Sem deficiência cognitiva e com a fala preservada, portadores da síndrome de Asperger não têm diagnóstico precoce
Extraído do site : http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1112183&tit=Tipo-de-autismo-tem-sintomas-camuflados
Publicado
em 02/04/2011 | ADRIANA
CZELUSNIAK
A empresária Tatiana Souza, 38 anos, não sabe dizer
quantas vezes ouviu na rua que era para ela procurar a Super Nanny, a personagem
do programa de tevê que tenta colocar nos eixos os filhos mais temperamentais.
A indicação era motivada pelo comportamento do Vicente, 9 anos, que sofre de
autismo. Dentro do ônibus, ele não conseguia ficar muito tempo quieto, gritava
e causava espanto em quem estava por perto. “Às vezes eu conseguia falar que
ele não era mal-educado, que tinha dificuldades, mas na maioria das vezes não
dava nem tempo de falar nada”, conta Tatiana.
Ela mesma custou a acreditar que Vicente fazia parte dos quase 70 milhões de pessoas (dado da Organização das Nações Unidas) que vivem sob as dificuldades do transtorno invasivo do comportamento. O filho já tinha 5 anos quando ela conheceu o nome síndrome de Asperger, que dentro do espectro autista está do lado oposto ao do autismo severo. “Ele evitava brincar com outras crianças, não falava e se jogava no chão de cabeça quando contrariado. Mas era carinhoso, adorava colo e gostava de se relacionar com pessoas”, diz.
A visão clássica do autismo é a daquele indivíduo que
fica alheio a tudo, sentado no canto, se balançando para frente e para trás.
Embora essas características possam estar presentes em casos severos da doença,
aliado à deficiência mental, com a síndrome de Asperger as características são
outras. Um asperger costuma ter pouco ou nenhum comprometimento cognitivo ou de
linguagem e há quem os chame de “anjinhos”, por carregarem por toda a vida uma
ingenuidade que chega a prejudicá-los no convívio social.
Os pais de Leonardo descobriram o transtorno quando o
garoto tinha 6 anos
Sinais do autismo
A intervenção precoce
é valiosa para bons resultados no tratamento
. Fique atento aos
seguintes sinais:
- Evita olhar nos olhos.
- Não responde quando é chamado.
- Parece estar “no mundo dele”.
- Não fala, ou fala muito pouco.
- Não usa gestos para se comunicar.
- Não entende o gesto de apontar.
- Apresenta estereotipias como
sacudir as mãos.
- Insiste em carregar objetos ou
enfileirá-los.
- Tem interesses um rito
específicos e quando foca em alguma coisa, esquece do entorno.
- Não gosta de brincar com outra
crianças.
- Tem comportamentos extremos
quando contrariado, como bater as mãos na cabeça ou se jogar no chão.
Fonte: Especialistas
consultados.
Na prateleira
Os filmes abaixo
ajudam a entender os desafios dos portadores do transtorno :
Ben X - A Fase Final
- Com cenas fortes, o filme
mostra um adolescente asperger que sofre com o bullying na escola ao mesmo
tempo em que se afunda cada vez mais no mundo dos jogos de videogame violentos.
Loucos de amor
- Comédia romântica que conta a
história de encontros e conflitos vividos por um casal de aspergers. Mostra o
dia a dia de um grupo de ajuda para pessoas com autismo.
Um Certo Olhar
- Depois de um trágico acidente
de carro, que acaba com a morte da garota a quem dava carona, um viajante acaba
descobrindo que a menina morava com a mãe, que tem autismo.
Rain Man
- O personagem interpretado por
Tom Cruise descobre em um hospital psiquiátrico que tem um irmão com autismo,
interpretado por Dustin Hoffman e tem de aprender a conviver com as
“esquisitices” dele.
De acordo com o psiquiatra Estevão Vadasz, especializado
em autismo, o asperger é aquele que não tem retardo mental, mas encontra as
dificuldades nas mesmas áreas do autismo clássico : linguagem,
socialização e imaginação. “Eles podem chamar
a atenção por terem um vocabulário muito rico e por serem muito apegados a
regras gramaticais. Mas também podem ser tidos como desengonçados,
esquisitões e excêntricos. Quase todos sofrem bullying desde a escola primária
até a chegada ao ensino médio”, explica o médico, que
coordena o Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC).
Aceito pelos colegas da escola e cursando a 4.ª série em
uma vaga de inclusão, hoje o comportamento de Vicente surpreende quem o
conheceu em seus primeiros anos. Além de frequentar uma clínica particular
especializada em autismo duas vezes por semana, o garoto faz aulas de teatro e
participa de uma oficina de história em quadrinhos, de onde saíram desenhos
recentemente premiados. A mãe conta que o perfeccionismo do filho ainda traz
muitos problemas, mas que pouco a pouco ele se revela mais flexível consigo
mesmo. “Para mim é claro que ainda terei muito trabalho com ele, mas não tenho
medo do futuro ou dos desafios. Tenho tempo para aprender e vou fazer o que for
preciso para ajudá-lo”.
Vida social
“Se um garoto é asperger aos 12 anos, também será
asperger aos 60. Mas dependendo da idade, ele vai precisar de diferentes
intervenções. O quadro depende principalmente do investimento feito ainda na
infância. É por isso que hoje se busca a intervenção precoce e a descoberta do
autismo ainda em bebês”, explica o Vadasz.
Quando Leonardo nasceu, há dez anos, Claudia Prado
percebeu que havia algo estranho já nos primeiros dias de vida do filho. Os
testes de reflexo feitos em recém-nascidos não tinham o resultado esperado e o
menino apresentava atrasos em várias etapas do desenvolvimento. Leonardo
começou a falar aos 4 anos e aos 6 teve o diagnóstico de síndrome de asperger,
depois de passar por muitos especialistas. “Ele frequenta o 5.º ano e tem notas
ótimas. Sua característica asperger aparece principalmente quando ele começa a
falar em um assunto que o interessa. Se torna repetitivo e isso incomoda as
outras crianças. Também é muito sincero e chega a ser inconveniente”, conta
Claudia.
Todas as quartas-feiras, Vadasz coordena o grupo de cerca
de 60 jovens que se reúnem no ambulatório do HC de São Paulo para melhorar suas
habilidades sociais. Os aspergers têm muita dificuldade em encontrar emprego,
pois ainda não contam com os benefícios e vagas especiais como as destinadas a pessoas
com deficiência mental“.
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