Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O HOMEM QUE SABE DEMAIS




Antônio Sérgio Ribeiro em sua casa, perto de Cotia (SP), diante de algumas revistas de sua coleção


Antônio Sérgio Ribeiro em sua casa, perto de Cotia (SP), 
diante de algumas revistas de sua coleção





Extraído do jornal “ A Folha de SP”, de 01/01/2.012, Seção Ilustrada


Dono de uma acervo gigantesco e de uma memória prodigiosa, Antônio Sérgio Ribeiro socorre biógrafos e romancistas em busca de informações




MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO



Antônio Sérgio Ribeiro nunca estampou seu nome na capa de um livro, mas não seria exagero dizer que muitos não existiriam sem ele.


Para avaliar a contribuição desse servidor público de 52 anos, basta folhear as páginas de agradecimento de alguns dos principais best-sellers dos últimos 16 anos.



Na de "O Homem que Matou Getúlio Vargas" (1998), por exemplo, Jô Soares cita a "a colaboração inestimável" desse "verdadeiro arquivo vivo de Getúlio Vargas, Carmen Miranda e outras incontáveis informações".



Serginho, como é conhecido, também recebeu elogios em "Olga" (1985), "Chatô - O Rei do Brasil" (1994), "Carmen: Uma Biografia" (2005), "Corações Sujos" (2000) e "Maysa" (2007) - só para citar os de maior sucesso.


Romances históricos ou biografias, para todos Serginho forneceu dados, fez pesquisas, ajudou a localizar documentos e imagens ou a apontar erros de apuração.



Diretor do Departamento de Documentação e Informação da Assembleia Legislativa de São Paulo, Serginho começou sua carreira de "arquivo vivo" aos 14 anos, por causa de Carmen Miranda.



Para um trabalho de escola, precisava descrever a vida de alguma personalidade do país. Escolheu a cantora, mas quase nada encontrou sobre ela. Resolveu, então, montar seu próprio acervo, iniciado com um disco da artista.



"Aí você começa e não para mais. A Carmen viveu de 1909 a 1955. Nasceu em Portugal e veio pro Brasil. Mas veio em que navio? Por coincidência, ela estourou em 1930, ano em que Getúlio assumiu o poder. Então já viu, né? Da Carmen fui pra Getúlio e depois pra todos os ramos, pro resto do mundo."



Os interesses múltiplos do pesquisador ficam guardados num terreno de quase 3.000 m² próximo de Cotia (na Grande SP), onde vive com a mãe, Antonietta, 80.



Ele tem ali 5.000 livros, mil LPs, mil filmes em VHS ou DVD. Fora as coleções quase completas das revistas "A Noite Ilustrada", "O Cruzeiro", "Revista do Rádio", "Seleções", "A Carioca".



BARSA

Visitar o local, como a Folha fez no fim de novembro, pode ser tão prazeroso e extenuante quanto tentar ler a coleção Barsa numa única tarde. Para cada um dos objetos, Serginho tem na ponta da língua centenas de histórias. Antes de conseguir absorver pelo menos parte do que ouve, o visitante já tem a memória testada.


"Sabe qual foi a primeira lei do nosso país?", pergunta ele, após mostrar os mais de mil volumes da série "Leis do Brasil". Constrangido, o repórter diz que não e logo recebe uma aula.


"Foi a abertura dos portos, em 1808. Mas, atenção, dom João era príncipe regente quando assinou o decreto. Só virou rei em 1816, quando morre a rainha dona Maria 1ª." Após a explanação, completa: "Eu sou chato mesmo, adoro detalhes".



Como exemplo, lembra que passou dias tentando identificar quais eram as quatro pessoas que apareciam no estribo do carro do então presidente Washington Luís em uma fotografia de 1930. Vasculhando uma edição de "O Diário Popular" da época, descobriu que um deles era justamente um futuro presidente: o então tenente Arthur da Costa e Silva.



Carros presidenciais, por sinal, são outra das especialidades de Serginho. Na coleção de 20 automóveis que mantém num galpão, há três que passaram pelas mãos de governantes. O mais raro é um Lincoln Cosmopolitan, de 1950, feito especialmente para o presidente americano Harry Truman (1884-1972).



"Este carro veio para o Brasil em 1954. Era usado exclusivamente pela segurança de Getúlio, inclusive o Gregório Fortunato [chefe da segurança do presidente] andou nele. O carro foi usado até 1968. Existem só nove carros destes no mundo...", conta, e segue por mais algum tempo.



O volume de objetos acumulados desde o LP da Carmen pode dar a impressão de que Serginho é milionário, ou pelo menos bem perto disso.



Embora ele não ganhe mal, a explicação é mais simples : Serginho praticamente não tem outros interesses além de suas pesquisas e coleções. Não tem filhos, nunca foi casado, não bebe, não fuma e pouco sai de casa. Também nunca cobrou pelas pesquisas que fez para escritores. "Faço porque tenho prazer."



Nas horas vagas, escreve há anos seu próprio livro, espécie de tratado com "todas as coisas que você sempre quis saber sobre Carmen e não encontrava" - mas que ele, é claro, sabe de cor.


Além da memória prodigiosa, conta ter um "sexto sentido" apurado. Uma vez, viajando de avião, teve um pressentimento. "Senti que ele não iria decolar. No meio da pista, realmente abortaram a decolagem, acredita ?" E alguém ainda duvidaria ?

"Dá segurança trabalhar com ele", diz Morais


DE SÃO PAULO


Fernando Morais foi quem propagou a fama de Serginho entre os escritores. No início dos anos 1980, durante seu mandato como deputado estadual pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), Morais conheceu na Assembleia Legislativa "uma enciclopédia ambulante, doutor em Getúlio e Carmen".


Quando começou as pesquisas para "Olga", biografia de Olga Benario, não teve dúvida em convidá-lo para a pesquisa. Serginho conseguiu informações inéditas para o livro.



"Ele sabe tudo, você pode perguntar qualquer coisa. Dá muita segurança contar com ele no trabalho", diz Morais.


A parceria entre eles se repetiu em "Chatô" e "Corações Sujos", entre outros. Além disso, Morais recomendou o pesquisador para Jô Soares, Lira Neto e o colunista da Folha Ruy Castro.


Atualmente, Serginho se dedica a ajudar Neto nas pesquisas e na revisão do primeiro volume, de um total de três, de uma biografia de Getúlio Vargas. O livro deve ser lançado pela Companhia das Letras no primeiro semestre de 2012.


"Assim que comecei a biografia, sabia que não havia ninguém melhor que ele para me ajudar. Fico escandalizado com a memória do Serginho. Ele sabe os carros usados, o cardápio dos restaurantes e hotéis frequentados por Getúlio e até mesmo se choveu ou não em tal dia."
(MRA)

Alguém tem dúvidas de que ele seja superdotado ??? rs


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