Chegou a hora de
reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria debaixo da
asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos.
Uma batalha interna
hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta pra controlar
a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje
absolutamente clara. Se eu fiz o trabalho direito, tenho que me tornar
desnecessária.
Antes que alguma
mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o que significa
isso. Ser
"desnecessária" é não deixar que o amor incondicional de mãe, que
sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a
ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo,
fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros
também.
A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo
o cordão umbilical... A cada nova fase, uma nova perda e um novo ganho, para os
dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um
processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao
longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos,
constituem a própria família e recomeça o ciclo.
O que
eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na
divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o
abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Esse é
o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser "desnecessários",
nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.
Texto de Marcia Neder
Márcia
Neder Bacha é psicanalista e pesquisadora da UFMS e da USP/NUPPE. Doutora
em Psicologia Clínica e autora de Psicanálise e Educação – Laços Refeitos e A
arte de formar: o feminino, infantil e o epistemológico.
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