Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Alunos dão show de criatividade e inteligência em núcleo de "superdotados" em Campo Grande no Mato Grosso do Sul



“Mas dentro de si ainda guardavam um amor vivido que, contudo, não deixou de ser só mais uma foto queimada. Um contato excluído. Um presente jogado fora. Uma página virada.” O trecho faz parte de um texto assinado por Sarah Santos. A adolescente de 16 anos, moradora de Campo Grande, além de gostar de teatro, tem uma incrível facilidade para a escrita.

A garota, que estuda na Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado, no bairro Amabai, é mais uma aluna atendida pelo NAAHS (Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação).

Gosta tanto das palavras que mantem uma página do Facebook, a Versifique-me, e está trabalhando em um livro que vai se chamar “Lado B”. A estória se passa no futuro, depois da Copa do Mundo, em 2015. “Parece clichê, mas não é. É sobre uma menina, estudante de Ciências Sociais, que se envolve com um rapaz, filho de um político”.

O romance é só uma desculpa para falar do descontentamento dos brasileiros e dos problemas enfrentados pelo país. O interesse pela escrita surgiu cedo, aos 7 anos. Não foi herança de família, porque os pais, conta, nunca se interessaram por isso. Ela, ao contrário, sempre gostou de escrever e é uma leitora voraz.

Um dos últimos livros escolhidos para ficar na cabeceira da cama, o “Jornalismo para Iniciantes”, de 300 páginas, foi “devorado” em menos de 10 horas. “Tenho lido bastante, mais sobre geopolítica porque estou me preparando para o Enem”, conta.

Sarah quer ser jornalista e, no exercício da profissão, pretende trabalhar com temas sociais, mas isso são planos para daqui a alguns anos. Ela ainda não terminou o terceiro ano. O ensino regular está sendo cumprido, mas a adolescente está bem à frente de seus colegas de sala.

A entidade, vinculado à SED (Secretaria de Estado de Educação), na Coordenadoria de Educação Especial, atende escolas estaduais e particulares (quando solicitada) para identificar alunos com indicativos de altas habilidades e garantir a eles o atendimento educacional especializado, previso no artigo 208, inciso IV, da Constituição Federal e no artigo 4 da LDBEN (Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de 1996.

Sarah passou a frequentar o núcleo, para aulas de comunicação e artes, no começo de 2012, depois de ser indicada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), onde desenvolveu um projeto de iniciação científica, na área de linguística, para estudar a linguagem usada na internet.

O interesse pela pesquisa em uma área específica foi um indicativo para o atendimento especializado, mas isso não foi suficiente. A estudante foi avaliada por uma equipe da Secretaria de Educação e precisou passar por vários processos (incluindo uma entrevista com a família) antes de ser considerada uma garota com altas habilidades.

Processo - Essa “avaliação psicopedagógica, qualitativa e processual” demora de 3 a 4 meses para ser concluída. A explicação é da coordenadora do NAAHS, Graziela Cristina Jara Pegolo dos Santos.

“Não é um teste que define. É uma observação de comportamento e características”, esclarece. O trabalho leva em conta a capacidade intelectual geral, de liderança, psicomotora, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo ou produtivo e talento especial para artes”.

Essa identificação depende, acima de tudo, do professor. Nem sempre o aluno do fundão, que se distrai no meio da aula, não quer nada com nada. Às vezes é alguém que aprende com extrema facilidade e está à frente dos colegas.

O problema é que nem todo profissional, pontua a coordenadora, está preparado para lidar com isso. Alguns se sentem, inclusive, ameaçados. “Hoje nosso maior problema é a falta de conhecimento na área”, diz.
Isso significa que o aluno que chega ao NAAHS é, de certa forma, um privilegiado porque alguém o enxergou. Hoje, o núcleo, criado em 2006, atende 57 estudantes, com idades que variam entre 6 a 17 anos.

Eles frequentam o local, no contra turno escolar, para o chamado AEE (Atendimento EducaçãoEspecializado). Em Campo Grande, o núcleo, que fica na rua 13 de maio, conta com quatro professores que se dividem para aulas de biologia, física, química, matemática, português, música, teatro, entre outras.

Os alunos estudam as áreas que mais se identificam. Tem gente, exemplifica a coordenadora, que gosta de pesquisar sobre a chuva, enquanto outros preferem os planetas. “Aqui nos os estimulamos”, afirma.


Fios viram arte na mão do estudante.
Fios viram arte na mão do estudante.


Lennox aprendeu a tocar com um professor do núcleo e hoje ja faz as próprias composições.

Lennox aprendeu a tocar com um professor do núcleo e hoje ja faz as próprias composições.


Entre a música e os bonecos - Lennox de Oliveira Rodrigues, de 15 anos, prefere biologia evolutiva, mas também faz aulas de música e artes. Ele aprendeu a tocar teclado com um professor do NAAHS e hoje já faz as próprias composições.

Na visita do Lado B, o garoto tocou “Una Mattina”, do pianista italiano Ludovico Einaudi e, na sequência, apresentou uma autoral, a “Luna”. “É inspirada na lua, na noite,” comenta. Antes disso mostrou o que mais gosta de fazer: bonecos de fios.

A matéria-prima principal são fios de telefone, de cabeamento de internet que, nas mãos dele, se transformam em samurais, dragões e gueixas.

“Eu prefiro mais a arte oriental”, diz. Mas os temas religiosos também o inspiram. Os bonecos são vestidos com tecidos e pedaços de papelão.

O “dom” foi descoberto na infância, aos oito anos. “Tinha alguns fios em casa. Eu peguei e comecei a formar algumas coisas até chegar a um formato humano”.

Filho de um auxiliar administrativo e de uma auxiliar de serviços gerais, Lennox foi “descoberto” quando cursava a 7ª série na Escola Estadual Padre João Greiner, que fica no Estrela do Sul, bairro onde mora.

Ele nunca imaginou que pudesse ser considerado um adolescente prodígio, com altas habilidades, mas percebia que era “diferente”.

“Estava sempre na frente. Tenho muita facilidade com português, literatura, história e geografia”, relata, ao comentar que a média, na maioria das vezes, é dez.


A facilidade em aprender é uma vantagem e tanto, mas também traz um problema, afirma Lennox, que hoje cursa o primeiro ano na Escola Estadual Arthur de Vasconcelos Dias. “Alguns alunos me olham de longe e tem gente que tem medo de dizer alguma coisa perto de mim por medo de eu corrigir. Não sei de onde veio, mas construí uma fama de sabichão”.


CONTATO DO NAAHS DE CAMPO GRANDE / MS :

Prof.ª Graziela Cristina Jara - Coordenadora

Fones: (67) 3314-1269/9291-2634/ 3385-8455 (res)

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