Projeto de lei quer permitir ingresso no ensino superior para alunos do 2.º ano do ensino médio aprovados em vestibular
Gazeta do Povo : 20/04/2010 00:11 Tatiana Duarte - educacao@gazetadopovo.com.br
Estudantes que concluíram o segundo ano do ensino médio e foram aprovados no vestibular poderão ingressar no ensino superior se aprovado um projeto de lei que tramita na Câmara Federal e pretende alterar o artigo 44, da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação nacional. A proposta, que tramita em caráter terminativo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), de autoria do deputado Sebastião Bala Rocha (PDT-AP), ainda depende de aprovação no Senado para entrar em vigor.
Enquanto está em tramitação, estudantes e educadores têm mostrado opiniões diferentes quanto ao que a medida pode provocar, caso seja aprovada. Uma das preocupações dos educadores é com relação à aceleração de etapas de ensino que uma lei como esta pode trazer. Para o chefe do departamento de processos seletivos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Jair Almeida, a aprovação no vestibular não deve dispensar a conclusão do ensino médio. “Uma coisa é tratar como gênios os estudantes que passam em vestibulares de alto nível. Mas temos vestibulares em que é muito fácil passar. É muito complicado este tipo de analogia”, diz.
Falta atenção para os superdotados no Brasil. O projeto de lei que pretende permitir o ingresso na universidade de estudantes que ainda não concluíram o ensino médio, mas foram aprovados no vestibular é, na opinião de especialistas, um reflexo da falta de uma política clara de atenção aos superdotados na rede de ensino brasileira.
O coordenador do núcleo de concursos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Raul Von der Heyde, também é contrário à proposta e diz que uma lei como essa irá suprimir uma fase de estudos do estudante. “O 3.º ano do ensino médio tem conteúdos importantes. Não tem porque suprimir fases dentro do processo da educação”, diz. Já o diretor do curso Positivo, Renato Ribas Vaz, acredita que, se o projeto for aprovado, o ensino médio deve desaparecer, porque os alunos do primeiro ano que forem aprovados também irão reivindicar seus direitos. “Como vamos saber se um ou outro aluno tem ou não condição porque é mais dotado? Para ingressar na universidade é preciso ter uma base de maturidade. Hoje os adolescentes já entram muito cedo”, afirma. Para o diretor do curso Dom Bosco, Luiz Octavio Stocco, o sistema de ensino no Brasil deveria ser alterado, com um período de transição entre o ensino médio e o superior. Ele cita o “College”, que funciona nos Estados Unidos como uma etapa pré-universitária. “Hoje a escolha profissional já ocorre muito cedo. Muitos jovens que concluíram o ensino médio desistem do curso porque faltou maturidade”, diz.
Capacidade comprovada?
Para o deputado autor do projeto os jovens que passam no vestibular já provaram que têm capacidade de ingressar na universidade. “Por que privá-los de algo que eles já provaram que podem superar? Temos jovens que conseguem pular algumas séries do ensino fundamental e terminam o ensino médio com 16 anos. Por que então não usar da mesma lógica? Estamos falando de alguns adolescentes, de uma minoria”, afirma o deputado.
Quatro de seis estudantes do curso Dom Bosco que foram aprovados em vestibulares no ano passado, quando concluíram o 2.º ano do ensino médio, avaliam como positiva a proposta. Para Luiz Fernando Souza, 17 anos, aprovado em Química pela UFPR no último vestibular, é justo que o estudante aprovado no concurso, independente de ter concluído o ensino médio, tenha o direito de ingressar na universidade. “Queria muito poder já estar na universidade. E a maturidade emocional é uma questão da gente se adaptar ao meio em que está”, afirma.
Já Gabriel Mantovani Czakowski, 16 anos, aprovado no Bacharelado em Matemática no último vestibular da UFPR, a medida seria válida somente para aqueles estudantes que sabem o que querem. “Se eu tivesse começado a faculdade e não terminasse o ensino médio, não iria perceber que na verdade busco outra coisa. Acho que devo cursar algo na área de tecnologia e análise de sistemas”, diz.
Para a mestre em educação e consultora educacional de Inteligência do Instituto para a Otimização da Aprendizagem (Inodap), Maria Lúcia Sabatella, o projeto de lei seria válido se aliasse a aprovação do estudante com a comprovação de superdotação. “Passar em vestibular não quer dizer muita coisa. Pode ser um estudante razoável, que não tenha competência para assumir uma universidade. Não temos vestibulares homogêneos no Brasil e corremos o risco de adiantar muitos estudantes sem condições mínimas de conhecimento para frequentar uma faculdade”, afirma.
* * * * *
Interatividade
Estudantes do 2ºano do ensino médio aprovados no vestibular devem ingressar no ensino superior?
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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Enquanto está em tramitação, estudantes e educadores têm mostrado opiniões diferentes quanto ao que a medida pode provocar, caso seja aprovada. Uma das preocupações dos educadores é com relação à aceleração de etapas de ensino que uma lei como esta pode trazer. Para o chefe do departamento de processos seletivos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Jair Almeida, a aprovação no vestibular não deve dispensar a conclusão do ensino médio. “Uma coisa é tratar como gênios os estudantes que passam em vestibulares de alto nível. Mas temos vestibulares em que é muito fácil passar. É muito complicado este tipo de analogia”, diz.
Falta atenção para os superdotados no Brasil. O projeto de lei que pretende permitir o ingresso na universidade de estudantes que ainda não concluíram o ensino médio, mas foram aprovados no vestibular é, na opinião de especialistas, um reflexo da falta de uma política clara de atenção aos superdotados na rede de ensino brasileira.
O coordenador do núcleo de concursos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Raul Von der Heyde, também é contrário à proposta e diz que uma lei como essa irá suprimir uma fase de estudos do estudante. “O 3.º ano do ensino médio tem conteúdos importantes. Não tem porque suprimir fases dentro do processo da educação”, diz. Já o diretor do curso Positivo, Renato Ribas Vaz, acredita que, se o projeto for aprovado, o ensino médio deve desaparecer, porque os alunos do primeiro ano que forem aprovados também irão reivindicar seus direitos. “Como vamos saber se um ou outro aluno tem ou não condição porque é mais dotado? Para ingressar na universidade é preciso ter uma base de maturidade. Hoje os adolescentes já entram muito cedo”, afirma. Para o diretor do curso Dom Bosco, Luiz Octavio Stocco, o sistema de ensino no Brasil deveria ser alterado, com um período de transição entre o ensino médio e o superior. Ele cita o “College”, que funciona nos Estados Unidos como uma etapa pré-universitária. “Hoje a escolha profissional já ocorre muito cedo. Muitos jovens que concluíram o ensino médio desistem do curso porque faltou maturidade”, diz.
Capacidade comprovada?
Para o deputado autor do projeto os jovens que passam no vestibular já provaram que têm capacidade de ingressar na universidade. “Por que privá-los de algo que eles já provaram que podem superar? Temos jovens que conseguem pular algumas séries do ensino fundamental e terminam o ensino médio com 16 anos. Por que então não usar da mesma lógica? Estamos falando de alguns adolescentes, de uma minoria”, afirma o deputado.
Quatro de seis estudantes do curso Dom Bosco que foram aprovados em vestibulares no ano passado, quando concluíram o 2.º ano do ensino médio, avaliam como positiva a proposta. Para Luiz Fernando Souza, 17 anos, aprovado em Química pela UFPR no último vestibular, é justo que o estudante aprovado no concurso, independente de ter concluído o ensino médio, tenha o direito de ingressar na universidade. “Queria muito poder já estar na universidade. E a maturidade emocional é uma questão da gente se adaptar ao meio em que está”, afirma.
Já Gabriel Mantovani Czakowski, 16 anos, aprovado no Bacharelado em Matemática no último vestibular da UFPR, a medida seria válida somente para aqueles estudantes que sabem o que querem. “Se eu tivesse começado a faculdade e não terminasse o ensino médio, não iria perceber que na verdade busco outra coisa. Acho que devo cursar algo na área de tecnologia e análise de sistemas”, diz.
Para a mestre em educação e consultora educacional de Inteligência do Instituto para a Otimização da Aprendizagem (Inodap), Maria Lúcia Sabatella, o projeto de lei seria válido se aliasse a aprovação do estudante com a comprovação de superdotação. “Passar em vestibular não quer dizer muita coisa. Pode ser um estudante razoável, que não tenha competência para assumir uma universidade. Não temos vestibulares homogêneos no Brasil e corremos o risco de adiantar muitos estudantes sem condições mínimas de conhecimento para frequentar uma faculdade”, afirma.
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Interatividade
Estudantes do 2ºano do ensino médio aprovados no vestibular devem ingressar no ensino superior?
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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Projeto de lei que pretende permitir o ingresso na universidade de estudantes que ainda não concluíram o ensino médio, mas foram aprovados no vestibular é, na opinião de especialistas, um reflexo da falta de uma política clara de atenção aos superdotados na rede de ensino brasileira.
De acordo com a mestre em Educação e consultora educacional de Inteligência do Instituto para a Otimização da Aprendizagem (Inodap), Maria Lúcia Sabatella, apesar de a Lei de Diretrizes e Bases prever que o aluno superdotado deve ser tratado de acordo com suas necessidades, ainda há dificuldades em acelerar o ensino desses estudantes. Isso ocorre, segundo relata Maria Lúcia, porque a certificação para aceleração fica a cargo das escolas. “A escola nem sempre aceita um superdotado e não está preparada para identificá-lo. E se ele não é identificado, não há demanda. Para alguns estudantes que são superdotados chega um momento que é preciso fazer esta aceleração sob pena de gerar insatisfação e problemas emocionais”, afirma.
Habilidades
A presidente da Associação Brasileira para Altas Habilidades e Super Dotados (Abahsd), Erondina Miguel Vieira, ressalta que de 3% a 5% da população brasileira em idade escolar possui altas habilidades. O número representa cerca de dois alunos por sala de aula que deixam de ser identificados por falta de preparo profissional. “Fala-se muito das necessidades especiais com relação às pessoas com deficiência, mas pouco se faz para os estudantes com altas habilidades”, diz. Na opinião de Maria Lúcia, muitos dos que não são identificados como superdotados acabam desistindo da escola.
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