Extraído do site : http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2012/07/dislexia-como-suspeitar-e-identificar.html
Por Lana
Bianchi e Vera Mietto
A identificação
precoce de um possível ou suposto quadro de dislexia no ambiente escolar,
sensibiliza os profissionais da educação ao exercício de um novo olhar : “olhar”
mais cuidadoso, criterioso, investigativo e com mais participação na vida
escolar dessa criança.
O diagnóstico que envolve a exclusão de outras condições e dificuldade
por parte da criança, deve voltar-se para uma serie de sinais e sintomas muito
peculiares, que podem sugerir a suspeita e levar a busca de profissionais
especializados para tal diagnóstico.
Neste contexto, é difícil estabelecer critérios precoces
para esta identificação, pois acompanhar o desempenho evolutivo de uma criança
é um dos marcadores para inferir inadequações neste desenvolvimento. Sabemos
que podem surgir atrasos no desenvolvimento motor e linguístico, inadequações
nas fases desse desenvolvimento e superação delas em ambiente familiar
estimulador ou não, além de outros fatores que possam implicar direta ou
indiretamente no desempenho formal do aprendizado de leitura e escrita.
Estabelecer estratégias e metas novas e eficazes para que crianças
desenvolvam o mais correto possível suas habilidades sensoriais e motoras para
atingir o contexto formal escolar, sem grandes atribulações é fundamental já
que, qualquer aprendizado pedagógico passa pela aprendizagem
informal, aprendizado esse que depende do ambiente, da família, da sociedade e
das particularidades individuais de cada ser.
Aprender é algo único, e neste aspecto devemos valorizar as
pequenas e altas habilidades, pois deste modo, precocemente perceberemos
aqueles com mais habilidades para raciocínio, cálculo, e aqueles com
habilidades mais linguísticas e assim, facilitamos sua integração no contexto
pedagógico formal.
Os processos cognitivos que resultam
em aquisição do processo de leitura e escrita formam uma base, como
apresentaremos :
(1)
Conhecimento de (leitura) e (nome) dessas letras:
É
importante que esse conhecimento não venha de uma sequência automática de memória do
abecedário e sim de conhecimento e reconhecimento de grafemas e
o nome que esses grafemas possuem.
2)
Consciência Fonológica:
Envolve a
habilidade em que a criança aprende a ouvir com o Ouvido
Neurológico, associando sons e letras e com essas transposições entre os sinais
auditivos corresponder-se a símbolos gráficos, oriundos das unidades
articulatórios da fala.
(3)
Aptidões da Fala e Linguagem:
Direciona a
criança para dentro de um processo de aprendizagem formal, e através dele
podemos entender que, quando uma criança está na escola, ela já adquiriu a fala
(oralidade), já possui uma estrutura linguística oral, e a partir
deste processo adquirido irá construir um novo processo:
a escrita, e em conseqüência, a leitura.
Quando esta
criança não tem uma boa estrutura de linguagem oral que comporte uma estrutura
textual, dificilmente conseguirá fazê-lo dentro de uma estrutura na escrita.
Quando apresenta uma oralidade contaminada por substituições e omissões, essas
trocas aparecerão no processo de aquisição da escrita, é necessário verificar
suas estruturas anteriores (pré-requisitos) para que a possibilidade de
transpor para leitura e escrita esteja adequada.
(4)
Atenção Sustentada:
Nascemos com uma atenção automática que é uma resposta aos estímulos e
estes provocam essa atenção para uma resposta a estímulos fortes, com grande
intensidade, e estes fazem seus registros de automatismo. É essa atenção que persiste na
criança durante o aprendizado informal.
Para integrarmos ao aprendizado formal (pedagógico) precisamos da
extensão desta atenção voluntária, escolher o que queremos focar, saber
relacionar com a situação e contexto escolar. Mais do que isso, se faz
necessário uma sustentação para este foco, que é uma habilidade que depende da
maturação do lobo frontal, de uma maturação neurológica, que depende de muito
treino, adaptação, adequação, e intensa participação da criança.
Esta atenção sustentada é que mantém as zonas de associação com a atenção
auditiva para o aprendizado, possibilitando a retenção, ou seja, a consolidação
do conhecimento. Deste modo podemos compreender a necessidade e importância do
treino dessa habilidade (talvez a que mais necessite de treino) na primeira
infância (no ensino infantil pré-requisitos ligados a fase sensório-motor).
(5)
Memória Operacional
Esta memória é que nos conduz a
memória de trabalho, ou seja, é necessário muito treino com a memória
operacional no período da aprendizagem informal para que através das
habilidades exercitadas da criança, ela possa seguir para aprendizagem
estrutural e assimilar o significado e significante dos
símbolos sonoros. Essa correspondência se transformará em imagens mentais abstratas
e concretas, em nomeação, relações de fatos com sons para que efetive as
relações de oralidade e imagens (codificar e decodificar), estabelecendo
significado ao que se aprende.
Neste processo complexo, a maturação neurológica, as zonas de aprendizado e as
relações nas áreas frontotemporais são essenciais: a memória auditiva de curto
prazo relacionando-se com muitas associações para que a memória de longo prazo
efetive o conhecimento e dê seguimento ás próximas etapas linguísticas.
Das
Dificuldades :
Como entender: os DIS?
Dislexia, Disortografia, Disgrafia, Discalculia...Para cada hipótese, temos um
entendimento neurológico e evolutivo de cada expressão e seu respectivo
significado:
1 (6) Dislexia:
É a incapacidade de processar o conceito de codificar e
decodificar a unidade sonora em unidades gráficas, (forma de grafemas) com
capacidade cognitiva preservada (nível de inteligência normal). Os
disléxicos têm capacidade para aprender todas as funções
sociais e até altas habilidades, desde
que, bem diagnosticado, seja trabalhado em suas áreas corticais favoráveis e
com estratégias e intervenções adequadas. Essa intervenções
devem valorizar suas funções viso-motoras, imagens com significado e
significante associados a ritmo e memória visual auxiliando
sua memória auditiva, para que desenvolva a capacidade por outras rotas (sabido
que sua rota fonológica é prejudicada).
7) Disortografia:
Definimos como disortografia, os erros na
transformação do som no símbolo gráfico que lhe corresponde. Nem sempre a
disortografia faz parte da dislexia e pode surgir nos transtornos ligados à má
alfabetização, na dificuldade de atenção sustentada aos sons, na memória
auditiva de curto prazo (Déficit de Atenção) e também nas dificuldades visuais que
podem interferir na escrita. Quando não estão co-morbidas à Dislexia, o
prognóstico é melhor.
3) Disgrafia:
- Não se pode confundi-la ou compará-la com disortografia, pois a disgrafia tem características próprias. A criança com disgrafia apresenta uma escrita ilegível decorrente de dificuldades no ato motor de escrever, alterações na coordenação motora fina, ritmo, e velocidade do movimento, sugerindo um transtorno práxico motor (psicomotricidade fina e visual alteradas).
4) Discalculia:
A Discalculia do desenvolvimento é uma dificuldade
em aprender matemática, com falhas para adquirir adequada proficiência
neste domínio cognitivo, a despeito de inteligência normal, oportunidade
escolar, estabilidade emocional e motivação. Não é causada por nenhuma
deficiência mental, déficits auditivos e nem pela má escolarização. As
crianças que apresentam esse tipo de dificuldade realmente não conseguem
entender o que está sendo pedido nos problemas propostos pela professora. Não
conseguem descobrir a operação pedida no problema : somar, diminuir,
multiplicar ou dividir. Além disso, é muito difícil para elas entenderem as
relações de quantidade, ordem, espaço, distância e tamanho. Aproximadamente
de 3 a 6% das crianças em idade escolar têm discalculia do desenvolvimento
(dados da Academia Americana de Psiquiatria). De um modo geral, o
prognóstico das crianças com discalculia é melhor do que as crianças com
dislexia, ou pelo menos, elas tem sucesso em outras atividades que não dependam
desta área de calculo numérico.
Todo trabalho escolar, da vida
acadêmica de uma criança deve ser investigado precocemente, desde seus
primeiros momentos em berçários, creches, escolas infantis, pois a detecção de
falhas ou inabilidade no seu D.N.P.M. (desenvolvimento neuropsicomotor) será
precioso para atendê-la melhor, até seu inicio ao ensino formal, respeitando
seu ritmo, mas oferecendo-lhe oportunidade de uma boa intervenção, caso
descubra-se precocemente esta falha ou incapacidade.
O pré-diagnóstico no âmbito
escolar é excelente para o aluno, para a escola, para os pais e a
sociedade, onde não se atropela o desenvolvimento e nem permite más condutas
com gastos desnecessários no futuro.
Todos devem participar desse novo
olhar : professores, direção de
escola, pais, psicopedagogos, e outros profissionais envolvidos direta ou
indiretamente na alfabetização.
Lana Cristina de Paula Bianchi- Fonoaudióloga,
Pedagoga, Psicopedagoga, Atuaçao em Neurociencias em Crianças e Adultos na
FAMERP- FUNFARME- Sao Jose Rio Preto- SP- Especialista em linguagem no Projeto
Gato de Botas- Disturbios de Aprendizagem;www.projetogatodebotas.org.br; CRFa: 2907- 1982-
PUCC- Campinas-SP- Profa na Disciplina de Psicologia-UNILAGO- São Jose Rio
Preto-SP- Linguagem e Cogniçao- 2010- Orientadora em monografias no curso de
pos-graduaçao de Psicopedagogia- Famerp- 2010- Campo de pesquisa: Linguagem
infantil e adulto.
Vera Lucia de Siqueira Mietto, Fonoaudióloga,
Psicopedagoga, Neuropedagoga e Tutora EAD do www.chafic.com.br e www.ceitec.com.br em
Neurociencias, Dislexia e TDAH e docente da UNICEAD na pós graduação de Monte
Claros-MG.
Referências bibliográficas :
“Leitura, Escrita e Dislexia” – Uma análise
cognitiva – Andrew W. Ellis – 2ª edição – Editora Artmed
“Entendendo a Dislexia” – Um novo e completo programa
para todos os níveis de problemas de leitura – Salley Shaywitz – Reimpressão
2006 – Editora Artmed
“Dificuldades de Aprendizagem” – detecção e estratégias
de ajuda – Ana Maria Salgado Gomez
Nora Espinosa Tenan
Edição Mmix
“Transtornos de aprendizagem – Abordagem neurológica e
multidisciplinar”
Newra Rotta
Lígia Ohhweiler
Rudimar dos Santos Riesgo
Ed Artimed, 2006
“Dislexias”
Arrne Van Hout
Françoise Estiene
Ed Arttimed, Porto Alegre, 2001
“Neurociência Aplicada à Aprendizagem”
Telma Pântano
Jaime Zorzi
Ed Pulso, São José dos Campos. 2009
Sites:
www.lerecompreender.com.br/palestras.asp- Dislexia: Como
Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno na Escola”,2010
www.pedagogia.com.br/artigos/neurocienciaaeducacao
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