Eles são muito mais
numerosos do que você pensa. Pode haver um superdotado no seu prédio, na
escola ou até na sua casa.
por Claudio Angelo
A paulistana Cynthia Laus se
define como uma pintora abstrata. “Tentei fazer uma coisa mais
acadêmica há algum tempo, mas não gostei do resultado”, diz, enquanto
caminha pelo salão de uma conceituada galeria de arte de São Paulo, onde está
expondo 29 obras. É interrompida por uma voz que ordena: “Vem cá, põe um
agasalho!” É sua mãe. Cynthia obedece. Apesar de tudo, ainda é uma menina de 8
anos.
A jovem artista, que pinta desde
os 4 anos, está entre os 3 milhões de brasileiros superdotados. São
crianças que geralmente começam a ler sozinhas antes de entrar na escola e
surpreendem os pais com perguntas desconcertantes. Mas esses sinais não bastam
para identificar um superdotado. Muitas crianças aprendem mais cedo que as
outras e, nem por isso, tornam-se mais brilhantes na idade adulta. O
desafio dos psicólogos é detectar, entre garotos e garotas precoces, quais
possuem inteligência fora do normal. “O superdotado
sempre será brilhante”, diz Marsyl Mettrau, presidente da Associação Brasileira
para Superdotados (ABSD).
Na caça aos pequenos
prodígios, não basta olhar para quem tira as maiores notas. Muitos superdotados
são nulidades acadêmicas, simplesmente porque se entediam com a escola. Foi
esse o caso de Álvaro de Almeida, de 7 anos. “Fui chamada várias
vezes pela escola porque ele era indisciplinado e ia mal nas provas”, diz sua
mãe, Tânia, dona de casa. Quando a família se mudou de Porto Alegre para
Brasília, há dois anos, os professores de Álvaro na escola pública notaram que
ele tinha um talento excepcional para o desenho. Diagnosticado como
superdotado, o menino hoje freqüenta aulas especiais de artes.
O
Quociente de Inteligência (QI) foi,
durante muito tempo, o principal instrumento para descobrir prodígios. Enquanto
a média da população teria um QI entre 90 e 110, os superdotados estariam para
lá de 130. “O problema é que o teste de QI só avalia o
raciocínio lógico”, observa a professora Zenita
Guenther, que desenvolveu um método novo de
identificação de talentos em Lavras (MG). “O QI não pode ser o
único critério”, diz. Hoje, os especialistas concordam em
que há uma característica comum a todos os superdotados: é o chamado “pensamento
divergente”. Eles
raciocinam de maneira diferente da maioria e estão sempre buscando soluções
próprias para os problemas. Os jovens talentos também costumam ser modestos. “Eu
sou normal. Essa história de superdotado é coisa da minha mãe”, diz Cynthia,
com displicência, pulando amarelinha no meio da galeria de arte. Ela pinta como uma verdadeira artista, mas não deixa de ser uma criança de 8 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário