Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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quarta-feira, 22 de junho de 2016

Ex-vendedor de jornal, aluno de medicina é campeão de biblioteca


Pra mim, ele é um exemplo de um superdotado e história de superdotação : 


(...) Depoimento a MARCELO TOLEDO

DE RIBEIRÃO PRETO

22/06/2016  02h00

RESUMO Fernando Henrique Dias Morais, 23, foi premiado pela Famerp, de São José do Rio Preto, por ser campeão em retirada de livros da biblioteca: 126 no ano passado inteiro. De família carente, vendia jornais em semáforos para pagar o cursinho, despreza a internet nos estudos e está no segundo ano de medicina.

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Desde os primeiros anos na escola eu já tinha muito interesse por livros. Quando cheguei ao cursinho isso só aumentou, pois incluí as leituras obrigatórias do vestibular, além do que já fazia no meu dia a dia.

Na época do cursinho, trabalhava vendendo jornal nos semáforos e, no intervalo das vendas, quando o sinal estava aberto para os carros, eu aproveitava para ler o jornal e me atualizar.

Sempre aproveitei esse meio tempo para ler. Aliás, qualquer tempo eu aproveito. Lia durante o dia e lia no caminho para o cursinho, além de ler muito em casa.

Hoje, na faculdade, faço um percurso de uma hora de ônibus e tenho duas horas para ler, contando a volta para casa. Nada me atrapalha, nem conversas paralelas ou lombadas nas ruas. Aproveito para ler tanto para algum trabalho exigido pelos professores ou assunto do meu interesse na área da saúde.

Na biblioteca da Famerp [Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, instituição pública mantida pelo governo de São Paulo] praticamente só há livros técnicos ou revistas de saúde. Busco nas revistas matérias sobre hematologia e oncologia e, às vezes, retiro um livro apenas para consultar dois ou três capítulos para um trabalho específico ou uma prova. Mas muitos eu pego e leio inteiro.

Sempre preferi os livros, não consigo ler algo no computador, numa tela. Tenho necessidade de pegar o livro e folhear as páginas, descobrir o encadeamento das ações. Fora a confiabilidade, pois é bem complicado achar algo confiável na internet.

DOMÉSTICA E PORTEIRO

Mas o caminho até aqui foi complicado. De família com dificuldades, no ensino médio eu nem pensava em faculdade. Estudei em escola pública a vida toda e, para gente na minha situação, o objetivo era no máximo acabar o ensino médio, pegar o diploma e procurar algum serviço. Não tinha o pensamento de prosseguir com os estudos.

Vendendo jornais eu ganhava um fixo mais bonificação, dava uns R$ 630 por mês. Era no limite para estudar, porque fazia cursinho à noite, que era mais barato, e pagava R$ 400. O que sobrava eu ajudava minha mãe a pagar as contas de casa.

Minha mãe era empregada doméstica, mas engravidou da minha irmãzinha e o patrão não quis aceitar que ela voltasse, demitindo-a depois de sete anos. Meu padrasto era porteiro e foi demitido com a crise no país. Agora, para se manterem, minha mãe faz pães em casa e ele sai para vender.

Só fui pensar em vestibular no dia em que uma equipe da Unesp passou na sala de aula para falar disso. Nem sabia que existia a Famerp em Rio Preto. Foi a partir daí que surgiu o interesse, mas não sabia o que queria fazer. Prestar medicina era algo impossível, nem olhava para o curso. Parecia uma coisa tão distante, pensava que jamais daria.

Comecei a prestar exatas e também cheguei a cursar um ano de engenharia mecatrônica na USP de São Carlos, mas parei, porque não era o que eu queria.
O cenário, que já era apertado, piorou ao voltar para casa. Estava sem saber o que prestar e sem o emprego que tinha antes nos semáforos. Mas tive uma oportunidade de ouro. A diretora do cursinho sabia da minha situação econômica e me deu uma bolsa de estudos. A mensalidade era de R$ 600, era impossível para eu pagar.

NOME NA LISTA

Quando passei no vestibular, logo na primeira vez que tentei, não acreditei. Na verdade, só fui acreditar quando estava na sala de aula e a professora chamou meu nome na lista. É impossível, está errado, vão me tirar daqui, eu pensava. Só depois disso comemorei que passei. Até cair a ficha é demorado, inacreditável, chega a ser impossível.

As condições continuam difíceis, principalmente por causa da situação familiar, mas estou em busca de um sonho. Consegui na Famerp uma bolsa permanência de R$ 100 e deram passe livre para eu me alimentar no refeitório do Hospital de Base, o que me ajuda muito. A leitura me ajudou a chegar até aqui, e pode me ajudar muito ainda. O prêmio que recebi foi consequência.

Não tenho muita noção da área que vou seguir, mas gosto bastante da clínica médica, de tratar o paciente olho no olho. A medicina tem de ter cuidado com o paciente, cuidar da pessoa, salvar vidas. A melhor forma de fazer isso é tendo contato maior com o paciente. 


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