Extraído do site do Jornal “A Folha de São Paulo” : http://www1.folha.uol.com.br/educacao/1217641-professores-sao-mais-proximos-dos-alunos-nos-eua-diz-bolsista.shtml
Gustavo
Haddad Braga, 18, mais de 40 medalhas em olimpíadas de conhecimentos, de física
a linguística.
Esse
currículo lhe proporcionou oportunidade rara para um brasileiro: estudar numa
universidade de ponta nacional (medicina na USP) e numa "top" mundial
--o MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA.
Após
essa experiência, ele destaca pontos positivos na melhor universidade
brasileira, como sua infraestrutura, mas afirma que uma das principais
vantagens no modelo americano é que os professores ficam mais próximos dos seus
estudantes.
Gustavo
ficou os primeiros seis meses do ano passado na USP porque ainda não havia
conseguido uma bolsa de estudos no MIT.
Apesar
de ser da classe média de São José dos Campos (SP), sua família não tinha
recursos para bancar os cerca de R$ 100 mil anuais para pagar o curso e ainda
se manter nos Estados Unidos.
Próximo
ao segundo semestre de 2012, ele conseguiu financiamento do CNPq, órgão federal
brasileiro que fomenta pesquisas. E Gustavo, então, rumou para o MIT, onde fez
provas iniciais e conseguiu eliminar um semestre de estudos (matérias de
cálculo e de física).
Na
entrevista a seguir, ele compara os modelos brasileiro e americano de ensino
superior. Ele ainda não definiu exatamente em qual área se formará (nos EUA, a
escolha é feita após cerca de dois anos de disciplinas gerais)
Uma decisão, porém, está tomada. Gustavo
afirma que voltará ao Brasil após a formatura. Ele vê grandes possibilidades de
crescimento em sua carreira aqui.
E diz que
sente falta do jeito brasileiro. "Lá, cumprimentar alguém com beijo no
rosto, esquece."
A seguir,
trechos da entrevista, concedida durante suas férias, na semana passada, em São
Paulo --onde visitava a família e finalizava detalhes para a criação de sua
segunda empresa. (FÁBIO TAKAHASHI)
*
Folha - Qual
sua avaliação sobre o ensino universitário no Brasil e nos EUA ?
Gustavo
Haddad Braga -- São bem diferentes. Um ponto marcante é
que no modelo americano você não é aprovado para um curso ou departamento, mas
para a instituição.
Só depois de
cerca de dois anos você se direciona. Eu poderei fazer tanto história quanto
engenharia. É legal porque, aos 17 anos, você geralmente não tem ideia do que
fazer.
No primeiro
ano do MIT, os alunos devem fazer quatro disciplinas. Fiz matérias de ciências
da computação, química, equações diferenciais e redação.
Você pode
ver que é uma grande diversidade, e eles incentivam isso, até para ajudar
depois na escolha de qual curso seguir.
Eu devo ir
para ciências da computação e engenharia [é permitido fazer duas "especializações"].
Você sentiu
diferença de relacionamento com professores brasileiros e americanos ?
É diferente.
No modelo do MIT, primeiro você tem aula em um auditório grande, com até 200
pessoas.
O professor
é altamente qualificado, muitos já ganharam o prêmio Nobel. Neste próximo
semestre, terei aula de química com um dos caras que sequenciaram o DNA humano.
Depois, há
continuidade em grupos de até dez pessoas com os "assistant
professors", que são alunos terminando o PhD [doutorado]. Debatemos
tópicos, eles incentivam que façamos perguntas, que cheguemos às próprias
conclusões. O relacionamento com esse professor é muito próximo, conversamos
com eles no corredor, tiramos dúvidas, saímos para almoçar.
Esse
relacionamento próximo é diferente do que temos com os professores na USP, até
porque eles têm muitos alunos ao mesmo tempo.
Viu
vantagens na USP, nos seis meses que passou lá ?
Sim, tem
muitas coisas que gostei. As provas são mais frequentes, o que ajuda você ficar
em cima da matéria. Gosto de fazer prova, de acordar e saber que terei o
conhecimento testado.
O chato nos
EUA é que não existem áreas como medicina e direito na graduação.
Você se
forma em alguma coisa antes, provavelmente na área de biológicas para a
medicina, e depois faz uma pós-graduação na área. Acaba demorando mais.
E em relação
à estrutura, quais são as principais diferenças ?
Não conheço
a USP inteira, mas a Pinheiros [faculdade de medicina] tem uma excelente
estrutura, não deve nada.
Outro
problema lá nos Estados Unidos é que, como as universidades não são públicas, o
governo não ajuda nada. Aqui, você tem uma USP, de ponta, sem pagar nada. A
alimentação é R$ 1,50.
Nos EUA,
mesmo na faculdade, onde é mais barato, os planos são de US$ 10 [R$ 20] por
dia, que é caro para um estudante comer.
O que achou
dos modelos de admissão nas universidades do Brasil e dos EUA ?
Nos EUA é
legal porque eles olham o candidato como um todo. Tem a prova, o SAT, mas eles
pegam seu currículo, a redação em que você mostra seus interesses.
Há ainda
entrevistas, cartas de recomendação. É uma avaliação global. Mas tende a ser
subjetiva. Aqui, com o vestibular, é mais objetivo.
Você se
destacou no Brasil ao ganhar várias edições das olimpíadas de conhecimento,
passar em diversos vestibulares. Agora, nos Estados Unidos, como você está ?
Os
estudantes internacionais são valorizados; 90% das vagas são para os
americanos. Sobram 10% para o mundo todo, umas 100 vagas.
Como tem
sido a parte social lá no ambiente do MIT ?
Legal. É
intensa, sempre saio com amigos, americanos e estrangeiros. Não vi nada de
xenofobia.
O que você
pensa fazer depois de se formar ?
Primeiro,
uma pós-graduação lá. Faz sentido me manter no sistema. Aqui eu teria
dificuldades burocráticas, teria de procurar a revalidação do meu diploma.
Depois
disso, certamente quero morar no Brasil.
Os EUA são
um país legal, mas por um tempo. Visitei outros sete países por causa das
olimpíadas.
Aqui é
melhor, as pessoas são mais amigas, mais receptivas. Lá, cumprimentar alguém
com beijo no rosto, esquece.
Como você
avalia as oportunidades para a sua carreira aqui ? Não teme que o momento de
melhoria seja passageiro ?
Todos os
economistas que ouvi discordam disso. E quase a totalidade dos brasileiros que
se formam no MIT estão voltando ao Brasil.
O mercado
aqui está aquecido, principalmente para as "start-ups" [empresas
iniciantes]. O Brasil é a moda.
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