A neurociências é muito importante para pais e
professores que lidam diretamente com crianças e adolescentes que apresentam
transtornos na aprendizagem. Seus conceitos são a base para ajudarmos nossos
filhos e alunos, com algum transtorno na aprendizagem, a desenvolver
habilidades, competências e novos conhecimentos pois nos explica como o cérebro
funciona, como estabelece as suas conexões e as suas memórias.
Os nossos sete sentidos, e não cinco como
aprendemos e ensinamos na escola, trabalham em conjunto no processo de
aquisição do conhecimento. As nossas percepções vem da visão, audição,
gustação, olfato, por via tátil, do sistema gravitacional e proprioceptivo.
O que vemos,
ouvimos, cheiramos, provamos, tocamos, as sensações de superfície, todo o
planejamento motor, a capacidade de controlarmos as diferentes partes do corpo,
a elaboração de objetivos, o planejamento da nossa conduta, as estratégias que
usamos para alcançar nossos objetivos, as nossas memórias de curto, médio e
longo prazo e a capacidade de antecipar acontecimentos, dependem das nossas
sinapses cerebrais, da nossa motivação, da atenção, do funcionamento do corpo e
das nossas emoções.
Aprender é um
prazer para o cérebro, tenhamos ou não, algum tipo de transtorno de
aprendizagem. Imaginem a nossa vida diária. Quando temos um problema, e achamos
a solução, isto causa a sensação de prazer.
Sabemos que a
motivação é a gasolina do carro mas ela não é o motor deste. Este motor são as
habilidades e competências que desenvolvemos pela prática e pela estimulação
adequada.
Desta forma, tanto
pais como professores, devem graduar o grau de dificuldade das atividades
apresentadas as crianças e/ou adolescentes pois, se estes conseguem resolver os
problemas, eles entendem o significado daquilo que estão fazendo. Por
consequência, mais vontade eu tenho, mais prazer eu sinto e mais engajado me
torno ativando as minhas conexões cerebrais que vão levar ao aprendizado.
Por outro lado, não
podemos deixar de lado a questão da atenção. Fulano vive no mundo da lua,
parece que ele não ouve nada do que eu falo, se distrai até com uma mosca, não
presta a atenção em nada mas presta a atenção em tudo, viaja na maionese.
Estas são algumas
das expressões que mais ouvimos hoje em dia. Muitas crianças hiperativas na
realidade são crianças desatendidas. Desatendidas no sentido de não ter um
ambiente estruturado que os ajude a superar as suas dificuldades.
Se não levarmos em
conta os conceitos da neurociências, não estimularemos a atenção, concentração,
a capacidade de selecionar adequadamente os estímulos e de separar os aspectos
relevante dos irrelevantes para a execução de uma atividade. Estes aspectos,
sem dúvida, estão presentes na construção do conhecimento e da aprendizagem.
O nosso cérebro é
inimigo da incoerência. O que não tem significado não fica armazenado. A partir
do momento que eu dou um significado para algo, que eu sou capaz de associar
com as minhas experiências anteriores, dou um sentido para aquilo que eu estou
aprendendo, vejo a sua utilidade, eu consigo transformar isto em uma
aprendizagem significativa e passar estas informações para a memória de longo
prazo.
Pense em uma
situação comum que acontece com todos nós. Tenho que dar um recado urgente para
uma amiga e peço o seu número de telefone. Ligo várias vezes e, em cada
tentativa, o telefone está ocupado. Durante este tempo o seu número de telefone
está na minha memória de trabalho e não preciso consultar na agenda. Mas quando
consigo falar com ela e resolvo o meu problema, será que sou capaz de lembrar o
número no dia seguinte. Possivelmente ela vai sair da minha memória de trabalho
e, como o meu problema foi resolvido, não vou me lembrar posteriormente.
Quando aprendemos a
dirigir, tudo parece difícil. Mas com a prática, isto se transforma em uma
coisa tão comum que eu faço os procedimentos automaticamente. Se algo se
atravessa na minha frente, eu freio o carro na hora sem me preocupar com os
passos a fazer pois a prática me tornou competente para fazer isto. Eu usei
estratégias para aprender a dirigir que elas se tornaram automáticas.
O mundo é complexo, dinâmico, cheio de barulhos
e acontecimentos que não ocorrem de forma isolada. O nosso cérebro tem que
filtrar todos estes estímulos para que possamos dar uma resposta adequada ao
contexto em que estamos. Agora imaginem o cérebro de uma criança com TDAH,
Dislexia, Autismo, Síndrome de Asperger, DPAC e outros transtornos que
estanelecem conexões diferentes.
Quando colocamos estes alunos em uma escola que
realiza sempre as mesmas avaliações, os mesmos métodos, as mesmas estratégias,
contribuímos para aquele discurso tradicional: eu ensinei mas se ele não
aprendeu é porque não tem condições ou não tem motivação. Depositamos toda a
culpa nas condições orgânicas da criança e nos fatores psicológicos mas não
paramos para pensar se o nível de dificuldade daquilo que ensinamos é capaz de
disparar o sistema de recompensa cerebral.
Procuramos o que ele não domina e esquecemos do
que ele tem condições de aprender. A
pratica exercita o cérebro. O comportamento dos alunos não é uma coisa isolada.
Ele é o resultado de uma soma de fatores que leva em conta o funcionamento
cerebral, as nossas emoções e os nossos pensamentos, ou seja, ele funciona
junto com o meu corpo.
Quando fazemos algo
que nos dá prazer, o nosso corpo sente e vai levar esta informação para o
cérebro. O mesmo ocorre quando algo é desagradável. Desta forma, da próxima vez
que esta situação eu vou responder com motivação, se a minha experiência
anterior foi agradável, e me recusando a fazer se esta foi desagradável.
Temos que procurar
formas prazerosas de ensinar, valorizar as conquistas mesmo que pequenas,
vibrar com os esforços de nossos filhos e alunos para que o nosso cérebro e o
nosso corpo possam receber sensações prazerosas e formar as nossas memórias.
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