05/12/2007
Potencial ignorado
Escolas ainda têm dificuldade em identificar, acolher
e desenvolver os alunos com altas habilidades
Carolina Costa, sob a coordenação da ANDI*
Márcia aprendeu a ler aos três anos e com cinco já
resolvia enunciados envolvendo três ou mais operações matemáticas. Rafael
tem quatro anos e desde os dois é capaz de ligar o computador sozinho, entrar
na internet e encontrar seus sites de desenhos preferidos.
Marcel aprendeu a tocar piano de ouvido aos três anos e hoje, cinco anos
depois, é capaz de executar várias peças consideradas complexas até para
músicos experientes. O senso comum prega que ter um filho ou um aluno
superdotado é sinônimo de ter apenas alegrias: “Ele pode ser o que quiser no
futuro.” Na vida real, no entanto, essas crianças costumam sofrer muito. A
escola tradicional vem perdendo talentos pela incapacidade em reconhecer
meninos e meninas com altas habilidades
Arrogante, superior, elitista, sabe-tudo. Esses são
alguns dos adjetivos nada lisonjeiros com que são tachadas as Pessoas com Altas
Habilidades (PAHs), nome para o que popularmente é chamado de “superdotado”. Os
que antes eram os primeiros a se manifestar quando um professor fazia uma
pergunta, logo se mostram tímidos, entediados, e até mesmo indisciplinados. Não
raras vezes, preferem se esconder no anonimato a correr o risco de assumir sua
condição especial.
“Fui repreendido por uma professora ao revelar a um
colega que tinha altas habilidades”, desabafa Giovanni Ferreira, estudante de
pedagogia da Universidade de São Paulo. Filho de agricultores pouco
escolarizados, Giovanni sempre demonstrou ser um aluno diferente: aos oito
anos, aprendeu inglês ouvindo a BBC e, pouco depois, montou sozinho uma estação
de rádio de ondas curtas, seguindo instruções de um site norte-americano.
Apesar de sua inteligência muito acima da média, passou boa parte da infância
sendo considerado deficiente mental e chegou a ser internado em uma clínica
psiquiátrica, onde, enfim, teve sua condição identificada.
O caso de Giovanni é um exemplo drástico de como a
escola tradicional vem perdendo talentos pela incapacidade em reconhecer
meninos e meninas com altas habilidades. Não há estatísticas oficiais, mas os
especialistas acreditam que entre 3% e 5% das crianças e dos adolescentes no
mundo apresentam algum tipo de inteligência acima da média – algumas
estimativas elevam esse índice a surpreendentes 25%. “Muitos desses alunos estão
sendo diagnosticados como hiperativos e voltam dos consultórios completamente
dopados”, lamenta
Christina Cupertino, consultora da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para superdotação e, ela mesma, mãe de
dois filhos PAHs, hoje com 26 e 28 anos.
Saiba Mais
Conheça alguns livros que falam sobre o assunto:
Educação de Superdotados: Teoria e Prática
Maria Clara Sodré S. Gama
Ed. EPU, 176 págs.
Preço sugerido: R$ 45,00
A Coragem de Ser Superdotado
Érika Landau
Ed. Arte e Ciência, 224 págs.
Preço sugerido: R$ 37,50
Capacidade e Talento – Um Programa para a Escola
Zenita Guenther
Ed. EPU, 120 págs.
Preço sugerido: R$ 50,00
Ao contrário do que se imagina, superdotados não são
geniozinhos. “Eles costumam ter áreas em que são excepcionalmente
talentosos, mas são normais em algumas e abaixo da média em outras”, explica Maria Clara Sodré, que há 17
anos trabalha com PAHs. Segundo ela, crianças com altas habilidades têm três
características-padrão : precocidade ou talento em alguma área de
desenvolvimento, pensamento divergente (criativo ou analítico) e dedicação
obstinada. “Tenho um aluno que tem idéia fixa com origamis, chega a fazer 300
num dia, mas é um tremendo perna-de-pau no futebol”, brinca.
A definição de superdotação também não está atrelada
apenas à capacidade de decorar conteúdos enciclopédicos ou resolver enunciados
complexos. “Aquilo que
esses estudantes fazem não é, em si, uma coisa extraordinária; é extraordinária
para determinada idade. Uma criança de dois anos que aprende a ler, a fazer
cálculos matemáticos ou a desenhar figuras humanas perfeitas está fazendo
coisas excepcionais para sua faixa etária”, completa Maria Clara. À medida que o
aluno vai ficando mais velho, não é mais a precocidade que indica a
superdotação e sim a capacidade de fazer coisas que os outros não são capazes
de fazer.
É o caso de Débora Hakim, 6, que
aprendeu a ler aos três anos e, hoje, estuda em uma escola trilíngüe, onde está
aprendendo sem dificuldades também o inglês e o hebraico. “Quando ela tinha
quatro anos já estava completamente alfabetizada e a escola nos chamou,
sugerindo acelerá-la de série”, recorda a mãe, Cláudia Hakim.
Conhecida por aceleração, a mudança de série de um
aluno não é um consenso e passa por um processo bastante burocrático por parte
dos Conselhos Estaduais de Educação, que avaliam o pedido dos pais e da escola
antes de autorizar ou não que a criança pule um ou mais anos de estudos. Alguns
especialistas alegam que a aceleração norteia a vida do aluno a partir da
inteligência, esquecendo o lado afetivo, o amadurecimento e o aspecto motor
que, muitas vezes, não acompanham o desenvolvimento intelectual.
Especialistas alegam que a aceleração norteia a vida
do aluno a partir da inteligência, esquecendo o lado afetivo
“Estou lutando para conseguir acelerar a
Débora”, afirma Cláudia. Em sala de aula, a garotinha trabalha separada do
resto da turma e, muitas vezes, tem que responder às perguntas no ouvido da
professora, para que os coleguinhas também possam ter oportunidade de
responder. Outras vezes, ela tem de esperar para falar, mesmo sabendo a
resposta.
A educadora Maria Clara defende que a aceleração seja
feita paralelamente a outras ações de enriquecimento do estudante. “A
escola freqüentemente diz que não pode avançar a criança porque ela é imatura
no desenvolvimento social. O
que mais me assusta quando se insiste nisso é que essa mesma escola, quando
reprova o aluno, não faz a menor cerimônia em deixá-lo numa classe em que ele
vai ser o único mais alto, ou o único que já tem buço ou seios. É uma desculpa capenga, não tem
base sólida”, critica.
Para todos
A aceleração, no entanto, não é a única saída para
desenvolver o potencial de jovens com altas habilidades. Pais e professores
podem promover acesso a conteúdos extracurriculares. O Ministério da Educação
(MEC) possui uma rede de Núcleos de Atividades de Altas
Habilidades/Superdotação (NAAH/S), espalhados pelo País, que contam com
professores especializados para desenvolver o potencial desses alunos. De forma
semelhante, algumas capitais possuem também Salas de Recursos, que os
estudantes podem freqüentar no contraturno da escola tradicional.
“O maior problema é que os professores não sabem que
têm superdotados em sala de aula”, alerta Susana Graciela Pérez Barrera Pérez,
presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD). “No início das
minhas palestras, costumo perguntar se alguém conhece uma pessoa com altas
habilidades. Ninguém se manifesta. Mas depois de duas horas, sempre vem algum
professor falar que acha que tem um aluno com esse perfil”, compara.
Preocupada com a falta de atendimento a esses
estudantes, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo acaba de capacitar
270 agentes de ensino em todo Estado para identificar e trabalhar com PHAs.
“São diretores e coordenadores de ensino, gente que agora vai replicar o
conhecimento junto às suas escolas”, aposta Christina Cupertino, consultora do
projeto.
Navegue por alguns sites com a temática :
Assessoria Cultural e Educacional no Resgate a
Talentos Acadêmicos (Acerta)
Associação de Pais e Amigos para Apoio ao Talento
(ASPAT)
Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD)
Instituto Lecca
Secretaria de Educação Especial – MEC - Núcleos de
Atividades de Altas Habilidades / Superdotação (NAAH/S)
Olá Claudia,
ResponderExcluirVeja o meu Blog sobre Superdotação. Livros, videos, sites.
Paulo André Norberto
Desculpa Claudia,
ResponderExcluirEsqueci de mencionar o nome do Blog:
www.blueelevens.blogspot.com
Paulo André