Extraído do site : https://www.diariodaregiao.com.br/_conteudo/2018/04/cidades/educacao/1104536-projeto-procura-criancas-que-possuem-talento-nato.html
Especialistas conseguem identificar 140 estudantes com altas habilidades que estudam na rede municipal de ensino de Rio Preto
Toda criança tem um talento nato.
Algumas nos esportes, outras em matemática, ciências ou informática.
A grande diferença é que algumas
possuem uma aptidão maior do que outras. Além disso nem todas conseguem
identificar esse talento ou demoram para descobrir as tais habilidades.
Esse não é o caso da Lara, do
Matheus, do Everton e do Willian, que já descobriram quais são suas habilidades
e agora estão trabalhando para lidar com elas e aprimorá-las. Os quatro fazem
parte de um grupo de 140 alunos da rede pública de Rio Preto que participam de
cursos do Centro para o Desenvolvimento do Potencial e Talento (Cedet).
Trata-se de um espaço com profissionais capacitados para identificar o nível
dessas habilidades nas crianças e desenvolver atividades em grupos para
aprimorar essas potencialidades.
Carla Cristina Pereira Job,
coordenadora do Cedet, conta que o trabalho começa nas escolas municipais da
cidade, com aplicação de um questionário pelos professores aos alunos, com
objetivo de descobrir esses talentos.
"Primeiro, identificamos as
crianças e depois começamos a acompanhar o aluno na escola e as atividades que
ele gosta de fazer" explica. Os alunos identificados são convidados a
participar do Cedet, que é organizado em "clubes" de alunos de acordo
com suas aptidões.
Uma das alunas é Lara Marques
Bernado, de 14 anos, que faz parte do Clube de Matemática. Ela coleciona
medalhas das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).
"Ela tem um raciocínio que me
encanta, tudo que é apresentado é fácil para ela. A gente fica com muito
orgulho, porque somos de classe média e desenvolvimento que ela conquistou foi
com ajuda de professores" diz a auxiliar financeira Maria Izabel Marques,
mãe de Lara.
Ela conta que começou a perceber a
aptidão da filha pela matemática nos primeiros anos da vida escolar. "Ela
não tinha dificuldades e sempre fez os exercícios com muita tranquilidade.
Desde criança foi independente com essas tarefas, nem me pedia ajuda",
conta a mãe.
Mais matemática
Outro que tem facilidade com os
números é Matheus Regis Albano, 11 anos, que já sabe o quer quando crescer: ser
programador e trabalhar com games. "Não só cálculos. Ele tem facilidade
para outras coisas como quebra-cabeça. Já compramos alguns para idades avançadas
e ele consegue montar com uma rapidez impressionante", diz Felipe Kabakian
Albano, pai do menino.
Para o professor Luís Augusto
Taolini, o menino tem tudo para ser um grande profissional da matemática.
"O aprendizado dele vai para além da sala de aula. Ano passado,
participamos da Olimpíada de Matemática e ele foi o melhor colocado a nível
nacional da nossa região.
Ex-alunos são voluntários
Além de professores e psicólogos, os
Cedet conta com o trabalho voluntário de ex-alunos. É o caso de Everton de
Almeida Saurin, 17 anos, que está no último ano do ensino médio. Ele já foi
aluno do Cedet e hoje é voluntário do projeto como professor de desenho.
"A sensação de ajudar, assim
como eu fui ajudado é bem gratificante, porque você está passando algo que você
apreendeu para quem gosta. O pessoal aqui é bem entrosado. É mais fácil ensinar
e aplicar várias técnicas a eles", conta.
Outro ex-aluno que já foi voluntário
é Willian Wallace Colla Correia, de 18 anos, que atualmente é estudante de
Ciências da Computação na Unesp de Rio Preto.
"Eu percebi minha facilidade no
ensino fundamental. Eu sempre tirei nota boa em matemática. O que eles achavam
difícil, eu conseguia fazer com facilidade. Faço bastante exercício e eu
consigo memorizar. Dependendo da matéria, só de ter uma conversa rápida com o
professor eu consigo entender a lógica da questão", conta. Ele entrou no
Cedet com 11 anos de idade e saiu quando tinha 17 anos. "Agradeço muito ao
pessoal, que me ajudou bastante".
Testes começam com alunos de sete anos
Os testes para identificar estudantes
com altas habilidades são aplicados quando eles estão com idades entre 7 e 9
anos. O primeiro teste é aplicado em alunos do segundo ano do ensino
fundamental. No ano seguinte, o teste é repetido com os mesmos alunos, desta
vez no terceiro ano.
Após a identificação, os alunos que
apresentam algum tipo de habilidade são convidados para participar de cursos no
Cedet de Rio Preto. Em seguida, um especialista chamado de
"facilitador" passa a frequentar a escola e começa a acompanhar o
aluno, com o objetivo avaliar melhor o estudante e criar um plano individual de
de atividades.
"Esse plano vai depender muito
do que o aluno tem interesse. Se ele disser que ele tem facilidade em
matemática, começamos a filtrar o que ele gosta. Alguns dizem que querem saber
o que é álgebra, o que é raiz quadrada (antes dele ver isso na escola)",
diz Carla Cristina Pereira Job, coordenadora do Cedet.
O lado emocional é outro ponto que
também é trabalhado no Cedet. Segundo os especialistas, é comum crianças com
altas habilidades ficarem dispersas em aulas de disciplinas que elas dominam.
Definição
Segundo a psicóloga Denise Arantes
Brero, de 39 anos, crianças com altas habilidades são pessoas que se destacam em relação
aos seus pares de idade. "Se destacam pela sua inteligência acima da
média, além da criatividade e motivação. Pode ser uma combinação de áreas ou
apenas uma", conta.
Existem duas formas de identificar se
uma criança é ou não diferenciada. Além do critério pedagógico, que é aplicado
no Cedet, existe também o teste do Quociente de Inteligência (QI). "Temos
um critério de avaliação psicológica, que observa dados qualitativos e
quantitativos, onde fazemos entrevistas, com testes voltados a inteligência,
criatividade e motivação. Na escola, o professor também apresenta instrumentos
para identificação, reconhecendo tanto pela avaliação pedagógica como pela
psicológica" afirma.
Carina Alexandra Rondini, professora
no Departamento de Ciência da Computação e Estatística da Unesp de Rio Preto,
conta que já existe uma resolução que define o aluno de altas habilidades, como
aquele que apresenta grande conhecimento, seja intelectual, de liderança,
psicomotora, artes ou criatividade.
"Não temos o costume de dar o
nome de superdotado. Vai mais prejudicar do que ajudar. Assim como os alunos
com deficiência e autismo, as crianças com altas habilidades fazem parte de
educação especial. Quando vamos nomear 'você é superdotado', muitas vezes esse
aluno acaba sofrendo preconceito, pois pensa que precisa se dar bem em todas
disciplinas. Isso é um mito. O aluno com altas habilidades nem sempre é quem
tem um Quociente de Inteligência (QI) elevado. Ele pode ser um excelente
jogador de futebol, por exemplo."
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