Em primeiro lugar, Feliz Ano Novo, leitores !!! Vamos continuar o nosso
trabalho, e ajudar a divulgar, ainda mais, este ano, as informações sobre
superdotação :
Extraído dos sites : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572010000200012&tlng=pt
Cecília Andrade Antipoff; Regina Helena de Freitas Campos
Vários estudos têm destacado algumas ideias equivocadas que perpassam o
tema das altas habilidades / superdotação, influenciando diretamente na educação
dos indivíduos talentosos. Assim, o objetivo geral deste estudo é realizar uma
investigação a respeito dos mitos que ainda perpassam o tema das altas
habilidades / superdotação na atualidade, estabelecendo um paralelo com a
evolução das leis e políticas públicas voltadas para o atendimento aos
superdotados no Brasil. As pesquisas analisadas indicam que somente as leis não
são suficientes para determinar uma educação efetiva aos alunos superdotados se
não houver uma divulgação esclarecedora do tema. A análise crítica dos estudos
abordados poderá favorecer a realização de novas pesquisas sobre a forma como a
superdotação tem sido entendida pela sociedade. Além disso, os questionamentos
suscitados poderão auxiliar a elaboração e aprimoramento de programas voltados
para os indivíduos superdotados e para o meio no qual estão inseridos.
Introdução
A temática da superdotação e o atendimento educacional para pessoas com
altas habilidades têm suscitado um interesse crescente por parte de
pesquisadores. Vários autores (Alencar, 2001; Greenfield e cols., 2006;
Guenther, 2006; Guenther & Freeman, 2000; Mettrau, 2000) têm ressaltado que
essa crescente preocupação pode ser verificada não só no Brasil, como também no
cenário internacional. Segundo Alencar (2001), observa-se, em países de
distintos continentes, a implementação de propostas educacionais assim como a
disseminação de informações de relevância a respeito das altas habilidades.
Existe uma busca crescente para proporcionar um maior apoio à educação do
superdotado – amparada por leis e políticas educacionais – que favorece uma
atuação mais efetiva e significativa para essa parcela da população. Além
disso, a maior comunicação entre educadores e especialistas de diversos países
tem contribuído de forma significativa para o aumento desse interesse, como
destaca Alencar (2001).
As Leis de Diretrizes e Bases do Conselho Nacional de Educação Especial,
por meio da Política Nacional de Educação Especial (Brasil, 1995, p.17),
definem bem-dotadas as crianças capazes de um desempenho superior (em
comparação com o mesmo grupo de idade), incluindo o talento em qualquer das
áreas seguintes, consideradas isoladamente ou em combinação: habilidade
intelectual em geral; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo ou
produtivo; artes visuais e práticas; habilidade psicomotora. No entanto, essa
definição é ampliada por alguns autores, dentre eles, Renzulli (1986), que
considera fundamental incluir nessa definição fatores relacionados também à
motivação. Esse autor propõe uma nova definição denominada "concepção dos
três anéis". Para ele, a superdotação deve ser analisada como resultado da
interação entre três fatores (três anéis): habilidade acima da média (que
envolve habilidades gerais e habilidades específicas), envolvimento com a
tarefa (motivação) e criatividade.
Ao abordar a habilidade acima da média, o autor enfatiza a importância
de se levar em consideração tanto as habilidades gerais (que consistem na
capacidade de processar informações, integrar experiências que tenham como
resultado respostas adequadas e apropriadas a diferentes situações) quanto
as habilidades específicas (que dizem respeito à capacidade de adquirir
conhecimento, prática e habilidade que permita a atuação em uma ou mais
atividades de uma área específica).
O envolvimento com a tarefa relaciona-se com a motivação que está
diretamente ligada à energia pessoal canalizada para uma determinada tarefa que
envolve, também, perseverança, persistência e dedicação. Corroborando a ideia da
importância da motivação para o desenvolvimento de uma habilidade, Halpern
(2006) afirma que "learning and academic achievement cannot be considered
apart from de motivation to learn and the motivation to demonstrate learning of
perform in some way" (A aprendizagem e o aproveitamento acadêmico não
podem ser considerados isoladamente da motivação em aprender e da motivação em
demonstrar, de alguma forma, o desempenho do aprendizado) (p. 648).
Já o fator criatividade pode ser observado a partir da fluência,
flexibilidade e originalidade de pensamento, curiosidade e possibilidade de
abertura a novas experiências.
Segundo Renzulli (1986), os três anéis não precisam estar presentes ao
mesmo tempo e nem na mesma intensidade, mas é fundamental que interajam em
algum grau para que o resultado seja um alto nível de produtividade. Ainda
para esse autor, os comportamentos denominados superdotados podem estar
presentes "em algumas pessoas, em determinados momentos e sob determinadas
circunstâncias" (p. 76). Percebe-se que, para esse autor, a superdotação
não deve ser vista como algo estático, pré-determinado. Ele enfatiza a importância
de se levar em conta a interação entre fatores individuais e ambientais. Para
Alencar (1986), "superdotação é um conceito ou construto psicológico a ser
inferido a partir de uma constelação de traços ou características de uma pessoa"
(p.20). (Para a autora, a proposta de uma definição, que seja universalmente
aceita acerca dessa temática, torna-se difícil ou até mesmo impossível).
Acrescenta Alencar (1993) que "superdotação é um conceito que foi
inventado e não algo que foi descoberto, referindo-se àquilo que a sociedade
deseja que seja, o que torna o conceito sujeito a mudanças de acordo com o
tempo e o lugar" (p. 109). Ainda sobre a complexidade dos conceitos
relacionados à superdotação, Mettrau (2000) salienta que "conceituar e caracterizar
essa pessoa (com altas habilidades) é uma tarefa bastante difícil, pois os
talentos, além de complexos, são múltiplos" (p. 5).
Analisando-se a literatura da área, percebe-se que, ao lado das diferenças
no conceito de superdotação, também não há consenso quanto às terminologias
utilizadas para designar aquele indivíduo que se destaca por apresentar
desempenho superior em alguma habilidade. O Conselho Europeu para Alta
Habilidade (Eurotalent) optou pela terminologia: "Altas
Habilidades", já o Conselho Mundial para o Superdotado e Talentoso
optou pelos termos "Superdotados ou talentosos"1. Apesar de a legislação
brasileira ter adotado, em 1972, o termo "superdotado" (traduzido
do termo em inglês "gifted"), várias críticas foram e são
feitas por alguns autores. Helena Antipoff (1992),
por exemplo, questionou esse termo, destacando o quanto pode levar a uma
conotação negativa advinda do prefixo "super" (que pode remeter a
algo como "super-homem", expondo esses indivíduos a uma curiosidade
excessiva por parte dos outros, altas expectativas de desempenho ou, até mesmo,
preconceito). Dessa forma, Antipoff passou a usar o termo "Bem-dotado".
Zenita Guenther (2000, 2006) utiliza o termo "Dotado",
que considera mais coerente com a tradução originada do inglês "gifted".
Em 1995, a Política Nacional de Educação Especial passou a definir aqueles
que se destacam como portadores de altas habilidades / superdotados. E,
analisando-se a literatura, percebe-se a utilização de termos diferentes por
diferentes autores. Alencar, Feldhusen e French (2004) destacam que alguns
pesquisadores utilizam os conceitos de superdotação e talento como sinônimos,
já outros pontuam diferenças significativas entre os termos.
Apesar do aumento de interesse pela temática da superdotação nas pesquisas
atuais, a prática de atendimento a essa parcela da população não tem
acompanhado esse crescente interesse. Dentre alguns pesquisadores da área – que
destacam essa defasagem e a necessidade de uma maior informação da população
sobre a temática, além de um melhor preparo das escolas, professores e famílias
para lidarem com essa questão –, destacam-se: Alencar (2001), Maia-Pinto e
Fleith (2002), Rech e Freitas (2005), Mettrau e Reis (2007). Alencar destaca
que os superdotados representam um grupo que é pouco compreendido e
negligenciado, ressaltando a escassez de programas específicos, direcionados
para o atendimento desse grupo.
Segundo Guenther e Freeman (2000), as pessoas ditas talentosas correspondem
de 3% a 5% da população e estão incluídas na população específica que deve ser
atendida pela Educação Especial (educação essa que tem como função identificar,
elaborar e organizar os recursos pedagógicos e de acessibilidade para uma
participação plena dos alunos, levando-se em conta suas necessidades
específicas).
Atualmente, muito tem se falado em educação inclusiva nos contextos
educacionais brasileiros. Educação essa que busca o reconhecimento dos direitos
da criança, sobretudo o direito à educação: "o movimento mundial pela
educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica,
desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos,
aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação". (Brasil,
2007, p. 1). E, ainda, na perspectiva da educação inclusiva, propõe-se o
"atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades /
superdotação". (Brasil, 2007, p. 10). Apesar de a proposta da educação
inclusiva implicar numa mudança estrutural e cultural nas escolas para que todos
os alunos tenham suas especificidades atendidas, a ideia disseminada na
prática, de uma forma geral e mais frequente, é a de que se deva incluir aquele
indivíduo cujo desenvolvimento ou habilidade seja considerado inferior quando
comparado ao desenvolvimento e às habilidades das outras crianças que se
encontrem na mesma faixa etária ou nível de desenvolvimento.
Diferentemente do que ocorre com as crianças citadas acima, não existe
consenso de que a criança portadora de altas habilidades ou talentosa necessite
de um atendimento diferenciado. Talvez, por falta de um maior conhecimento
sobre a temática, ainda existam muitos mitos que pairem sobre a realidade das
crianças e jovens bem- dotados. Tais mitos serão explicitados de forma mais
específica no desenvolvimento deste estudo. Dentre os pesquisadores que têm
abordado os mitos e crenças errôneas que envolvem as crianças com altas
habilidades, citam-se: Alencar e Fleith (2001), Guenther e Freeman (2000),
Mettrau (2000), Winner (1998).
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