Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Da vida do irmão não PAH ao lado do irmão PAH

Esta questão foi colocada na comunidade do Orkut, da qual faço, parte, "Pais de Superdotados" e achei interessante trazer o assunto para cá e também dizer o que eu também penso a este respeito.

Como é a vida do irmão do portador de altas habilidades, quando ele mesmo não tem estas habilidades ? Como ele se sente diante das comparações, por vezes, expressas, outras vezes, veladas, ou feitas, nas entrelinhas da vida daquela criança ? Como é, para aquele outro irmão, que não é PAH, crescer ao lado de uma criança tão talentosa, que vive sendo referenciada e elogiada ? Este irmão sente-se diminuído pelas eternas e constantes comparações ? Ou, será que vai desenvolver outras habilidades suas, talvez não tão cultuadas pela nossa cultura, mas, que irão ajudá-lo na vida adulta e profissional ?

Acho que muito depende de como nós, pais, iremos cuidar desta tão delicada relação.

Vale lembrar, que a superdotação existente em irmãos (ou seja, em mais de um filho), por incrível que pareça, é bem normal e frequente. Na maioria das vezes, as inteligências entre os irmãos superdotados não são iguais, porém, posso dizer que são complementares.

No caso dos meus filhos, elas são bem diferentes, apesar de se cruzarem e se assemelharem em alguns pontos.

A época em que eu mais senti (por enquanto), que a inteligência da Debora mais se destacou, em relação à do Rafa, foi quando ela tinha entre 3 e 4 anos, e já falava de forma super articulada, fazia associações, memorizações excepcionais, estava aprendendo a ler e a escrever e chamava muito (e não somente a nossa) a atenção de outras pessoas que frequentavam o nosso meio. Enquanto que o Rafa, era um bebezinho muito fofo, mas, não falava (demorou muito a falar) e não fazia as coisas tão bonitinhas que a irmã fazia.

Não fosse o fato de eu ser completamente apaixonada pelo meu filho, pode até ser que eu pecasse, ingenuamente, em não lhe dar tanta atenção, quanto eu estava dando à Debora, naquela época, por conta de suas lindas gracinhas.

Recebemos alguns comentários do pessoal que participa da comunidade e também juntei alguns relatos de gente que não faz parte dela, mas que já me contou algo a respeito e sintetizei aqui relatos e experiências, tanto como pais de crianças PAHs (alguns pais também têm mais de um filho PAH como ocorre no meu caso), quanto como irmãos que foram PAHs ou não e como isto se desenvolveu em suas casas.

Uma integrante nos perguntou no quanto deve ser duro ver o irmão ou irmã tendo sucesso acadêmico profissional e não conseguir acompanhar.

Lembrei da história de uma conhecida minha, que é PAH e a irmã não ,e que me contou que, lá na casa dela, a sua irmã sempre sofreu muito com esta comparação. Que os seus pais nunca lhes compararam, mas que no colégio em que ambas estudavam a irmã PAH sempre tirava as melhores notas, sempre ganhava cartinha de aluna destaque, enfim, sempre estava em evidência, no colégio, etc... Ela me contou que, quando passou no vestibular, o colégio ficou fazendo propaganda com o nome dela e, que, quando ela entrou no terceiro ano do nosso antigo colegial (hoje ensino médio), um ano depois dela ter saído da escola, vários professores perguntaram para a irmã dela, se ela faria como a irmã (PAH) ; se também faria medicina, etc...

Esta irmã que não é PAH teve uma depressão grave, mudou de colégio 3 vezes, engordou quase 30 quilos e não passou em vestibular nenhum. Ficou totalmente perdida ; não sabia o que queria fazer. Disse que não faria faculdade, quis se mudar para os EUA para trabalhar como babá (a mãe delas não deixou, porque ela não estava bem emocionalmente). Só depois de 2 anos, e, com muita terapia e antidepressivos, esta irmã conseguiu melhorar. Aí passou no vestibular de direito em uma faculdade particular e demorou 7 anos para se formar. A psicóloga dela disse que a maioria dos problemas foram causados pelo fato de ela ficar se comparando com a irmã que era PAH.

Esta conhecida minha, hoje, tem dois filhos. Uma foi diagnosticada como PAH e o outro ainda é bem novinho, mas não faz as mesmas gracinhas que a sua filha mais velha fazia, na idade dele. Ela me pergunta não comparar os dois, mas como ajuda-lo a lidar com as comparações que acabam surgindo (seja pelas pessoas de fora ou por ele mesmo?). Ela considera que, os pais dela fizeram tudo certo, pois nunca comparou ela à irma e sempre procuraram valorizar o que a irmã dela tinha de bom (principalmente as coisas em que ela era melhor do que a minha conehcida), mas ela sente que isso apenas não funcionou..

Ela questiona se a irmã dela tivesse feito terapia mais cedo teria evitado este colapso ? Eu acho que sim. Que a teria ajudado. Não acho que os problemas da irmã fossem todos ocasionados pelo fato de uma irmã ser PAH e a outra não. Mas, com certeza, uma terapia bem mais cedo, teria ajudado ou prevenido esta situação...

Será que, no caso de irmãos, em que um é superdotado acadêmico e o outro não, não seria bom matriculá-los em escolas diferentes ?

Quando esta pergunta foi colocada na comunidade do Orkut, a opinião da maioria de seus integrantes era de que or irmãos (superdotado e o não) deveriam estudar em escolas diferentes.

Eu já acho que, em princípio, não. Não devem ser matriculados em escolas diferentes. A não ser que, durante a vida escolar, esta diferença entre os irmãos vire um martírio para o irmão que não é PAH ; que a forma como os professores conduzam esta diferença não seja legal ou que os pais percebam que o irmão que não é PAH não está feliz e se desenvolvendo bem, emocionalmente, então, acho que é o caso, sim, de se pensar em mudar esta criança de escola. Não sem antes, ter uma conversa séria com a escola e ver como ela pode (e se quer) ajudar aquela criança, alvo de eternas comparações.

Percebi que, a superdotação quando esta presente em somente um dos filhos, tem que ser muito bem trabalhada pelos seus pais, para que o irmão, que não apresenta altas habilidades, não se sinta diminuído perante o outro irmão, seus pais e os outros e para que, no futuro, esta diferença não gere problemas emocionais, tal como uma depressão, ou que a auto estima deste filho, não portador de altas habilidades, não fique baixa.

Mas, acho que cada caso é um caso e não devemos generalizar a situação acima relatada, porque, por outro lado, conheço situações felizes em que o irmão que não era PAH se espelhava naquele que era, e, com isto se tornou uma pessoa mais persistente, perseverante e ambicioso e isto fez dele um profissional muito competente e realizado.


Outra fase que pode incomodar o irmão não PAH é no fundamental 2, quando começam as notas escolares, boletins, provas, competições e as suas comparações, culminando com o resultado do vestibular. Depois disto (depois de formados), é cada um por si, e, nesta hora, pode ser que as habilidades ajudem o jovem PAH ou não.

O irmão não PAH pode ser mais popular, mais social, mais esportista, mais bonito, se dar melhor com a mulherada ou com os homens, enfim.. compete aos pais não valorizar unicamente a inteligência acadêmica. Mesmo porque, não necessariamente a pessoa inteligente irá se dar bem, profissionalmente.


Então, acho que a responsabilidade para que esta situação do filho não PAH não se sinta inferior ao que é PAH é mais nossa (dos pais), mesmo, seja evitando comparações, alimentando o ego de nossos filhos por igual, elogiando, cada um em suas qualidades, dando atenção e afeto suficientes e, ficando atentos para que, caso um deles não se sinta bem emocionalmente, por conta desta situação, que o encaminhe para um profissional, que irá ajudar aquela criança a se encontrar e a se equilibrar, emocionalmente !

Por fim, eu também acho que competição entre os irmãos pode ser algo estimulante, se for conduzida de uma maneira saudável e com atenção.


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