Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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quinta-feira, 31 de março de 2011

Continuação do texto da Susana Perez : Mitos sobre a identificação e sobre os níveis e graus de inteligênciao

Mitos sobre a identificação
Estes mitos trazem à tona a discussão sobre vantagens ou desvantagens da rotulação e colocam em tela a discussão sobre a identidade da PAH.

1) A identificação fomenta a rotulação. A rotulação não teria as prováveis conseqüências negativas que hoje se lhe adjudicam se fosse aceita a singularidade das pessoas como um direito. Os próprios mitos e crenças em relação a estas pessoas fazem que a identificação seja considerada uma rotulação e que ela seja vista como uma discriminação dos indivíduos identificados que, no imaginário popular, passam a ser melhores que o resto da sociedade. A mesma rotulação decorrente da identificação de PPDs, para as quais se reivindica a necessidade de laudos médicos e psicológicos, não causa o mesmo resultado, porque o sentimento que mobiliza a PPD é de pena e comiseração, diferente ao que provoca a PAH. É corriqueiro ouvir que a PPD precisa ser identificada para saber o tipo de ajuda que ela necessita, mas que a PAH nãoprecisa ser identificada. Temos, então, como sociedade, dois pesos e duas medidas.

2) A identificação fomenta atitudes negativas na PAH. (ALENCAR; FLEITH, 2001). A idéia de que a identificação fomenta atitudes de vaidade, menosprezo e sentimentos de superioridade, características encontradas em qualquer pessoa – com AHs ou não - não se justifica, porque elas refletem traços de personalidade, ensinamentos e princípios que a criança aprende na sua família, entre seus pares e até na própria escola e comunidade. Antes de tudo, é necessário perceber que todos os cidadãos são diferentes e têm o direito de sê-lo; isto não implica privilégios maiores, mas sim necessidades diferenciadas. Educar crianças com AHs para ser cidadãos exige a consciência dos mesmos princípios básicos de justiça, respeito e liberdade – direitos e deveres que devem ser ensinados a todas as crianças para promover a convivência sadia com seus pares.

3) Não se deve identificar a PAH. Muitas vezes, este mito se apóia em preconceitos político-ideológicos: se “todos somos iguais”, não se devem fazer diferenças entre as pessoas. A identificação da PAH é indispensável para conhecer suas necessidades e buscar formas de atendê-la e precede a discussão de políticas públicas que a contemplem, já que somente assim poderemos discernir as estratégias de atendimento que devem ser implementadas e estruturar os recursos que terão que ser disponibilizados para esse fim. É impossível sequer pensar em políticas públicas antes de conhecer o seu alvo, pelo que se torna necessária e urgente identificar estas pessoas.

4) Não se deve comunicar à criança que ela tem altas habilidades. (ALENCAR; FLEITH, 2001). Negar à criança o direito de confirmar algo que ela já sabe fere os direitos humanos e principalmente o compromisso com a verdade, ensinamento básico para qualquer criança. A criança com AHs freqüentemente manifesta seu sentimento de diferença com seus pares; “são diferentes às outras e sabem disto” (EXTREMIANA, 2000, p. 124), talvez sem compreender exatamente essa diferença, mas sim como algo que, muitas vezes, lhe incomoda ou causa mal-estar. Muitas crianças verbalizam esta condição; percebem as diferenças de ritmo de aprendizagem, interesses e desempenho em relação a seus colegas. Adolescentes e adultos têm consciência mais explícita desta diferença, mas não sempre como algo positivo. Especialmente quando a escola e a sociedade não reconhecem as AHs, a família passa a ser oporto seguro da criança, onde ser diferenteé admitido e compreendido, permitindo que ela desenvolva sua auto-estima para enfrentar um ambiente externo hostil à diversidade, que pode questionar suas características diferenciadas como algo que, em nome da igualdade, ela não deveria ter. Se a família ou a escola oculta as características que a criança percebe, ela pode pensar que há algo de errado com ela ou que, parafraseando Maturana (2001, p. 31) “ela é o que não deve ser ou não é o que deve ser”.

Mitos sobre níveis ou graus de inteligência

Este grupo de fantasmas está ancorado num feitiço que, durante muito tempo, ofuscou uma boa parte da sociedade e inclusive de renomados pesquisadores: a idéia de que a inteligência pode ser quantificada e traduzida em um número ou coeficiente.

1) A PAH é apenas aquela que tem um QI excepcional. (EXTREMIANA, 2000; WINNER, 1998). Como já foi colocado, os escores nos testes padronizados de QI não são indicadores absolutos de AHs. Estes instrumentos foram concebidos para medir o desempenho de pessoas brancas, da classe média de países desenvolvidos, uma realidade bem distante da nossa. Uma brilhante PAHs como Garrincha quase foi cortado da Seleção Brasileira, porque o teste de QI aplicado o classificava como débil mental (MODERNELL, 1992, apud KRUSZIELSKI, s.d.), e outros gênios da humanidade também tiveram dificuldades nas áreas que identificam os testes de QI (lingüística, lógico-matemática e espacial), o que comprova o equívoco deste mito.

2) Pessoa talentosa, mas não com altas habilidades. (COSTA, 2000; EXTREMIANA, 2000; WINNER, 1998). Alguns autores, principalmente europeus, defendem que as pessoas que apresentam QI elevado ou habilidades intelectuais sãosuperdotadas; as que apresentam AHs em áreas artísticas são talentosas. Extremiana (2000, p.119) argumenta que “embora os domínios nos que apresentam seu desempenho superior diferem, estas crianças se assemelham no momento de mostrar precocidade, divergência e motivação”. Acompanhamentos feitos pelo Núcleo de Atendimento à Pessoa com Altas Habilidades da FADERS (Porto Alegre-RS) parecem indicar que os agrupamentos definidos por Renzulli (1986) como componentes do comportamento de superdotação – capacidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade – estão presentes com intensidade, freqüência e duração comparável em qualquer uma das áreas de AHs. Gardner (2000) admite chamar as inteligências de habilidades ou talentos, desde que não se dê supremacia à capacidade lingüística ou lógico-matemática, dando-lhe o status de habilidade ou inteligência e detalento à inteligência musical, por exemplo.

3) As pessoas inteligentes também são criativas, na mesma proporção.(EXTREMIANA, 2000; GERSON; CARRACEDO, 1996; WINNER, 1998). Para se manifestar, a criatividade exige um comportamento inteligente, mas os graus de ambas não guardam proporcionalidade. Há pessoas que decoram o guia telefônico, o que exige memória e motivação excepcionais, mas não transformam essa aquisição em um novo produto ou a aperfeiçoam, o que confirmaria o terceiro grupamento na Teoria de Renzulli, a criatividade e, portanto, indicadores de AHs. Embora a criatividade esteja presente em todas as pessoas, é o grau ou a qualidade dela o diferencial das AHs.

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