PARTE 13
GUENTHER, Z. (2009) Aceleração, ritmo de produção e trajetória escolar - desenvolvendo o
talento acadêmico, Rev. Educação Especial, vol 22, 35, p.281-298
Zenita C Guenther, Ph.D
1. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O ESTUDO DA ACELERAÇÃO DE SÉRIE
Para fechar esse documento vamos alinhavar alguns pontos, à
guisa de síntese, mas não como conclusão. Essa deve vir pela discussão e
aprofundamento dos temas aqui levantados e tratados.
1. Está
suficientemente comprovado que :
a) Aceleração
como medida pedagógica:
-
É a intervenção curricular mais efetiva para alunos intelectualmente dotados;
- Tem
efeitos benéficos de longo termo, tanto escolar e acadêmicos como sociais;
-
Mesmo aceleração pronunciada – de três ou mais anos – demonstra ser acadêmica e
socialmente efetiva para alunos de inteligência muito elevada.
-
Há conhecimento suficiente para ajudar a escola a tomar decisões sobre que tipo
de aceleração seria apropriado a cada caso, com previsão de baixo-risco/
alto-sucesso.
b) Aceleração
como medida administrativa :
- É uma
medida praticamente sem custos ;
- A
entrada mais cedo, em idade, em qualquer nível escolar, é excelente opção para
alguns alunos, porque permite inserção em turmas de produção compatível com a dele.
-
Há 18 tipos de aceleração - agrupados em duas categorias :
1-
baseada na temporalidade da seriação escolar (para ganhar tempo);
2-
baseada no conteúdo, (para antecipar o currículo).
- Há boas alternativas de
aceleração ao nível médio, para alunos intelectualmente dotados que preferem
ficar com seus pares, tais como: matricula simultânea (Ensino Médio e Universidade); estudo independente;
programas especiais (tipo cursos de férias).
- Há necessidade de opções de aceleração para
alunos com alta capacidade intelectual que têm deficiência visível em alguma
área sensorial ou motora.
-
Para propiciar melhor atitude geral e sensibilizar quanto à necessidade de aceleração
é preciso acionar muitas vias: legislação pertinente e bem informada,
resoluções administrativas, apelo aos tribunais, preparo contínuo para os
professores.
2 – Planejamento
Geral e em longo prazo
Os problemas encontrados em aceleração são
localizados primordialmente na ausência, ou erros no planejamento da trajetória
escolar do aluno, em longo prazo. Casos que poderiam
ser perfeitamente encaminhados por uma simples aceleração por disciplina, nem
sequer são iniciados quando se pensa no abismo que separa os níveis seqüenciais
de ensino, fundamental - médio, médio - superior. Todavia é impossível traçar
planos promissores envolvendo medidas educacionais que se estendem por longos
prazos, no curto prazo de um nível de escolarização – 3 ou 4 anos! Não é o bastante !
Não há muito a se fazer para ganhar tempo escolar, se o
plano atual não for integrado como parte de um projeto mais abrangente, de
estudos e de vida, uma caminhada mais extensa, com vistas a uma vida mais produtiva
no futuro. Uma diferença de um ou dois anos na vida
de uma criança ou jovem não é, obviamente, matéria a preocupar uma sociedade e,
se é somente isso que pode ser feito – então somos forçados a concordar que
seria meramente uma curiosidade, sem muito sentido educacional no cenário maior.
Mas se estamos pensando em “Educação” como o
processo de “desenvolver cada individuo de acordo com suas características e
necessidades”, como rezam os nossos documentos legais, em vários níveis
e circuitos, torna-se claro que o plano não pode parar após a infância,
adolescência ou juventude. E se não pode parar sem perder validade e
propriedade, é preciso abrir as comportas de separação entre as águas
escolares, e integrar o processo de escolarização em uma vivência ampla, e tão
longa quanto for necessário àquele individuo, em particular.
2. ... para os mais capazes, aceleração não basta
Acelerar
uma criança com dotação intelectual, que aprende rapidamente, gosta da escola,
e gosta de estudar, ainda que seja uma medida bem sucedida, nunca é suficiente
para desenvolver o potencial e a inteligência da criança.
Qualquer medida de aceleração escolar deve ser compatibilizada com medidas
suplementares de enriquecimento que respondam a necessidades específicas
daquele aluno, como individuo.
Algumas modalidades de aceleração visam menos avançar com o
currículo para ter menos tempo na escola, mas abrir espaços de tempo para a
criança e jovem se ocupar de outras atividades e assuntos fora do currículo,
mas apropriadas ao plano de desenvolvimento daquela criança ou jovem. Portanto,
nunca se deve encaminhar Aceleração como simples medida
administrativa ! Aceleração é ulteriormente uma “medida pedagógica” e
somente como tal é aceitável como meio de desenvolver o
potencial de uma criança dotada e talentosa, que prima pela preferência por
trabalhar com rapidez, sem perde a profundidade de pensamento e atuação
cognitiva.
3. Crise… paz… e desemprego…
Colangelo, Assouline e Gross (Uma Nação Enganada – 2004) chamam a
atenção para medidas educacionais tomadas em tempo de crise social como guerras
e crises econômicas. Quando há necessidade de pessoas na força de trabalho,
mormente em áreas localizadas, a aceleração é vista como uma boa “resposta” ao
mundo do trabalho, mas se há desemprego generalizado, o tempo escolar é levado
a “atrasar’ ou aumentar, mas não acelerar, pois não se deseja que haja no país mais
desempregados do que já existem. Os exemplos buscados nas medidas educacionais
tomadas nos Estados Unidos, nos diferentes períodos de guerra, mostram claramente
essa correlação entre períodos de crise, guerra
- aumentando o encorajamento à aceleração – e desemprego fazendo o
contrário. Os autores fazem uma critica abalizada desses acontecimentos,
insistindo que o “desvio” na orientação dos projetos educacionais não podem ser
condicionados por “momentos” na vida de um país, mas pelo que as crianças
efetivamente precisam, para toda a vida, em todo o mundo :
Uma nação precisa compreender que educação é
sobre nossas crianças. Não podemos esperar por uma emergência nacional para
entender que emparelhar pessoas com oportunidades apropriadas é a melhor via
para se criar uma ponte para a excelência. ( ...) Excelência é a parte central
da educação – não é uma resposta a crises.”. (A Nation
Deceived, Volume I, p. 29)
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