando com conceitos e metas
bem além do esperado para sua idade ; (b) fora de fase – alienado, distante do
grupo de pares ou sem amigos com quem possa interagir; (c) fora de sincronia –
sentindo-se diferente, e que não pode, não deve ou simplesmente não se adapta
ao seu contexto social.
Em seu livro Counseling the gifted and talented,
Linda Silverman oferece um claro exemplo de desenvolvimento assincrônico, ao
descrever o caso de Kate : “Em termos de desenvolvimento cronológico, a idade
talvez seja a informação mais irrelevante para se levar em consideração. Kate,
com um QI de 170, tem 6 anos de idade, mas apresenta uma idade mental de dez
anos e meio... Como toda criança altamente superdotada, Kate é um amálgama de
muitas idades desenvolvimentais. Ela talvez tenha seis anos quando anda de
bicicleta, treze quando joga xadrez ou toca piano,nove quando debate regras,
oito quando escolhe seus Hobbies e livros,cinco (ou três) quando exigem que
fique quieta no lugar. Como pode-se esperar que uma criança como esta tenha
comportamentos adequados em uma sala de aula cujas normas foram feitas para
crianças de seis anos ?” (Silverman, 1993, pp. 4-5).
Casos como o de Kate tornam-se um real desafio para
aqueles que se dispões a trabalhar com a criança portadora de altas
habilidades, sejam eles professores, pais ou psicólogos. É preciso
compreendê-la em todas as suas facetas, se quisermos atender às suas
necessidades emocionais, sociais e cognitivas.
Os riscos da falta de atendimento
Todos estes fatores podem vir a ser potencialmente
danosos à criança, no sentido decolocá-las “em risco” emocional, conforme já
mencionado. Crianças superdotadas são, por natureza, mais sensíveis que
a população em geral. Desta forma, reagem com muito mais força e
expressão a um ambiente onde suas habilidades não são percebidas e suas
necessidades especiais não são atendidas. Suas reações podem se dirigir ao
mundo externo, em forma de comportamento social inadequado, revelando
hostilidade e agressão com relação aos outros (pais, professores ,figuras de
autoridade) ou se entregando a atos de delinqüência social. Ou podem ser atos
dirigidos a ela própria, como a formação de um autoconceito negativo,
insegurança, frustração e raiva por não atingirem a perfeição, e sentimentos
gerais de inadequação (Alencar & Virgolim,2001; Butler-Por, 1993;
Landau, 1990; Winner, 1998). Voltaremos a este tema mais à frente neste texto.
Partimos da premissa de que grande parte dos problemas
emocionais que a criança superdotada apresenta pode também ser proveniente de
inúmeros mitos a respeito da superdotação, que são agravados pela desinformação
que, em geral, a nossa sociedade tem a respeito deste tópico.
Em seu livro “Psicologia e educação do
superdotado” de 1986, a professora Eunice Soriano de Alencar, pesquisadora
do assunto há mais de duas décadas, ressalta várias idéias errôneas a respeito
da superdotação. Vamos enfocar algumas dessas falsas concepções,discutindo-as à
luz das modernas teorias a respeito da inteligência e das habilidades
superiores.
Clau pra variar se procuro assuntos sobre superdotação o teu blog aparece na pesquisa...srsrsr
ResponderExcluirFabuloso o texto!! Beijos
Obrigada, Van.. isto tb já aconteceu comigo, algumas vezes e, noutro dia, a coordenadora da escola dos meus filhos, tb me comentou, que entrou no google para pesquisar sobre algo e deu de cara com o meu blog.. kkkk.. Reconhecimento ? kkkk
ResponderExcluirPassei o seu blog para o psicologo do meu filho, ele quer muito aprender como trabalhar com essas nossas pedra preciosas. Obrigada por mais esse show de informação.
ResponderExcluirQue legal, Sandra!
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