Extraído do site do
Jornal A Folha de SP : http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/1236696-sentimento-de-fracasso.shtml

Há algum tempo
tenho percebido que diversas mães se declaram incompetentes diante de sua
tarefa de educar os filhos. Há também as que se sentem fracassadas
quando percebem que o que elas almejavam para os filhos não se concretizou.
Claro que há pais que se sentem da mesma
maneira, mas minha experiência aponta um número maior de mulheres sofrendo com
esses sentimentos.
Há uma tendência
social de se avaliar a mulher pelo êxito do seu filho, isso desde a mais tenra
idade.
O filho andou precocemente? Já escreve e
identifica o próprio nome escrito em letras aos três anos? Desenha como um
artista? É um dos primeiros alunos da classe? Tem destaque na escolinha de
futebol? Entrou na faculdade considerada top?
Ah! Mães com filhos que realizam tais feitos
costumam ser avaliadas como boas mães. Elas souberam o que fazer e como fazer
para que os filhos atingissem tais feitos costumam considerar as pessoas com quem
essas mães convivem.
Já se o filho não fala corretamente, faz birra
em público, não gosta de estudar, dá trabalho para comer, repete o ano escolar
e é desobediente, coitadas dessas mães! Não sabem como exercer bem o seu papel,
pensam outras pessoas, sem disfarçar os olhares reprovadores. E, então, indicam
profissionais para acompanhamento da criança, literatura especializada,
revistas e programas de TV que certamente irão ajudar a pobre mãe. Até a escola
costuma fazer orientações para pais.
Você deve ter
percebido, caro leitor, que ser mãe ou pai na atualidade ganhou um caráter
quase profissional.
Há uma infinidade
de recursos disponíveis, hoje, para mulheres e homens que queiram realizar bem
sua tarefa com os filhos. Não estranharei se, em breve, for criado um
curso de pós-graduação lato sensu sobre educação de filhos.
Sim, porque até
agora os cursos tratam de alunos, papel social muito diferente do de filhos,
não é?
Dá, portanto, para
começar a entender o sentimento dessas mães. Elas não se sentem especialistas
em maternidade. E perseguem o tempo todo uma fórmula para dar conta do que
acham que precisam dar conta.
O que elas esquecem
nessa empreitada é que os filhos ficam diferentes a cada dia. E é
justamente por isso que a maioria das atitudes que tomam com as crianças ou os
adolescentes tem eficácia de curto tempo. E elas pensam que o que fizeram não
deu certo. Deu, mas apenas por pouco tempo.
Se as mães e os
pais escutarem atentamente os filhos e tiverem com eles um vínculo de
proximidade, irão perceber a hora de mudar de estratégia. Eles,
os filhos, dão os sinais.
Outra coisa que
mães e pais precisam considerar é que as crianças do século 21 não seguem mais
padrões de desenvolvimento. Cada um vive em um ambiente específico, tem
um tipo de relação com os pais e, por isso, serão bem diferentes de seus pares
de mesma idade. Comparar os filhos no mundo da diversidade não é, com certeza,
uma boa escolha!
Mães e pais não
devem se sentir fracassados ou incompetentes, pois os filhos precisam
justamente do sentimento de potência que os adultos demonstram. Mães e
pais não costumam fracassar: costumam errar. E não há nenhum problema em errar:
os filhos superam nossos erros com mais facilidade do que nós.
E tem mais: não há
certo ou errado quando o assunto é a educação dos filhos. Há
princípios, há valores, há a moral familiar e social, há o bem conviver, o
respeito e a dignidade. E há estratégias que funcionam por um tempo e
estratégias que não funcionam, apenas isso.
Os sentimentos de
fracasso e de incompetência podem inibir o exercício da maternidade e da
paternidade.
Mais importantes
que qualquer conhecimento específico são os afetos porque são eles que conduzem
os pais.
Rosely
Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais
dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga
sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de
"Equilíbrio"
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