Estudante de pedagogia diz que
não quer que filho seja aprovado sem saber.
Direção de escola em Cuiabá alega que retenção não está prevista pelo ciclo.
Pollyana AraújoDo G1 MT
Entrada da Escola Estadual Malik
Didier (Foto: Jonathan Cosme/ TV Centro América)
Didier (Foto: Jonathan Cosme/ TV Centro América)
Frequentar
a escola regularmente para aprender a ler e a escrever não tem dado certo para
um dos alunos da Escola Estadual Malik Didier Namer Zahafi, no Bairro Pedra 90,
em Cuiabá. Uma estudante de pedagogia,
mãe de um aluno de 10 anos, disse ter implorado para a direção da unidade de
ensino reprová-lo. O menino está no quinto ano do 'Ciclo de Formação Humana',
que corresponde à quarta série do ensino fundamental, mas não sabe ler, nem
escrever.
"Ele
só sabe copiar do quadro, então acho melhor retê-lo do que aprová-lo sem que
ele apresente condições para isso", disse ao G1. Ela afirmou
ter exposto a situação durante reunião realizada recentemente entre a
assessoria pedagógica da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e pais de
alunos, mas a resposta foi que não poderiam retê-lo, pois o sistema de ensino
não permite. "Eles [direção da escola] dizem que ele [filho] aprenderá no
tempo dele, mas não acho normal. O que será do futuro do país?",
questionou.
Ela
trabalha na escola onde o filho estuda na função de auxiliar de limpeza e,
segundo ela, esse não é um problema apenas do seu filho. "Tem muitos
alunos em situação pior ainda, porque já estão no 7º ano e não sabem ler, nem
escrever", disse. Ela contou que o filho só consegue escrever se estiver
copiando do quadro, mas não consegue entender o que escreve. É como se
estivesse desenhando. O garoto é filho único.
A
escola em que ele estuda obteve a menor média no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) de 2012 em Mato Grosso. A unidade foi fundada há 22
anos e até 2011 só oferecia a Educação para Jovens e Adultos (EJA) como
modalidade de ensino.
O
secretário da unidade de ensino, José Carlos Oliveira, afirmou ao G1 que
o sistema de ciclos determina que o aluno não pode ser retido. "Ocorre que
nas escolas 'cicladas', independentemente do aluno saber ou não, ele não pode
ser retido, porque também existe a questão de idade e série", disse. Ele
deu como exemplo um caso que ocorreu no ano passado, quando a escola recebeu um
aluno da rede municipal que tinha 13 anos e fazia a 4ª série, mas a escola não
pôde matriculá-lo nessa série e o 'elevou' à 8ª série.
"É
culpa do sistema, porque a escola não faz milagres. Por mais que tenhamos
vontade de ajudar o aluno, ele pulou as fases de aprendizagem", afirmou.
Ele disse ter tirado dúvidas com a Seduc quanto à questão desse aluno,
especificamente, e a resposta que recebeu foi de que tinha que seguir o
sistema. "Em alguns casos, a culpa também é da família. Tem casos em que o
aluno não é matriculado no tempo certo e, quando o Conselho Tutelar descobre,
obriga os pais a colocá-lo na escola, mas às vezes causa um desequilíbrio
psicológico no aluno ao ver que os colegas mais novos sabem mais do que
ele", avaliou Oliveira.
Ele
citou a média obtida pela Malik Didier no Enem, em 2012, como resultado desse
método de ensino. Explicou que, dos 21 alunos que fizeram o Exame, 20 eram da
Educação para Jovens e Adultos (EJA), que também não reprova os alunos.
"São alunos que passaram 20 anos sem estudar e concluíram o ensino médio
em um ano e se saíram mal, até porque a EJA não reprova", disse. Segundo
ele, o sistema exige somente que o aluno tenha 75% de presença para ser
aprovado. "Isso é ruim para as escolas. Em São Paulo tinha esse tipo de
ensino e foi revogado", comentou.
Para
a coordenadora de Ensino Fundamental da Seduc, Aparecida de Paula, a situação
do menino é delicada, mas não é permitida a retenção de nenhum aluno até o
final do terceiro ciclo e ele está no segundo ciclo. "O normal é que a
criança aprenda no processo de aprendizagem, mas a questão de ficar retido não
está prevista no ciclo", afirmou. Conforme a coordenadora, a política da
não-reprovação tem o intuito de fortalecer o trabalho pedagógico, mas que
dependendo da situação de cada aluno é designado um professor para
acompanhá-lo.
Ela
avalia que a capacidade cognitiva varia entre os alunos. "Está prevista
uma compreensão cognitiva das crianças. Se a criança está no ciclo, ela não
precisa ficar retida, porque cada uma tem a capacidade cognitiva a seu
tempo", argumentou. "Se uma criança de seis anos estiver à frente das
demais, não precisa ficar amarrada aos colegas de seis anos."
Meus comentários :
Concordo com a mãe deste aluno. E acredito que o aluno tem direito ao acesso ao ensino, segundo a sua capacidade. Está escrito na nossa Constituição Federal. E esta capacidade tem que valer tanto para os mais capacitados, quanto para os que ainda não tem esta capacidade de ascender no ensino. O problema de nosso ensino é esta sistematização, em que coloca todo mundo na mesma panela, e que adota como critério único a idade.
A solução para esta mãe e todos aqueles que se encontrar nesta situação é contratar um advogado que atue na área do Direito de Educação, para entrar com uma ação judicial para demonstrar que a capacidade deste aluno está aquém ao que é exigido pela escola e, se possível documentar isto, através de uma avaliação psicopedagógica e solicitar ao juiz que autorize a matrícula em série inferior a que ele está sendo obrigado a ser matriculado, mas, segundo a sua capacidade.
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