Repletas de necessidades
Extraída do site : http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/altas-habilidades-489225.shtml
A professora Lucyana de Araújo Domingues de Andrade tem três superdotadas entre seus 35 alunos da Escola Classe 106 Norte, em Brasília. Beatriz foi identificada com altas habilidades em artes na 1ª série. Laura Helena teve a superdotação em conhecimentos gerais reconhecida quando estava na 2ª. E, este ano, Lucyana percebeu que Daniele tem interesse e capacidade acima da média em todas as disciplinas. Como o Distrito Federal conta com salas de recursos disponíveis na rede pública, as meninas têm acesso duas vezes por semana a atividades de estímulo no contraturno, o que não significa que deem mais sossego à professora.
"São ótimas alunas e, por isso mesmo,
me dão mais trabalho do que os colegas", diz. Segundo ela, Beatriz chama a
atenção quando faz atividades artísticas e as outras duas perguntam o tempo
todo, lembram de detalhes de conteúdo antigo e são muito rápidas na execução de
trabalhos. "Terminam em poucos minutos exercícios que entretêm a turma por
duas horas", diz. Para mantê-las instigadas, Lucyana chega a dar quatro
atividades a mais.
Em Matemática, por exemplo, ela usa
folhetos de supermercado para trabalhar as quatro operações. Quando as meninas
terminam, pede que aprofundem as questões, pensem como ficaria a conta se
houvesse uma promoção ou quais produtos um cliente teria de deixar de comprar
se tivesse menos dinheiro do que o valor final. Em Português, todos leram a
fábula A Cigarra e a Formiga, de La Fontaine.
Em seguida, escreveram os possíveis diálogos dos personagens - e as meninas com
altas habilidades foram além. "Perguntei se hoje a cigarra poderia ganhar
dinheiro cantando. E elas fizeram uma história a mais."
Lucyana também promove a integração ao
pedir que as alunas auxiliem os que têm menor nível de conhecimento. "Às
vezes, por explicar com a mesma linguagem infantil, elas conseguem bons
resultados ou, pelo menos, percebem que cada um tem uma maneira de
aprender", diz. Fora tudo isso, a sala dispõe de um varal de livros, para
ser lidos nos intervalos ou quando alguém acaba a atividade antes que os
outros. "A maioria pega os exemplares mais ilustrados para folhear. Elas
não: leem livros que seriam para crianças mais velhas", conta.
Os superdotados não são iguais e se dividem em vários perfis
Especialistas ressaltam que nem sempre
esses alunos são os mais comportados (leia mais no quadro abaixo) e
explicam que as altas habilidades são divididas em seis grandes blocos:
- Capacidade Intelectual Geral
Crianças e jovens assim têm grande rapidez
no pensamento, compreensão e memória elevadas, alta capacidade de desenvolver o
pensamento abstrato, muita curiosidade intelectual e um excepcional poder de
observação.
- Aptidão Acadêmica Específica
Nesse caso, a diferença está em :
concentração e motivação por uma ou mais disciplinas, capacidade de produção
acadêmica, alta pontuação em testes e desempenho excepcional na escola.
- Pensamento Criativo
Aqui se destacam originalidade de
pensamento, imaginação, capacidade de resolver problemas ou perceber tópicos de
forma diferente e inovadora.
- Capacidade de Liderança
Alunos com sensibilidade interpessoal,
atitude cooperativa, capacidade de resolver situações sociais complexas, poder
de persuasão e de influência no grupo.
- Talento Especial para Artes
Alto desempenho em artes plásticas,
musicais, dramáticas, literárias ou cênicas, facilidade para expressar ideias
visualmente, sensibilidade ao ritmo musical.
- Capacidade Psicomotora
A marca desses estudantes é o desempenho
superior em esportes e atividades físicas, velocidade, agilidade de movimentos,
força, resistência, controle e coordenação motora fina e grossa.
Mau comportamento pode ser sinal
O histórico escolar de Louis Pasteur,
Albert Einstein, Walt Disney e Isaac Newton costuma chocar quem espera um
comportamento "exemplar". O francês responsável pelas primeiras
vacinas era mau aluno, especialmente em Química. O alemão que elaborou a Teoria
da Relatividade fugia das aulas de Matemática. O americano que criou um império
do entretenimento foi reprovado em Arte. E, durante a infância, o cientista
inglês que primeiro percebeu a gravidade teve de ser educado pela mãe porque
foi expulso da escola. Hoje, ninguém duvida de que os quatro eram
superdotados, o que ajuda a entender que nem sempre alunos assim são os mais
interessados e bem comportados em sala de aula.
O estudante com altas habilidades costuma ter um interesse tão grande por uma das disciplinas que acaba negligenciando as demais. A facilidade de expressar-se, por exemplo, pode ser usada para desafiar o professor e os colegas. Mesmo os mais aplicados dificultam a aula ao monopolizar a atenção. Muitos não querem trabalhar em grupo por não entender o ritmo "mais lento" dos colegas. A descoberta das altas habilidades é o primeiro passo para melhorar esses comportamentos. Primeiro, porque muda o olhar do professor. E também porque o próprio jovem passa a aceitar melhor as diferenças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário