Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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domingo, 24 de abril de 2011

Continuação do texto de Angela Virgolim

Virgolim, A.M.R. (2003). A criança superdotada e a questão da diferença: Um olhar sobre suas necessidadesemocionais, sociais e cognitivas. Linhas críticas, 9, 16 (13-31).


Desenvolvimento assincrônico e a intensidade das emoções


O desenvolvimento assincrônico é tema de debate entre o Grupo Columbus, da Universidade de Columbus, Ohio (EUA), e vai além da dissincronia discutida por Terrassier ao propor que a superdotação contenha tanto uma sub-estrutura cognitiva quanto uma emocional ; com isso, ressalta-se o fato de que a criança superdotada não somente pensa diferente de seus colegas, mas também sente de forma diferente.


A preocupação com as necessidades emocionais da criança superdotada é de tal ordem, que este grupo delineou a seguinte definição para abarcar tais particularidades : “Superdotação é um desenvolvimento assincrônico no qual habilidades cognitivas avançadas e grande intensidade combinam para criar experiências internas e consciência que são qualitativamente diferentes da norma. Essa assincronia aumenta com a capacidade intelectual".


A unicidade do superdotado os torna particularmente vulneráveis e são necessárias modificações na educação parental, no ensino e no aconselhamento psicológico, a fim de que possam alcançar um desenvolvimento ótimo (Silverman, 1993, p.3). O desenvolvimento assincrônico resulta, assim, em consciência, percepções, respostas emocionais e experiências de vida completamente incomuns.


Uma criança com organização cognitiva bastante avançada pode apresentar também um alto nível de sensibilidade emocional. Essa sensibilidade pode variar enormemente – assim, em um momento ela pode demonstrar um grande avanço emocional, e em outros momentos, grande imaturidade. Talvez seja por isso que encontramos na literatura uma certa discrepância na forma com que acriança portadora de habilidades superiores é retratada : em alguns casos, como avançada emocionalmente, e, em outros, como psicologicamente imatura.


Na verdade, conforme realça Silverman (1993), ela pode ser os dois, dependendo do momento em que você a observa. Desta forma, os pesquisadores do grupo Columbus assinalam que o superdotado pode encontrar-se em risco psico-social se estiver, ao mesmo tempo : (a) fora do estágio – lidando com conceitos e metas bem além do esperado para sua idade ; (b) fora de fase – alienado, distante do grupo de pares ou sem amigos com quem possa interagir; (c) fora de sincronia – sentindo-se diferente, e que não pode, não deve ou simplesmente não se adapta ao seu contexto social.


Em seu livro Counseling the gifted and talented, Linda Silverman oferece um claro exemplo de desenvolvimento assincrônico, ao descrever o caso de Kate : “Em termos de desenvolvimento cronológico, a idade talvez seja a informação mais irrelevante para se levar em consideração. Kate, com um QI de 170, tem 6 anos de idade, mas apresenta uma idade mental de dez anos e meio... Como toda criança altamente superdotada, Kate é um amálgama de muitas idades desenvolvimentais. Ela talvez tenha seis anos quando anda de bicicleta, treze quando joga xadrez ou toca piano,nove quando debate regras, oito quando escolhe seus Hobbies e livros,cinco (ou três) quando exigem que fique quieta no lugar. Como pode-se esperar que uma criança como esta tenha comportamentos adequados em uma sala de aula cujas normas foram feitas para crianças de seis anos ?” (Silverman, 1993, pp. 4-5).


Casos como o de Kate tornam-se um real desafio para aqueles que se dispões a trabalhar com a criança portadora de altas habilidades, sejam eles professores, pais ou psicólogos. É preciso compreendê-la em todas as suas facetas, se quisermos atender às suas necessidades emocionais, sociais e cognitivas.


Os riscos da falta de atendimento


Todos estes fatores podem vir a ser potencialmente danosos à criança, no sentido decolocá-las “em risco” emocional, conforme já mencionado. Crianças superdotadas são, por natureza, mais sensíveis que a população em geral. Desta forma, reagem com muito mais força e expressão a um ambiente onde suas habilidades não são percebidas e suas necessidades especiais não são atendidas. Suas reações podem se dirigir ao mundo externo, em forma de comportamento social inadequado, revelando hostilidade e agressão com relação aos outros (pais, professores ,figuras de autoridade) ou se entregando a atos de delinqüência social. Ou podem ser atos dirigidos a ela própria, como a formação de um autoconceito negativo, insegurança, frustração e raiva por não atingirem a perfeição, e sentimentos gerais de inadequação (Alencar & Virgolim,2001; Butler-Por, 1993; Landau, 1990; Winner, 1998). Voltaremos a este tema mais à frente neste texto.


Partimos da premissa de que grande parte dos problemas emocionais que a criança superdotada apresenta pode também ser proveniente de inúmeros mitos a respeito da superdotação, que são agravados pela desinformação que, em geral, a nossa sociedade tem a respeito deste tópico.

Em seu livro “Psicologia e educação do superdotado” de 1986, a professora Eunice Soriano de Alencar, pesquisadora do assunto há mais de duas décadas, ressalta várias idéias errôneas a respeito da superdotação. Vamos enfocar algumas dessas falsas concepções,discutindo-as à luz das modernas teorias a respeito da inteligência e das habilidades superiores.

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