Recentemente, realizou-se na Espanha, um estudo
sobre os critérios psicológicos que regem a escolha de um parceiro (Colom, Aluja
e García-López, 2.002), ou seja, investigaram-se quais são as semelhanças
psicológicas entre os membros de um casal.
Para começar, seria razoável pensar que a personalidade
dos membros de um casal deve ser compatível. Uma pessoa emocionalmente estável
não conviverá bem com um companheiro instável. Uma pessoa introvertida terá
frequentes problemas ao conviver com um extrovertido que adora ter a casa cheia
de gente e frequentar festas barulhentas até altas horas da madrugada. Uma
pessoa que não se compromete emocionalmente com certeza terá problemas para consolidar
uma relação, mas, supondo que o faça, não gostará que seu par seja muito “apegado
ou dependente”.
Contudo, essas predições podem estar erradas. Pode
acontecer que uma pessoa estável complemente alguém instável, que a
extrovertida complementa a introvertida, ou que a dependente complementa outra
com dificuldades para estabelecer compromissos. O que acontece quando se estuda
essa questão?
Na pesquisa desenvolvida na Espanha, foram
estudados quase 350 casais com idades entre 34 e 77 anos. Os resultados
revelaram que não havia semelhança em extroversão ou instabilidade emocional.
Uma pessoa extrovertida podia, aleatoriamente, formar um par com outra
extrovertida, com uma pessoa ambivertida ou com uma introvertida. Acontece exatamente
a mesma coisa no caso de instabilidade emocional. Contudo, constatou-se uma
afinidade de 20% no item desapego emocional.
O que tem
a ver a extroversão, a instabilidade emocional e o desapego com a inteligência ?
Na verdade, não existe relação alguma. O
aspecto relevante desse estudo é que também foi pesquisado se existia
semelhança entre o nível de inteligência dos membros dos casais avaliados.
Qual é o seu prognóstico ? Pensa que haverá semelhança
entre os membros do casal quanto ao nível de inteligência ? Pois a verdade é que o estudo revelou uma semelhança
de 50% no nível de inteligência dos membros do casal, quase três vezes mais
do que a semelhança observada em desapego emocional. Deste modo, conclui-se que os membros do casal são parecidos em seu
nível de inteligência e que o são de maneira altamente significativa. Essa
semelhança é resultado de os membros do casal possuírem um nível de ensino
similar ? Não. As análises estatísticas realizadas permitiram descartar essas possibilidade,
e o que se pode afirmar é que os membros
do casal são genuinamente parecidos em seu nível de inteligência.
A
semelhança observada quanto ao nível de inteligência foi calculada a partir dos
escores obtidos pelos membros dos casais em um teste-padrão de inteligência, cuja
aplicação levou apenas meia hora.
Contudo, podemos ter certeza de que, quando essas pessoas decidiram formar um
casal, consideraram cuidadosamente as qualidades do outro, mas não lhe pediram
para resolver um teste de inteligência. Deixaram de aplica um teste de
inteligência a seu potencial companheiro, mas certamente observaram nele
qualidades que revelavam, de algum modo bastante visível, o nível de
inteligência que, anos depois, o teste revelou. Esse fato acrescenta força
àquilo que comentávamos anteriormente : as
qualidade que as pessoas consideram relevantes ao avaliar a inteligência estão
relacionadas com as atividades que devem ser realizadas para resolver um teste
de inteligência. Por conseguinte, o quepensam e dizem as pessoas sobre
inteligência é muito parecido com aquilo que os psicólogos consideram que deve
ser avaliado por um teste desse tipo.
Extraído do livro Carmem Flores-Mendonza e Roberto
Colom, em "Introdução à Psicologia das Diferenças Individuais",
Editora Artmed, fls. 63/64.
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