Extraído do site : http://delas.ig.com.br/filhos/2013-07-05/meu-filho-e-muito-inteligente-sera-que-ele-e-superdotado.html
Meu filho é muito inteligente. Será que
ele é superdotado?
Altas habilidades em determinadas áreas e muita facilidade para
aprender alguns assuntos ligam o alerta dos pais. Mas como se comprova a
superdotação e como lidar com a criança?
Raquel Paulino - especial para o iG São Paulo
Desde os primeiros meses de vida, as crianças encantam e
surpreendem a cada descoberta e exibição de novo conhecimento. Cercadas de
estímulos, não é raro demonstrarem uma esperteza que faz os pais acharem que
estão diante de pequenos gênios (“Ele liga o computador sozinho!” ou “Ela sabe
encontrar o álbum de fotos no meu celular!”). Até esse ponto, tanto as ações
infantis quanto as reações adultas são comuns a quase todas as famílias.
Mas algumas vão além. Ainda muito novinhas e antes de parentes e
amiguinhos da mesma idade, falam frases completas, aprendem a ler e a escrever
sozinhas, conseguem fazer contas, tocar um instrumento musical ou identificar
corpos celestes quase sem ajuda externa. É aí que a luz de alerta desses pais
pode acender: será que meu filho é superdotado?
Getty Images
Para comprovar superdotação, é necessário tempo, comprometimento
e paciência para enfrentar todo o processo pelo qual passa o candidato
Para ter certeza – e um laudo que comprove
isso –, é preciso procurar um psicólogo especializado em superdotação ou em
altas habilidades e fazer uma avaliação completa. “A psicoavaliação consiste em
etapas qualitativas, com análise de aspectos emocionais, físicos e de
personalidade, e quantitativas, com testes em habilidades mais específicas. São
necessárias de oito a dez sessões, com intervalo de uma semana entre cada uma,
para chegar a um psicodiagnóstico preciso e poder entregar um relatório aos
pais e à escola”, detalha Luana Santana, psicóloga e mestre em educação e superdotação pela Pontifícia
Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Laudos nas mãos e batalhas pela frente
Ou seja, é necessário tempo, comprometimento e paciência para
enfrentar todo o processo. A pedagoga Daniela Baracat decidiu que vale a pena,
e começou em julho a avaliação de seu filho Gustavo, de nove anos. Apaixonado
por leitura e literatura, o garoto se mostrou mais desenvolvido
intelectualmente que os coleguinhas de escola e, depois de cursar o jardim de
infância, foi colocado na 1ª série do ensino fundamental aos quatro anos. “Eu
me preocupava muito com a maturidade, mas, ao mesmo tempo, ele não queria mais
ir às aulas. Achei melhor seguir o conselho da escola em que ele estava”, diz.
Sua intenção, caso se comprove a superdotação de Gustavo, é
pedir uma bolsa de estudos integral em um colégio da rede particular paulistana
– atualmente, ele estuda na rede pública. “Indo para uma escola forte e
preparada para alunos com alto desempenho, ela se sentirá mais adequado e terá
o acompanhamento necessário”, acredita. “Ele não precisa estudar para tirar
notas altas, mas merece respaldo, porque é uma criança e sofre por estar fora
da média, por causa das provocações dos colegas.”
O que Daniela encarará pelos próximos meses foi vivido pela
advogada Claudia Hakim há algum tempo. E duas vezes: seus dois filhos (D., de
12 anos, e R., de nove – ela prefere preservar os nomes das crianças) são
superdotados, com certificados que confirmam suas aptidões especiais – o que
não a poupou de dores de cabeça.
“Eu era ingênua e achava normal minha filha falar muito bem
desde um ano de idade. Para mim, ela era muito inteligente e só. Quando D. fez
quatro anos, a escola me chamou para dizer que ela poderia ser adiantada um
ano. Fizemos toda a psicoavaliação e recebi o resultado positivo, mas o pedido
de aceleração não foi aceito pela Diretoria de Ensino. Tivemos que preparar um
laudo psicológico e jurídico para matriculá-la na série adequada”, lembra. A
superdotação de R., que também está um ano adiantado, foi confirmada quando ele
tinha cinco anos e meio. “Os dois se adaptaram bem aos colegas mais velhos, têm
amigos e facilidade com o conteúdo. Eles tiveram apoio psicológico e isso
ajudou muito”, afirma.
A delicada relação com as escolas
Por causa dos filhos, Claudia especializou-se no assunto e hoje
ajuda, tanto juridicamente quanto em um grupo no “Mãe de Crianças Superdotadas”
no Facebook, mães de crianças com altas habilidades que encontrem dificuldades
no relacionamento com as escolas. “É uma realidade desgastante. Por não
entender, os colégios muitas vezes questionam os laudos. Os pais têm que
explicar, argumentar. O Brasil não tem políticas públicas que auxiliem esses
alunos, mas eles têm o direito de estar na série que lhes é, comprovadamente,
mais apropriada”, defende.
É fato que a maioria das instituições de ensino leva o
desempenho médio em conta no trato com os alunos. De acordo com o psicólogo
escolar Adriano Gosuen, isso pode fazer um superdotado se sentir excluído.
“Quando se fala em educação especial, o pensamento é voltado para a
deficiência, nunca para a supereficiência. Só que todos que estão fora de uma
certa uniformidade sofrem”, explica. Luana complementa: “Essas crianças não
podem ficar sem apoio. Alguém com capacidade para voar não deve continuar
apenas andando”.
Os especialistas indicam atividades extracurriculares para
suprir o que, nas aulas normais, não corresponde às expectativas da criança em
relação às suas altas habilidades. Gosuen alerta que isso pode não ser tão
simples. “Como elas raramente são previstas no currículo dos colégios, cabe aos
pais encontrá-las e fornecê-las aos filhos, em nome de seu bem-estar.”
Acima de superdotadas, são crianças
Tão importante quanto se preocupar com o desempenho escolar de
superdotados é garantir o direito que eles têm a uma infância normal. “Não se
trata de negar, mas não se deve fazer uma distinção, uma marca por causa da
inteligência”, aconselha Gosuen. “Acima de tudo, são crianças. Superdotados não
são melhores que ninguém, somente são muito bons em um ou alguns aspectos”, diz
Luana.
Claudia lida com seus filhos exatamente dessa maneira. “Faço
questão de deixar claro para os dois que a superdotação é apenas uma boa
característica de uma pessoa e não anula a necessidade de eles serem mais que
isso. Superdotação não é sinônimo de genialidade. E, independentemente disso,
enfatizamos em casa que o lado social também é interessante e importante.”
QI é fundamental?
Durante muito tempo considerado o único indicador confiável de
superdotação, o quociente de inteligência (QI) hoje é tido como um dos itens a
serem avaliados para determinar se uma criança é superdotada ou não. A Teoria
das Inteligências Múltiplas, apresentada pelo psicólogo Howard Gardner na
Universidade de Harvard (EUA) em 1985, uniu a essa medição o reconhecimento de
nove outras habilidades que, se altas, podem determinar superdotação: musical,
lógico-matemática, linguística, interpessoal, intrapessoal,
corporal-cinestésica, espacial, naturalista e existencial.
“Pessoas com QI alto normalmente são superdotadas, assim como
aquelas com QI baixo e pelo menos uma dessas inteligências desenvolvida acima
da média”, esclarece Luana. Com base apenas no QI, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) dá conta de que de 3,5 a 5% da população seja superdotada. “Ou
seja, o número real deve ser bem maior que isso”, finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário