Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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domingo, 26 de abril de 2015

A história de Melissa - uma menina que apresenta a Síndrome de Asperger

Extraído do site : http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/605182/a-historia-de-melissa-e-suas-grandes-conquistas

Aos 10 anos, a menina apresenta grande progresso ao se expressar



André Moraes

Durante a aprendizagem da fala, muitas crianças apresentam alguns erros, que ao longo dos anos são corrigidos. Quem nunca lembrou do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, quando uma criança troca a letra R pela L? A menina Melissa Vieira Garcia, de 10 anos, era assim. Ela só começou a falar realmente com 2 anos e meio, influenciada por uma doença que nos últimos anos vem sendo mais conhecida e discutida, a Síndrome de Aspenger. Trata-se de uma alteração neurocomportamental aliada ao autismo. Pelo fato dos portadores dessa síndrome não apresentarem os sintomas mais extremos do autismo - quando a relação com outras pessoas fica totalmente prejudicada, já que os autistas em casos mais graves acabam por viver somente em seus mundos particulares - a Asperger ficou conhecida como um autismo mais leve, moderado.

A mãe de Melissa, a professora Gilsimara Costa Vieira Garcia, 50 anos, passou a perceber que a menina era diferente das outras crianças logo cedo, quando ela não reagia à sua fala e de familiares. "Eu cheguei até a achar que ela era surda, porque eu a chamava e ela nem ligava. E essa é uma das primeiras coisas que os pais de autistas pensam quando ainda não sabem da doença", declara. Melissa também começou a engatinhar e andar bem tarde, e quando começou a andar, fazia movimentos típicos de autistas, como girar as mãos de maneira bem peculiar. Por isso tudo, Gilsimara começou a desconfiar e procurou os profissionais adequados para ajudá-la, como psicóloga e fonoaudióloga, que pode ajudar crianças autistas a saber como se comunicar com as outras pessoas e também corrigir erros fonéticos.

A ajuda

A fonoaudióloga Isabel Amary foi a escolhida pela família para ajudar Melissa, que apresentava uma fala enrolada e cheia de trocas fonéticas. Apesar de ser autista, Melissa não tinha restrições em se relacionar com as pessoas, conta Isabel. "Ela falava oi para todo mundo que estava na recepção, mas começava a falar do desenho que ela gostava. Ela não estava preocupada com a comunicação social, de "oi, tudo bem?", e sim em falar dela, das coisas dela. Isso a gente começou a trabalhar", declara a fonoaudióloga. 

Além disso, Melissa não conseguia falar de si mesma em primeira pessoa. "Ela não se via, ela falava "a Melissa quer, a Melissa vai", então começamos a lidar com essa questão do autorreconhecimento. Como ela repetia tudo o que a gente falava, eu dizia "Eu, Melissa, quero; eu, Melissa, vou" e ela repetia. Fazia isso em frente ao espelho também", afirma.

Tudo isso ajudou Melissa a se expressar adequadamente diante de cada situação. Isabel conta que trabalhou bastante as emoções, para que a menina entendesse qual seria a reação adequada para quando ela estivesse triste ou feliz, por exemplo, para ajudá-la a melhorar cada vez mais sua interação social. "Eu fazia com que ela repetisse algumas reações, mas também pensando em fazê-la entender o que cada uma delas significava", relata.

Diagnóstico é fundamental e nem sempre fácil de alcançar

Melissa chegou até Isabel quando tinha 3 anos, ainda sem um diagnóstico de Síndrome de Aspenger fechado, e hoje com 10 anos convive bem com suas dificuldades, enquanto se mostra como uma menina bastante criativa, inteligente e muito carismática. 

Foi com a ajuda de Isabel que Gilsimara conseguiu descobrir que a filha possuía a síndrome. Quando chegou até a fonoaudióloga, a professora ficava intrigada, pois já sabia que Melissa poderia ser autista, mas percebia que ela era um pouco diferente daqueles casos mais severos que via na televisão, em que o autista não se comunica com as pessoas e pode chegar até a ser agressivo. Isabel começou a estudar o caso de Melissa e se deparou com a Síndrome de Asperger, que foi descoberta pelo psiquiatra alemão Hans Asperger, que fazia muitos estudos sobre o autismo e percebeu a diferença em relação às pessoas que tinham a doença, mas mesmo assim conseguiam se desenvolver melhor socialmente e intelectualmente. Isabel foi a congressos internacionais e ajudou a fechar o diagnóstico de Melissa, depois de todo o conhecimento adquirido. 

De acordo com a fonoaudióloga, as pessoas com Asperger têm alguns comportamentos relacionados ao autismo, como o comportamento social afetado, os movimentos repetitivos, a fala diferenciada, porém eles conseguem se desenvolver melhor, caso os estímulos sejam feitos desde cedo, como foi no caso de Melissa. Ao mesmo tempo em que aqueles que possuem a síndrome enfrentam dificuldades no relacionamento social, eles têm um intelecto muito desenvolvido, podendo ser até gênios em determinados assuntos. 

Para exemplificar isso, Isabel cita que o físico Albert Einstein, o músico Wolfgang Amadeus Mozart e o fundador da Microsoft, Bill Gates, tinham Asperger - além deles há também o ator Keanu Reeves e o cineasta Woody Allen, bastante prestigiados em sua respectivas áreas de atuação. "A alteração, então, está no comportamento. Do mesmo jeito que ele tem esse QI superelevado, além de falar muito bem de assuntos como robótica, eles dominam assuntos de ciência, computação, falam várias línguas, fazem faculdade, mestrado, doutorado, são até professores. O que há é um comportamento alterado", explica.

Criatividade

No caso de Melissa, ela se dá muito bem com sua criatividade. Nas sessões da fonoaudióloga, a menina libera sua imaginação e cria diversas histórias, além de fazer lindos desenhos. Ela também se desenvolve bem na música, principalmente em instrumentos de percussão que toca no Projeto Guri, programa de educação musical oferecido gratuitamente a crianças no horário do contraturno escolar, em parceria com o governo do Estado de São Paulo. E Melissa faz ainda aulas de ballet, demonstrando bastante disposição para ser uma bailarina cada vez melhor.

Melissa também demonstra facilidades nas questões tecnológicas. Gilsimara conta, aos risos, quando recebeu uma conta muito cara da televisão a cabo, por conta do desbloqueamento de diversos canais que não estavam originalmente em seu pacote. Depois ela descobriu que Melissa havia conseguido fazer tudo isso sozinha, em uma de suas estripulias. "Eu falei que minha filha tinha feito isso ao atendente da empresa de TV e ele disse: "Uma criança não consegue fazer isso." E eu respondi que ele não conhecia a filha que tenho", diz. "Comigo tudo é possível", ressalta Melissa, aos risos.

Foi também com essa habilidade que Melissa criou, aos 8 anos, o Blog da Melissa, uma página no Facebook. Hoje Gilsimara utiliza, juntamente com a filha, a ferramenta como uma espécie de diário da menina, além de mostrar aos pais de autistas que é possível que a criança tenha uma boa qualidade de vida, caso seja estimulada desde cedo a se relacionar com as outras pessoas e fazer diversas atividades, para que descubra e desenvolva os seus talentos. 


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