Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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sábado, 2 de junho de 2012

PARTE 12 -GUENTHER, Z. (2009) Aceleração, ritmo de produção e trajetória escolar - MEDIDAS SITUACIONAIS DE ACELERAÇÃO


PARTE 12


GUENTHER, Z. (2009) Aceleração, ritmo de produção e trajetória escolar - desenvolvendo o talento acadêmico, Rev. Educação Especial, vol 22, 35, p.281-298


 


 Zenita C Guenther, Ph.D



5.7     MEDIDAS SITUACIONAIS DE ACELERAÇÃO




Para completar as recomendações à implantação de projeto de aceleração seletiva, ao nível do sistema, há ainda algumas situações a serem consideradas:




- Aceleração Parcial por Matérias/ Disciplinas




A aceleração parcial é a medida mais apropriada para alunos com uma área de talento visivelmente pronunciada, geralmente a partir da pré-adolescência. A aceleração por disciplina é uma medida tomada no âmbito da escola, e pode não resultar em encurtar o tempo escolar. O resultado será em termos de maior aprendizagem e progressão rápida na área específica em que o aluno tem maior capacidade, desenvolvimento, e interesse, por exemplo, ciências biológicas, física, matemática, literatura, línguas estrangeiras...




Essa modalidade de aceleração é uma medida relativamente fácil de se iniciar, acontece sem alardes na intimidade da escola, mas tem um problema de grandes conseqüências: uma vez iniciada é necessário, para o aluno, que seja garantida sua continuidade até os níveis mais elevados de estudos, alcançando parte da vida adulta.




É uma modalidade que efetivamente se compromete a “criar” grandes experts para a sociedade, em áreas bem definidas, e ainda cedo na vida do estudante. Se uma criança começa, a aprender inglês, ou matemática, digamos na 5ª ou 6ª série, e pára após a 8ª, o seu esforço será absorvido, pouco representando no desenrolar da sua vida.




 - Progressão  Continuada




Progressão continuada é também uma medida de acelerar tempo escolar que depende de avaliação de conteúdo, em situações muito individuais. A progressão deve ser orientada pelo próprio professor da turma (nos anos iniciais), ou da disciplina, e aluno é submetido a provas de avaliação a qualquer momento do ano em que se sente preparado a tentar “progredir” para o semestre, ou série escolar seguinte. A posição do sistema pode ser regulada dentro de uma medida geral de reconhecer matéria curricular adquirida por resultados de exames e provas formalmente realizados.




É uma medida excepcional útil para reconhecer aprendizado regular tutorial, feito fora da escola, no estrangeiro, ou por estudos independentes, e permitir diminuir o tempo escolar ao aluno que tem boas condições, assistência externa, capacidade e motivação para aprender, em longo prazo.




 - Classes multi-seriadas



Onde existem classes multi-seriadas, seja por que razão for, há ali oportunidade para as crianças com talento acadêmico transitarem de uma série para outra, na própria sala de aula, aprenderem a matéria e assuntos das séries mais avançadas, e acelerar naturalmente sua aprendizagem, pelo simples viver e conviver no dia a dia escolar.




O andamento do trabalho é conduzido pelo próprio professor da turma, com as mesmas aulas e material dispensado aos alunos, em cada nível. A criança simplesmente faz as atividades e exercícios dos outros alunos. Pode-se acrescentar a recomendação de que a criança somente seja encorajada a continuar acelerando, se estiver produzindo acima da média, em cada série, sem aceitar produção média, ou mínima, para basear aceleração.




Tivemos oportunidade de acompanhar uma experiência interessante em uma escola rural, em que a criança entrando para a “turminha de pré” aos 6 anos de idade, completou o  currículo das quatro séries em dois, foi para a 5ª série em outra escola, aos 8 anos, e continuou sua escolaridade normalmente, sem qualquer problema.



        - Outras medidas situacionais



Obviamente podem surgir oportunidades para eventuais casos interessantes, em que medidas como currículo telescópico, matrícula simultânea, ou estudo independente, em qualquer combinação, podem ser admitidas para prover maior estimulação e avanço no conteúdo curricular, para certos alunos especiais, em condições específicas. Em qualquer situação a escola pode assistir ao aluno com planejamento, material e até instrução, mas a comprovação de escolarização completada, em nenhuma dessas situações, será sempre através de resultados de provas e exames sob controle do sistema.
       


5.8 - Dupla excepcionalidade




Embora haja leis de proteção aos alunos deficientes, nenhuma lei os protege quando têm capacidades superiores- e, paradoxalmente, esse fica sendo o seu “handicap” – pois as atenções são voltadas para o que ele tem de deficiência, mas não de dotação, de fraqueza mas não de capacidade. E assim crianças e jovens com excelentes cabeças, presas em deficiências localizadas, que não interferem com a função cognitiva do cérebro, nada recebem para ajudar a desenvolver o que têm de superior. Mas, outra vez, nesses casos precisa haver profundas mudanças de atitude, e sensibilização geral, mesmo antes de mudanças na legislação.




Esse tema tem sido discutido em vários lugares do mundo, mas não há medidas regulares que preconizem “ver” a capacidade de uma criança com deficiência mais cedo na vida, ao nível da educação infantil. Até agora, a preocupação é com a deficiência, e se a criança dá sinais de capacidade intelectual passa despercebido, tomado como uma curiosidade, ou orientado superficialmente, mais para “os outros verem” do que para desenvolver o próprio individuo.




Mais tarde na vida, ao demonstrar inegável capacidade, quando a pessoa deficiente já passou por grande parte de seu desenvolvimento sem ajuda, quase sempre torna-se mais uma noticia jornalística que um tema a ser discutido em termos de provisões para a educação. No entanto, a maior parte das medidas aqui discutidas poderiam ser utilizadas para ajudar a essas crianças e jovens, se for vencida a barreira maior: identificá-las, localizá-las, enxergar sua capacidade em um contexto de visíveis deficiências.



 5.9 - Posição do Professor




Mesmo com o melhor programa educacional, o melhor corpo de leis, e o maior sistema de apoio logístico, poucos alunos receberão assistência efetiva se não houver o verdadeiro compromisso e envolvimento dos professores, em grupo e individualmente, num compromisso visceral de ajudar cada aluno naquilo que ele precisar. Assim também é com a aceleração.




Para começar, a identificação do aluno capaz, inteligente, que estuda com gosto e aprende com facilidade só pode começar com o professor em aula – pois ele é quem está com o aluno nas variadas situações de ação, estudo e aprendizagem! Não há nenhum teste psicológico, situação estruturada, ou fórmula mágica, nem mesmo na vida em família, que possa dar mais informações sobre como o aluno aprende, e como estuda, que o convívio de sala de aula, conduzido por um professor atento e compromissado. O professor é uma personagem crucial, atuando na vida de qualquer estudante, em qualquer idade. Mas, para um aluno dotado em inteligência e talento acadêmico, um professor pode abrir mais portas (como pode fechar...) que todo o sistema de educação, simplesmente provendo em suas aulas um ensino que seja estimulante, apropriado, próximo à capacidade do aluno.




Muitos educadores permanecem resistentes e tem posições negativas em relação à prática da aceleração, mesmo com os expressivos resultados encontrados na pesquisa científica. Essa atitude precisa ser trabalhada. É necessário haver amplas e variadas oportunidades para o professor se informar e estudar, em seguida discutir, perguntar, expor dúvidas, analisar suas próprias observações...





A leitura de matéria jornalística, superficial, sem qualquer base cientifica, não raro exagerando os fatos, narrando façanhas de crianças de 4ª série aprovadas em curso superior, ou falando grego aos 4 anos (a não ser na Grécia...), não convence um professor trabalhando seriamente, engajado com o trabalho educativo de várias turmas de alunos, no dia a dia, ano após ano. Seria o mesmo que tentar mover um médico a mudar sua prática mostrando crianças de tamanho adulto, ou menstruação aos 7 anos. A curiosidade é por demais “irreal” na sua raridade, para influir em sua prática diária. Se aparecer um caso assim ele certamente  vai notar, se ninguém notar antes...




Estudando e aprofundando temas tais como, capacidade humana, ritmo de trabalho mental, diferenças individuais na atuação de grupos formados por critérios externos... o professor vai entender como atuam e interagem essas variáveis, como se distribuem na população, como existe em números pequenos, mas não raridade, e como precisam ser consideradas pela escola,  no fórum das necessidades individuais.

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