Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Continuação do texto da Susana Perez : Mitos sobre desempenho e sobre consequências

Mitos sobre desempenho

Talvez este seja um dos fantasmas mais assustadores para as PAHs e uma das maiores causas do não reconhecimento delas na escola, especialmente nas que atendem alunos de baixa renda, onde as expectativas de sucesso baseadas no desempenho acadêmico, muitas vezes, são os maiores prognósticos de fracasso escolar.


1) A pessoa com altas habilidades se destaca em todas as áreas de desenvolvimento humano. Superdotação Global (ALENCAR; FLEITH, 2001; EXTREMIANA, 2000; WINNER, 1998). Espera-se que a pessoa com AHs tenha um desempenho uniforme em todos os aspectos, o que gera expectativas irreais quanto a ela. Na escola, quando este aluno apresenta qualquer indício de imaturidade, falta de atenção ou de adaptação, descarta-se a possibilidade de ela ter AHs e a família não consegue compreender a convivência de comportamentos infantis e comportamentos de adulto. Os alunos com AHs que não se adaptam facilmente à rotina escolar, que podem obter avaliações médias ou até deficitárias para seus desempenhos, muitas vezes, não são indicados como alunos com AHs por serem considerados imaturos. Em geral, nas crianças com AHs, há um assincronismo entre o desenvolvimento específico na área de destaque (superior ao nível esperado para seus pares) e o desenvolvimento emocional (muitas vezes aquém do esperado para a idade).


2) A PAH se destaca em todas as áreas do currículo escolar, tem que ter boas notas. É o aluno nota 10 em tudo.(ALENCAR; FLEITH, 2001; EXTREMIANA, 2000; WINNER, 1998). Este mito privilegia o desempenho acadêmico, exclusivamente, esquecendo outras áreas de desempenho que a escola não contempla e que podem ser as áreas de destaque do aluno com AHs. Quando não apresenta boas notas, ele/a e/ou sua família é questionado(a) quanto a esta discrepância. Como não se imagina que um aluno com AHs possa terbaixo rendimento ou dificuldades de aprendizagem, muitas vezes, a sua condição é colocada em dúvida. Atualmente, pesquisadores têm-se debruçado no estudo de alunos com AHs com baixo rendimento pela freqüência com que esta situação é verificada. Este mito se apóia na imagem ideal do bom aluno, geralmente o modelo perseguido na escola tradicional, e revela a realidade de um aluno que se destaca em uma ou mais áreas específicas, mas não em todas, e um método tradicional, que avalia o aluno quantitativa e não qualitativamente, exigindo-lhe um desempenho equilibrado em todas as disciplinas como requisito para a aprovação.


Mitos sobre conseqüências


Estes mitos são aqueles que adjudicam determinadas conseqüências ao comportamento de superdotação às quais as PAHs estariam fadadas, contribuindo para a sua estigmatização.

1) A PAH desenvolve doenças mentais, desajustamento social e instabilidade emocional. (ALENCAR; FLEITH, 2001; EXTREMIANA, 2000; GERSON; CARRACEDO, 1996). Este fantasma nasce da constatação de períodos de instabilidade mental ou psicoses em muitos artistas, músicos e cientistas, mas não se deve esquecer que as realizações deles ocorreramapesar de e não em conseqüência de seus problemas emocionais. As doenças mentais, quando observadas, não têm sido constatada como um resultado direto das AHs, mas como conseqüência de fatores familiares ou psicológico não saudáveis, que podem acometer a qualquer pessoa. Extremiana (2000) afirma que um dos propulsores da teoria que vinculava superdotação (na época referida como genialidade) e psicopatologias foi o livro de Lombroso “Insanidade do gênio”, de 1896, onde o autor utilizava como sinônimos, indiscriminadamente, os termos anormal, morboso, doente, superdotado,gênio, etc., concluindo que o gênioresultava de uma degeneração psicológica, sintoma de caráter hereditário de uma variedade epileptóide, associada também a uma moral insana. Muitos filmes com protagonistas que personificam PAHs e que, ao mesmo tempo, manifestam comportamentos psicológicos ou sociais problemáticos, como é o caso de “Gênio Indomável” e “Mente Brilhante”, também contribuíram para reforçar esta idéia no imaginário popular. As AHs também têm sido associadas à depressão e à propensão ao suicídio. Pardo (1994, p.19) relata que “nas décadas passadas, o índice de suicídios entre crianças excepcionais aumentou em 250%” e que “boa parte das tentativas de suicídio ocorre entre jovens muito criativos, com grande desempenho acadêmico e que freqüentam as melhores instituições educativas”, o que indica que são necessárias pesquisas mais aprofundadas para verificar se este índice está relacionado exclusivamente à condição de superdotação ou a outros fatores que afetam os adolescentes.


2) O QI se mantém estável durante toda a vida. (GERSON; CARRACEDO, 1996). Além de reafirmar-se como não sendo o indicador mais adequado para avaliar as AHs de uma pessoa, o QI, por ser resultado de testes aplicados por seres humanos (por isso falíveis e parciais), em diferentes momentos e situações de vida de uma pessoa (portanto sujeitos a influências internas e externas), pode variar em diferentes épocas da vida. Por isso a necessidade de observar a freqüência e intensidade dos indicadores por um período relativamente amplo, razão pela qual Renzulli (1986) adotou, posteriormente, o conceito decomportamento de superdotação.


3) Crianças com altas habilidades serão adultos eminentes. (ALENCAR; FLEITH, 2001; EXTREMIANA, 2000; WINNER, 1998). Para chegar à notoriedade que este mito vaticina é necessário que o adulto faça ou represente uma mudança significativa para a sociedade ou grupo num determinado campo do saber ou do fazer. Geralmente, isto exige anos de dedicação e esforço na mesma área, elevada criatividade, depende do apoio e estímulo recebidos, de traços de personalidade, da concorrência no campo, e, fundamentalmente, das oportunidades que a pessoa teve. Não é, assim, tão freqüente e, com certeza, não ocorre com todas as PAHs, mas só com algumas. Especialmente em classes desprivilegiadas, onde as oportunidades determinam o sucesso, o atendimento deve promovê-las para favorecer o desenvolvimento das AHs.


4) Tudo é fácil para a PAH. (COSTA, 2000; EXTREMIANA, 2000). Esta afirmação pressupõe uma pessoa que não tem que fazer esforços nem procurar soluções, num ambiente totalmente favorável. Por apresentarem maior facilidade apenas em algumas áreas, às vezes, as PAHs podem chegar a ter até maior dificuldade para atender às expectativas nas áreas que não são seu destaque ou de seu interesse. Por outro lado, considerando que estas pessoas estão presentes em todas as variáveis demográficas, socioculturais e econômicas, as oportunidades a elas proporcionadas são muito diferentes, propiciando-lhes, portanto, diferentes graus de dificuldade no seu desempenho.

5) As pessoas com altas habilidades se auto-educam, não precisam de ninguém.(ALENCAR; FLEITH, 2001;EXTREMIANA, 2000; GERSON; CARRACEDO, 1996). Este mito está sustentado por aquele que caracteriza a PAH como um ser supra-humano. “A primeira coisa que temos que reconhecer sobre uma criança superdotada é que ela é um ser humano” (HAVIGHURST apud NOVAES, 1979, p.133) que é, primeiro, criança, depois, adolescente e, por fim, adulto, e que este processo de desenvolvimento deve ser balizado e apoiado por seus cuidadores. Partindo do pressuposto de que ninguém nasce sabendo, há de se compreender que, embora aprenda mais rápido ou diferentemente a seus pares, a criança com AHs terá que aprender, como as demais e, assim, precisa da família, da escola e da sociedade para assimilar hábitos (de higiene, organização, etc.), competências e saberes e fazeres necessários para ser um cidadão.

2 comentários:

  1. Excelente postagem. Os mitos rotulam, limitam e podem gerar dificuldades desnecessárias. Acho que podem ser também fontes de preconceitos e contra estes nada melhor do que esclarecimentos.

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  2. MUitos de nós pais de crianças superdotadas,antes de conhecermos o tema a fundo,tambem tinhamos ideias erradas sobre superdotaçao.E A mídia sempre contribuiu para propagar este equívoco.Como vc já disse CLAUDIA sao muitos os mitos e preconceitos sobre superdotaçao,Mas na minha opniao os dois piores sao :superdotados sao genios infáliveis. e o pior:superdotados sao problematicos ,perturbados e estranhos.Precisamos lutar incansavelmente p/acabar c/ esta ignorancia.Apesar de termos pouca visibilidade na midia,é nosso dever, mesmo que devagar propagar que: Superdotados nao sao seres de outro planeta, infáliveis, esquisitos e infelizes. Pelo contrário quando bem orientados suas chances de sucesso e felicidade sao ILIMITADAS.Obrigada.

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