Isso ocorre em casos da Síndrome de Savant, uma condição em que indivíduos demonstram habilidades excepcionais em áreas específicas, mas podem ter limitações em outras funções cognitivas.
Muitas pessoas confundem a Síndrome de Savant com a superdotação, pois ambas envolvem habilidades surpreendentes. No entanto, são condições distintas, explicadas a seguir.
Definição de Superdotação Segundo a Literatura Científica:
A superdotação é um conceito multidimensional que envolve um desempenho superior ou muito superior em uma ou mais áreas do conhecimento, criatividade, liderança ou habilidades psicomotoras.
As teorias sobre superdotação evoluíram de um modelo baseado apenas no QI para abordagens mais amplas que consideram criatividade, motivação, talentos específicos e fatores ambientais. O entendimento da superdotação atualmente é mais dinâmico e abrange múltiplos perfis de indivíduos superdotados. A definição varia de acordo com diferentes abordagens científicas, mas, em geral, a superdotação é caracterizada por:
Aprendizagem Acelerada: Capacidade de adquirir e aplicar conhecimento com rapidez.
Pensamento Criativo: Habilidade para resolver problemas de maneira inovadora.
Alta Motivação: Interesse profundo e persistente por determinadas áreas.
Alto QI: Em muitas abordagens, considera-se superdotado um indivíduo com QI acima de 130 (e para altas habilidades QI de 120), embora o conceito vá além da medida do QI.
Definição da Síndrome de Savant
A Síndrome de Savant é uma condição rara em que indivíduos, frequentemente com transtornos do neurodesenvolvimento (como o TEA), apresentam habilidades excepcionais em áreas específicas, como matemática, música, arte ou memória, contrastando com déficits cognitivos ou dificuldades no funcionamento global. Essa síndrome também pode ser congênita, manifestando-se desde o nascimento, ou adquirida, resultante de lesões ou traumas cerebrais que desencadeiam talentos inesperados.
Embora os Savants tenham habilidades excepcionais, isso não os torna superdotados. A superdotação envolve alto desempenho intelectual generalizado, enquanto o savantismo se caracteriza por habilidades excepcionais em uma área específica, com déficits em outras. Esses indivíduos demonstram habilidades impressionantes em áreas específicas, mas frequentemente enfrentam desafios cognitivos e sociais, o que é característico da Síndrome de Savant.
Aqui estão alguns exemplos de pessoas famosas que apresentaram a Síndrome de Savant:
Kim Peek
Conhecido como o "homem do mapa", Kim Peek era um savante com memória prodigiosa. Ele tinha uma capacidade notável de memorizar livros, calendários e mapas, e sua habilidade foi retratada no filme Rain Man (1988). Kim Peek tinha autismo e uma série de déficits cognitivos, mas possuía uma memória enciclopédica.
Stephen Wiltshire
Stephen Wiltshire é um artista britânico conhecido por sua habilidade excepcional de desenhar paisagens urbanas complexas de memória, após observá-las por um curto período. Ele foi diagnosticado com autismo e possui habilidades visuais e espaciais notáveis.
Daniel Tammet
Daniel Tammet é um escritor e autista britânico com uma habilidade extraordinária para cálculos matemáticos e uma memória incomum. Ele pode realizar cálculos complexos de cabeça rapidamente e possui uma habilidade especial para aprender novos idiomas. Tammet é também conhecido por sua habilidade em memorização visual e pela forma como percebe números.
Alonzo Clemons
Alonzo Clemons, um savante autista, tem uma habilidade única em esculpir figuras de animais com grande detalhe e precisão, apesar de ter limitações cognitivas em outras áreas. Ele consegue esculpir modelos detalhados de animais apenas olhando para eles por um curto período de tempo.
Referências Bibliográficas sobre Superdotação
Renzulli, J. S. (1978). What makes giftedness? Reexamining a definition. Phi Delta Kappan, 60(3), 180-184.
Gagné, F. (2005). From gifts to talents: The DMGT as a developmental model. In Sternberg, R. J., & Davidson, J. E. (Eds.), Conceptions of Giftedness (2nd ed., pp. 98-119). Cambridge University Press.
Sternberg, R. J. (1985). Beyond IQ: A Triarchic Theory of Human Intelligence. Cambridge University Press.
Sternberg, R. J., & Grigorenko, E. L. (2007). Teaching for Successful Intelligence: To Increase Student Learning and Achievement. Corwin Press.
Carroll, J. B. (1993). Human Cognitive Abilities: A Survey of Factor-Analytic Studies. Cambridge University Press.
Referências Bibliográficas sobre Savantismo sem Superdotação
Treffert, D. A. (2010). Islands of Genius: The Bountiful Mind of the Autistic, Acquired, and Sudden Savant. London: Jessica Kingsley Publishers.
O autor é um dos maiores especialistas no estudo do savantismo e discute casos de savants com déficits cognitivos significativos.
Snyder, A. (2009). Explaining and Inducing Savant Skills: Privileged Access to Lower Level, Less-Processed Information. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 364(1522), 1399–1405.
Discute a hipótese de que os savants têm acesso direto a processos cognitivos menos filtrados, sem necessariamente apresentarem superdotação.
Hughes, J. R. (2012). A Review of Savant Syndrome and Its Relationship to Epilepsy. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 36(3), 920–930.
Explora a relação entre o savantismo adquirido e lesões cerebrais, reforçando a desconexão entre savantismo e superdotação tradicional.
Hermelin, B. (2001). Bright Splinters of the Mind: A Personal Story of Research with Autistic Savants. London: Jessica Kingsley Publishers.
Analisa como os savants podem apresentar talentos excepcionais sem uma inteligência geral elevada.
Claudia Hakim
OAB/SP 130.783
Advogada Especialista em Direito Educacional (USP)
Pós-Graduada e especialista em Neurociências e Psicologia Aplicada
Sócia Fundadora do Instituto Brasileiro de Superdotação e Dupla Excepcionalidade
**Contato: **claudiahakim@uol.com.br
Insta: @claudia_hakim
YouTube: Claudia Hakim - Superdotação e Direito Educacional
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