Fonte : http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/inclusao-superdotados-752500.shtml
INCLUSÃO NA ESCOLA
Inclusão de alunos superdotados e com altas
habilidades
Entenda como o aluno pode ser incentivado a
desenvolver cada vez mais o seu talento, sem deixar de se incluir na rotina
escolar e na convivência com os colegas
05/09/2013
Texto Cynthia
Costa
Foto: Maurício Melo
Alunos
superdotados precisam ser desafiados sempre
Incentivo é a
palavra: para uma criança que adora aprender e ser desafiada, a escola tem de
se preparar para estar sempre um passo à frente - o que é bom para ela, para a
criança e para todos os seus colegas. Dois professores por turma e,
principalmente, uma sala de recursos capacitada para desenvolver as mais
diversas facilidades são possíveis ferramentas para acolher alunos com altas
habilidades e superdotação.
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Reportagens especiais sobre como promover a inclusão de crianças especiais nas escolas |
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"Para lidar com esses alunos, é preciso
fundamentar-se teoricamente e focar em seu desenvolvimento humano",
ressalta a professora de artes Maria Zuleide Vieira de Sousa, da Sala de
Recursos - Talentos do Centro de Ensino Médio Elefante Branco, de Brasília (DF),
considerado modelo nesse campo por acolher alunos da própria escola, de outras
instituições públicas e também de colégios particulares.
A formação dos professores de fato fica sob os holofotes diante de estudantes com altas habilidades. "O ideal é que a criança não sinta como se soubesse mais do que o professor", aponta o psicólogo Felipe de Souza, de Juiz de Fora (MG), que fez uma pesquisa sobre o assunto.
Com o auxílio desses profissionais e de materiais especializados do Ministério da Educação, o Educar aborda aqui aspectos importantes da inclusão escolar desses alunos. Veja a seguir.
Para ler, clique nos itens abaixo:
Para entender a
superdotação e as altas habilidades, é preciso lembrar, em primeiro lugar, que
crianças são muito inteligentes e curiosas. Elas só serão consideradas
superdotadas quando apresentarem uma habilidade muito acima da esperada para a
sua idade, ou mesmo um talento único para qualquer idade - pode ser um talento
musical apurado, uma grande facilidade para desenho ou outras artes, uma
raciocínio matemático extremamente rápido etc. Em geral, essa característica é notada
pelos pais e pelos professores. O passo seguinte é encaminhar a criança a um
psicólogo ou psicopedagogo, que, por meio de testes e de um acompanhamento
contínuo por determinado período, fará ou não o diagnóstico de superdotação.
A criança ou o adolescente com superdotação ou
altas habilidades possui, além de um talento e interesse marcante por uma
determinada área, algumas ou muitas das seguintes características: habilidade
para pensamentos abstratos e associativos; grande capacidade de transferir o
aprendizado para situações reais; atitudes colaborativas; grande capacidade de
articulação, síntese e análise de conceitos; tendência à inovação; tendência à
liderança e à organização e estruturação de grupos; capacidade de observar fenômenos;
capacidade de compreender outros pontos de vista; percepção geral apurada. Além
disso, pode apresentar dificuldades como: intolerância e oposição ao meio;
resistência a imposições e à autoridade; não aceitação da superficialidade, da
falta de estrutura e da rotina; dificuldade com situações que considere
enfadonhas.
A ideia de gênio é um tanto mítica: em geral,
ela é usada para definir pessoas que fizeram grandes bens à humanidade ou que,
pelo menos, mudaram o curso da história. Em princípio, crianças que apresentam
superdotação e altas habilidades não são gênios, e esse estigma pode não ser
benéfico a elas. O ideal é considerá-las como indivíduos com facilidades e
talentos específicos e, principalmente, com grande potencial. Se esse potencial
for bem desenvolvido, ele pode, sim, trazer benefícios à sociedade - daí a importância
de incentivar essas crianças com atenção e cuidado.
Segundo o documento "Saberes e Práticas da Inclusão - Desenvolvendo
Competências Para o Atendimento Às Necessidades Educacionais Especiais de
Alunos com Altas Habilidades / Superdotação", do Ministério da
Educação, o professor, paralelamente à família, é o principal responsável pela
percepção de talentos específicos entre os seus alunos, por isso é importante
que fique atento. Só assim poderá encaminhar o aluno com altas habilidades para
a sala de recursos, de modo que as suas competências sejam desenvolvidas e
aproveitadas. Porém, é imprescindível ressaltar que a criança pode apresentar
uma alta habilidade específica - para música, por exemplo - e continuar sendo
uma aluna de desenvolvimento típico nas outras disciplinas. Portanto, o seu
aprendizado deve ser tratado normalmente, com o mesmo incentivo dado a todos os
alunos.
No caso das altas
habilidades e da superdotação, notam-se dois riscos opostos a que a criança
está sujeita: ou a aprovação exagerada, ou a indiferença por parte de pais e
professores. De um lado, há os que elogiam demais, mostrando-se
"maravilhados" e extremamente orgulhosos com o talento da criança; do
outro, os que, depois de alguns ótimos resultados, já consideram o sucesso da
criança esperado e até obrigatório. Essas atitudes extremas são perigosas e
podem inibir a vontade da criança de aprender, ou até mesmo desanimá-la e
afastá-la dos estudos. Lembrando: o desenvolvimento de cada aluno deve ser
medido dele para consigo mesmo, e não em relação a outros. O aluno com altas
habilidades também terá os seus desafios e, no melhor dos cenários, tentará se
superar cada vez mais.
É possível que a criança que apresente
superdotação também tenha outra condição particular, como autismo,
hiperatividade ou alguma deficiência, sem que uma coisa seja relacionada à
outra. É importante não confundi-las, e apenas profissionais - psicólogo, psicopedagogo
e/ou médico - podem fazer os diagnósticos e acompanhamentos corretos. No caso
de dupla excepcionalidade, a inclusão escolar ganha novos contornos, e os pais
devem envolver a escola na questão. Atenta a isso, a escola tem de fazer o
possível para que a criança aprenda e se sinta incluída nas atividades e com os
colegas.
"Assim como alunos com deficiências, o
aluno com superdotação ou altas habilidades também está fora da média - não se
trata de aluno mediano", expõe o psicólogo Felipe de Souza,
doutorando da UFJS. É por isso que, para todos os casos de inclusão, a abertura
da escola às diferenças é essencial. E, em se tratando de altas habilidades,
coordenadores e professores são convidados a um desafio: informar-se e
formar-se cada vez mais, para ficar ao menos um passo à frente do aluno.
"Para trocar conhecimentos com os meus alunos, preciso também me manter
extremamente informada sobre as suas áreas de interesse", confirma a
professora Zuleide. Uma possível ajuda é manter dois professores na classe em
que haja crianças com altas habilidades/superdotação, pois isso evita a
sobrecarga sobre um só profissional.
Para o aluno com altas habilidades, a sala de
recursos é um instrumento essencial, seja ela dentro ou fora de sua escola
regular. É nesse ambiente que ele terá a sua habilidade estimulada e
desenvolvida, e onde dará vazão à grande curiosidade que o caracteriza como
aluno. Ali, ele também não se sentirá obrigado a nada, pois não terá aulas, mas
sim orientações. "Meu trabalho com o aluno parte daquilo que ele já traz,
de um interesse que já tem", explica a professora Maria Zuleide,
completando: "Na sala de recursos, desenvolvemos os seus talentos e
descobrimos outros". Caso a escola de seu filho não disponha de uma sala
de recursos, procure saber com a Secretaria de Educação de sua cidade para onde
ele pode ser encaminhado - em geral, ele irá frequentar a sala de recursos uma
vez por semana, no período do dia oposto ao que ele estiver na aula regular.
A professora de artes Maria Zuleide, que
trabalha na sala de recursos de talentos da CEMEB, de Brasília, ilustra o
trabalho desenvolvido com crianças com altas habilidades com o seguinte
exemplo, em referência a um estudante do Ensino Fundamental I: "Um aluno
que adore desenhar dinossauros, por exemplo. Não basta que ele os desenhe à
perfeição. É importante incentivar o seu desenvolvimento, orientando-o a
pesquisar sobre tudo relacionado a um dinossauro de sua preferência: entender o
seu habitat, como vivia e até a sua extinção". Assim, o conhecimento é
expandido e diversificado e, ao mesmo tempo, a curiosidade e capacidade de
aprendizado do aluno são também satisfeitas.
Na maioria dos casos em que a criança apresenta
superdotação e altas habilidades, o acompanhamento psicológico pode ter um
papel fundamental em sua vida. Com a ajuda de um profissional, ela compreenderá
melhor o seu lugar no mundo, como pode desenvolver as suas habilidades e como
lidar com as pessoas à sua volta. Muitas escolas oferecem esse apoio
psicológico; caso não, os pais podem procurá-lo fora do ambiente escolar.
Ao contrário do mito de que "gênios"
são difíceis, muitas crianças com superdotação e altas habilidades têm
facilidade para lidar com os colegas e até uma tendência à liderança. Por outro
lado, serem estigmatizadas como "geninhos" e/ou elas mesmas se
sentirem acima dos amigos da escola são aspectos que podem dificultar a
convivência, por isso o acompanhamento psicológico e uma atitude atenta por
parte de pais e professores é imprescindível. É sempre bom ressaltar que a
criança com uma determinada facilidade também tem as emoções e a inexperiência
características de sua idade. "Às vezes até os pais se esquecem disso, mas
a criança com altas habilidades também precisa desenvolver passo a passo o seu
aspecto emocional, como qualquer outra pessoa", reforça a professora Maria
Zuleide.
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