Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Autismo Leve, Síndrome de Asperger ou Superdotação/Altas Habilidades? Meu nome é citado, neste artigo, como referência bilbiográfica e fonte.



Texto de autoria de Maria Claudia Brito, Fonoaudióloga, Pós-Doutora e Doutora (PhD) em Educação, Mestre em Psicologia (todos com ênfase em Autismo), UNESP/SP. Professora Universitária, Pesquisadora do CNPq/SET-A em Autismo e Linguagem e do Grupo de Pesquisa CNPq Diferença, Desvio e Estigma, UNESP/SP. Diretora do Instituto Nacional Saber Autismo.

Por Drª Maria Claudia Brito. Habilidades surpreendentes de memorização, atenção prodigiosa a detalhes, vocabulário diferenciado, fala com plurais rigorosamente corretos aparentemente rebuscada para a idade e a escolaridade, habilidades precoces de leitura, sendo capaz de ler livros inteiros em pouco tempo, intenso interesse por números e assuntos não habituais para a idade.

Autismo Leve, Síndrome de Asperger ou Superdotação/Altas Habilidades?

Neste texto pretendo chamar atenção para o fato de algumas crianças com Autismo Leve/Síndrome de Asperger demorarem para receber o atendimento adequado, pelo fato de apresentarem determinadas características, como habilidades precoces de leitura e incomum interesse por números e letras. Neste cenário algumas vezes suas dificuldades podem ficar minimizadas ou despercebidas por mais tempo.

Habilidades surpreendentes de memorização, atenção prodigiosa a detalhes, vocabulário diferenciado, fala com plurais rigorosamente corretos aparentemente rebuscada para a idade e a escolaridade, habilidades precoces de leitura, sendo capaz de ler livros inteiros em pouco tempo, intenso interesse por números e assuntos não habituais para a idade.

Você conhece alguma criança com menos de cinco que apresenta características parecidas?

Muitas vezes conversei com familiares e professores que ao ter diante de si uma criança com tais características, levantaram como primeira hipótese Altas Habilidades/ Superdotação (AH/SD).

Poderia ser o caso, mas na maioria das vezes o que observei em minha prática clínica foram outros aspectos importantes no desenvolvimento da criança, que caracterizavam um transtorno do espectro do autismo.

Provavelmente, o fato de em minhas experiências o desenrolar dessas histórias culminar em espectro do autismo e não em AH/SD, está relacionado ao fato de estas crianças chegarem a mim em função de suas dificuldades em aspectos da linguagem oral e/ou escrita, paralelas à precocidade em algumas habilidades.

Comumente suas histórias trazem relatos como: “Ele lê muito bem, mas não consegue explicar o que leu”. “Ele tem um vocabulário muito avançado para a idade, mas não compreende algumas perguntas e solicitações simples que outras crianças da mesma idade costumam compreender”.

Atualmente o DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2013) descreve tais casos como transtorno do espectro do autismo, mais specificamente nesses casos, o Autismo Leve (Nível 1). Anteriormente à atualização do DMV 5 em 2013, estes casos eram conhecidos como síndrome de Asperger ou Transtorno de Asperger.

A confusão com a superdotação pode ocorrer porque, tanto as crianças com autismo/síndrome de Asperger, quanto as crianças superdotadas podem demonstrar interesse bem precoce por letras e números, sendo que as crianças com síndrome de Asperger podem muitas vezes apreder a ler sozinhas com 2 ou 3 anos sem instrução formal (hiperlexia). Contudo, além das altas habilidades demonstradas por algumas crianças que apresentam a Síndrome de Asperger, habitualmente são observadas determinadas dificuldades como: dificuldades motoras com a grafia (letra considerada bem feia) e ou interpretação de textos (Hakim), maiores dificuldades de mudança de rotina e de contato social, ausência de compreensão de abstrações, estereotipias (Neihart, 2000) e dificuldades com o uso funcional e social da linguagem (Brito, 2011).

Dificuldades no desenvolvimento da linguagem trazem algumas destas crianças ao consultório fonoaudiológico, mas algumas vezes, infelizmente isso não ocorre por ainda ser comum a ideia de que problemas de comunicação estão restritos ao “não falar” (ausência total de fala) ou ”ao falar errado” (trocas de sons nas palavras, por exemplo: “matato” ao invés de “macaco”). Este tipo de crença aliada ao fato de essas crianças apresentarem determinadas “ilhas de habilidades” ou “hiperfoco” estão muitas vezes associados à demora em buscar auxílio específico.

Deve-se estar atento quando uma criança fala aparentemente muito bem, com precisão fonético-fonológica, mas o conteúdo causa alguma estranheza aos pais, como por exemplo, ficar repetindo uma mesma frase em momentos em que não há relação desta com o contexto (ecolalias e falas descontextualizadas), dificuldades para contar fatos cotidianos ocorridos na escola ao passo que a mesma criança consegue reproduzir um longo texto lido em um livro com riqueza de detalhes. As dificuldades específicas na comunicação social são aspectos bastante relevantes nesta diferenciação, pois são indicativos do transtorno do espectro do autismo e não são comuns a crianças com superdotação. Crianças com síndrome de Asperger podem apresentar ainda dificuldades na compreensão de mensagens por meio do tom de voz, de gestos ou ironias, que tem implicações em suas habilidades sociais.
Segundo Hakim, as crianças superdotadas podem eventualmente sofrer de problemas no ajustamento socioemocional. Uma vez que o desenvolvimento das capacidades mentais e intelectuais encontra-se muito acentuado, e incompatível com os pares da mesma idade, é comum que o superdotado tenha prejuízos na interação social, devido à dificuldade em compartilhar os mesmos interesses, entre outros aspectos. Assim, crianças com AH/SD também necessitam ficar sozinhas, algumas vezes, para buscar seus interesses e desenvolver alguma atividade que requer afastamento, mas isto não significa um isolamento total ou déficit na cognição social.

Portanto quando crianças com altas habilidades/superdotação necessitam de apoio especial para garantir sua efetiva inclusão e oportunidades de desenvolver plenamente suas habilidades, este suporte é bastante distinto daquele que uma criança com síndrome de Asperger pode precisar.

Alguns autores descrevem o que é denominado de Dupla Excepcionalidade (Pfeiffer, 2013) em que a criança com síndrome de Asperger/Autismo Leve também apresenta altas habilidades/superdotação.

Nesse contexto temos outra dificuldade. Como aponta Neihart (2000) clinicamente são verificadas dificuldades na realização da identificação de AH/SD em crianças com Síndrome de Asperger, pela fato de muitas vezes esta síndrome estar relacionada à dificuldades pontuais de aprendizagem, ao contrário do que é frequentemente pensado em AH/SD. Assim as oportunidades para desenvolver as altas habilidades de uma criança com síndrome de Asperger também ser subaproveitadas.

Por fim, destaco que o espectro do autismo pode trazer uma ampla gama de características e particularidades que irão interferir diretamente no atendimento terapêutico e educacional que necessita ser oferecido. Este texto, tem como principal objetivo chamar atenção para este fato e para a necessidade de estarmos atentos às particularidades de cada criança para melhor avaliar e planejar práticas que permitam que ela desenvolva-se o mais plenamente possível.

Brito, Maria Claudia. Síndrome de Asperger e educação inclusiva : análise de atitudes sociais e interações sociais. 168 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual Paulista, UNESP/SP, Brasil. 2011.

Castles A, Crichton A, Prior M. Developmental dissociations between lexical reading and comprehension: evidence from two cases of hiperlexia. Cortex. 2010;46(10):1238-47.      

Fleith DS. Altas habilidades e desenvolvimento socioemocional. In: Fleith DS, Alencar EMLS, eds. Desenvolvimento de talentos e altas habilidades: orientação a pais e professores. Porto Alegre: Artmed; 2007. p.41-50.

Hakim, Claudia: maedecriançassuperdotadas.blogspot.com.br.

Neihart M. Gifted children with Asperger's syndrome. Gifted Child Quarterly. 2000;44(4): 222-30.

Pfeiffer SI. Serving the gifted: evidence-based clinical and psychoeducational practice. New York: Routledge; 2013.

Maria Claudia Brito

Fonoaudióloga, Pós-Doutora e Doutora (PhD) em Educação, Mestre em Psicologia (todos com ênfase em Autismo), UNESP/SP. Professora Universitária, Pesquisadora do CNPq/SET-A em Autismo, Robótica e Linguagem e do Grupo de Pesquisa CNPq Diferença, Desvio e Estigma, UNESP/SP. Diretora do Instituto Nacional Saber Autismo.

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