Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Última parte do texto de A. Virgolim

O aluno não pode saber que é superdotado



Alguns pais e educadores têm expressado o temor de que seus filhos/alunos se tornem convencidos e arrogantes ao serem comunicados sobre sua superdotação, e de que seus atos espelhem a crença de serem melhores do que os outros (Alencar & Fleith, 2001).



Conforme discutem Schmitz e Galbraith (1985 ), a sociedade é rápida em concluir que inteligência, talento ou habilidade superior significam pessoas superiores, o que implica que o resto da humanidade seja inferior. Ora, este aspecto se acha intimamente associado às questões mais gerais da educação, e à percepção do que seja, e m nosso entendimento, a superdotação.



O desconforto com a situação ou com o rótulo pode levar os adultos a não tomarem as devidas atitudes para proporcionar ao superdotado a oportunidade de participar de programas educacionais especiais (Galbraith & Delisle, 1996) ou de tomar providências para desenvolvê-las no âmbito particular.



Talvez seja interessante discutir com a criança – e muitas vezes até com a família como um todo, pois a indicação de um dos filhos para um programa especial pode criar ciúmes, tensões e conflitos entre irmãos – a idéia de que todos nós, indiscutivelmente, temos nossas áreas fortes e nossas áreas fracas. Nem todo mundo é competente em tudo, e cada um, numa mesma família ou numa mesma classe, apresenta habilidades diferenciadas.


Mesmo entre aqueles que apresentam multipotencialidades (mostrando habilidades em várias áreas), há sempre uma área em que o desempenho é superior, e uma ou várias áreas em que o desempenho pode ser “normal”, ou mesmo inferior (como discutimos na questão das dissincronias). Outra questão a ser lembrada é que, ao ser informada de que possui uma habilidade superior, a criança/adolescente poderá começar a canalizar esforços para desenvolver, ao máximo, suas próprias habilidades.



Ela vai estar trabalhando, por um lado, para o desenvolvimento de um potencial que poderá reverter, no futuro, para o benefício da sua comunidade ou mesmo de seu país ; e por outro lado, no sentido de sua própria realização pessoal (lembrando que, segundo a Psicologia Humanística, no ápice da pirâmide das necessidades humanas está a necessidade de auto-realização, que implica na realização das potencialidades próprias do indivíduo). Estes dois fatores, a necessidade de ser útil Virgolim, A.M.R. (2003).



Galbraith e Delisle (1996) propõem que o próprio jovem faça uma lista das possíveis vantagens e desvantagens de ser esperto, inteligente, talentoso, enfim, de ser superdotado ; isto os ajudará a decidir quais os traços poderão ser mantidos, ou mais trabalhados, quais traços deverão ser mudados e quais aqueles com que talvez eles tenham simplesmente que aprender a conviver.




Outro ponto importante é compreender que, em geral, a criança e especialmente o adolescente experienciam uma maior quantidade de estresse e ansiedade em algumas situações, a exemplo do que Terrassier (1979) discute na questão da dissincronia externa, e que o Grupo Columbus (Silverman, 1993) discute ao focalizar o desenvolvimento assincrônico como parte da superdotação.



Adolescentes superdotados freqüentemente se queixam de se sentirem estressados quando sentem que : “sofrem um excessivo medo do fracasso ; não se adaptam a seus pares ; tentam fazer coisas demais; sentem que têm opções e escolhas em demasiado em suas vidas ; estão “presos” em aulas e deveres-de-casa rotineiros e entediantes; têm dificuldades em encontrar amigos que os aceitem como são; sentem que têm que competir com irmãos e colegas de classe ; têm poucos desafios na escola; se sentem ridicularizados por serem superdotados ; e quando se sentem compelidos a dar o melhor de si em tudo que fazem” (Galbraith & Delisle, 1996, p. 124).



Somado a isso os estressores normais da adolescência – pressão exercida pela escola, família e colegas ; relacionamentos ; mudanças físicas e emocionai s; sexualidade ; preocupações sobre a violência, assuntos da comunidade e problemas mundiais ; a procura do significado da vida, entre outros –, não é de se estranhar que o jovem superdotado se sinta, por vezes, oprimido e depressivo. Além disso, jovens que não encontram os mecanismos adequados para lidar com a ansiedade e o estresse emocional podem exibir um ou mais dos seguintes comportamentos : nervosismo, devaneio em excesso, apatia, preguiça, retraimento, abuso químico, vandalismo, hostilidade e pensamentos suicidas (Galbraith & Delisle, 1996).



É bom lembrar que, de acordo com Silverman (1993), o desenvolvimento mais acelerado da criança pode ser uma fonte de trauma emocional, com pouco suporte emocional proveniente dos colegas, cujas mudanças desenvolvimentais são mais consistentes entre si. Assim, num contexto como este, pode acontecer da criança superdotada se sentir diferente, estranha, fora de contexto, pois não consegue se fazer entender. Voltamos aqui à questão da diferença.



O problema, como já foi dito, não se trata de ser ou não ser diferente – a criança superdotada sabe que ela é diferente – mas, sim, de como ela se sente à respeito da diferença. Se os adultos a tratam com indiferença, não reconhecem (nem gratificam) suas habilidades especiais, e escondem dela a questão da superdotação, ela poderá desenvolver o sentimento de que estas diferenças devem ser escondidas, e delas deve se envergonhar. Mas, ao contrário, se os adultos a ajudarem a reconhecer e entender a natureza das próprias habilidades, elas terão muito mais chances de obterem sucesso na vida, através de um planejamento efetivo da própria aprendizagem e de sua carreira profissional, no futuro.



Os pais não devem saber que o filho é superdotado



A idéia subjacente a este mito diz respeito à possibilidade dos pais exigirem muito mais da criança, elevando suas expectativas a respeito do seu desempenho, ao tomarem conhecimento que seu filho/filha é superdotado/a.



Alencar e Fleith (2001) afirmam que os pais são figuras fundamentais para ajudar a criança a cultivar certos traços de personalidade favoráveis ao desenvolvimento do potencial humano.


Curiosidade, auto-confiança, persistência nas tarefas que se propõe a realizar, independência de pensamento e de julgamento, são alguns dos fatores que devem ser valorizados e facilitados pela família. Estas autoras sugerem que pais e professores devam buscar fornecer à criança uma educação onde os seguintes fatores sejam ressaltados :



a) Dedicar tempo à criança, ouvindo e discutindo com ela suas idéias, respondendo com interesse às suas perguntas, valorizando sua curiosidade, sua independência de pensamento e tomada de decisões;



b) valorizar a criança como pessoa, deixando-a ser ela mesma, transmitindo-lhe amor e confiança em suas capacidades, e demonstrando aceitação mesmo quando ela fracassa em alguma tarefa ;


c) encorajá-la a buscar fontes diversificadas de conhecimento, através de visitas a museus, bibliotecas, exposições, e outros locais do seu interesse, oferecendo-lhe materiais de leitura e oportunidades de desenvolver hobbies ;



d) encorajar suas habilidades físicas e sociais, como esportes, jogos de grupo, e atividades que impliquem em socialização.


Os pais devem estar conscientes de que a estimulação deve ocorrer desde bebê. A Dra. Marian Diamond, renomada pesquisadora da Universidade da Califórnia, em Berkeley, ressalta em seu livro “Árvores maravilhosas da mente : como cuidar da inteligência, da criatividade e das emoções do seu filho, do nascimento até a adolescência”, que, com a devida estimulação mental, sensorial e física, os neurônios cerebrais interligados crescem e se ramificam, trazendo conseqüências sociais e educacionais positivas para a criança.



Trabalhando com ratos em laboratório a partir da década de 60, os pesquisadores do grupo de Diamond conseguiram provar que a camada exterior do cérebro pode crescer se uma pessoa ou animal viver em um ambiente estimulante, mas essa mesma camada pode se atrofiar em um ambiente monótono e pouco desafiador. As conseqüências destas descobertas são profundas, pois se em nível molecular podem nos dizer como as células nervosas que permitem uma criança escutar e enxergar poderiam ser ativadas e afinadas, em nível familiar e social podem nos indicar o melhor modo de educar as crianças em uma época em que as habilidades diminuem e a tecnologia aumenta. A mensagem que este tipo de pesquisa produz também é clara : o cérebro, com sua arquitetura complexa e seu potencial ilimitado, é um órgão em constante mudança, e que pode ser moldado por nossa experiência durante a infância e idades posteriores (Diamond & Hopson, 2000).



Diamond defende a idéia de que um ambiente enriquecido, especialmente preparado para a criança, é aquele que : inclui uma fonte constante de apoio emocional positivo ; fornece uma dieta nutritiva com proteínas, vitaminas, minerais e calorias suficientes ; estimula todos os sentidos (mas não necessariamente todos ao mesmo tempo) ; tem uma atmosfera sem estresse exagerado e repleta de prazer intenso; apresenta uma série de novos desafios, nem tão difíceis, nem tão fáceis, para o estágio adequado de desenvolvimento da criança; permite uma interação social em uma porcentagem significativa de atividades; promove o desenvolvimento de uma série de habilidades e interesses mentais, físicos, estéticos, sociais e emocionais ; fornece a oportunidade de a criança escolher suas próprias atividades; dá chance à criança de ver os resultados do seu esforço e modificá-los ; tem uma atmosfera agradável que promove a exploração e o prazer de aprender; e, acima de tudo, os ambientes enriquecidos permitem que a criança seja um participante ativo e não um observador passivo do seu próprio desenvolvimento (Diamond & Hopson, 2000, p. 103-105).



Diamond e Hopson comentam ainda que “não é necessário dinheiro para se criar um ambiente que permita o crescimento de mentes maravilhosas. Só é necessário informação, imaginação, motivação e esforço. Quando o hábito de um desenvolvimento ativo se instala e a experiência se destaca, as mentes estimuladas se encarregam do restante de forma surpreendente e maravilhosa” (Diamond & Hopson, 2000, p. 19).



A estimulação variada, a riqueza de oportunidades em áreas diversas, o estímulo à leitura e à criatividade, e fundamentalmente, amor, carinho e atenção são elementos que estão em nossas mãos e constituem, com toda a certeza, a resposta adequada para os pais que querem ajudar seus filhos a atingirem sua plena autorealização conforme suas potencialidades e a crescerem como indivíduos sadios e integrados.



Referências Bibliográficas


ALENCAR, E. M. L. S. (2001). O superdotado: Derrubando um preconceito. Em: Alencar.

E.M.L.S. Criatividade e educação dos superdotados (pp.119-130). Petrópolis, RJ: Vozes.

ALENCAR, E. M. L. S., & FLEITH, D. S. (2001). Superdotados: Determinantes, educação e ajustamento. 2ª. edição revista e AM revista e ampliada. São Paulo: EPU.

ALENCAR, E. M. L. S., & VIRGOLIM, A. M. R. (2001). Dificuldades emocionais e sociais do superdotado. Em: Alencar, E.M.L.S. Criatividade e educação dos superdotados (pp.174-205). Petrópolis, RJ: Vozes.

BUTLER-POR, N. (1993). Underachieving gifted students. Em K. A. Heller, F. J. Mönks & A.

CROPLEY, A.J. (1993). Giftedness and school: New issues and challenges. International Journal of Educational Research, 19 (1): 1- 98.

DAVIS, G. A., & RIMM, S. B. (1994). Education of the gifted and talented. 3

Rd edition. Needham Heights, MA: Allyn and Bacon.

DIAMOND, M. C., & HOPSON, J. (2000). Árvores maravilhosas da mente: Como cuidar da inteligência, da criatividade e das emoções de seu filho do nascimento até a adolescência. Rio de Janeiro: Campus.

EHRLICH, V. Z. (1989). Gifted children: A guide for parents and teachers. 3

Rd edition. Monroe, NY: Trillium Press.

FELDHUSEN , J. F. (1985). Toward excellence in gifted education. Denver: Love Publishing.

FELDHUSEN, J.F. (1992). Talented Identification and Development in Education (TIDE). Sarasota, FL: Center for Creative Learning.

FELDMAN, D. H. (1991). Nature’s gambit: Child prodigies and the development of human potential. N

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