Extraído do site : ://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/201503-o-ranking-do-enem.shtml
HÉLIO
SCHWARTSMAN
O ranking do Enem
SÃO PAULO - Saiu
mais um ranking de colégios baseado no Enem. Não tenho nada contra a cultura da
avaliação, muito pelo contrário. Acredito naquele mantra da física que diz que
só conhecemos aquilo que podemos medir. Antes da introdução de exames como
Enem, Enade, Saresp, Prova Brasil, Pisa, vivíamos numa espécie de caverna
platônica, na qual, sem acesso a dados empíricos sobre a educação, tomávamos
sombras por realidade.
Feita a defesa da avaliação, é preciso evitar o
risco de fazer uma interpretação fundamentalista dos rankings. O mundo é melhor
com eles, mas isso não significa que sejam perfeitos e não carreguem
distorções. É preciso compreendê-las para não comprar gato por lebre.
Uma vantagem do Enem é que, por ser um exame que
assegura vaga em universidade, é a prova em que os alunos mais se esforçam para
ir bem. A desvantagem é que, por ser um teste não obrigatório, ele vem com
vieses de seleção que o tornam pouco adequado para avaliar escolas.
Esse efeito pode ter prejudicado o desempenho de
colégios de elite paulistas. Alunos tão bons que estejam confiantes de que
conseguirão entrar em instituições que não usam o Enem em seu processo
seletivo, como a USP e o ITA, não têm incentivo para fazer a prova, o que puxa
para baixo a média de suas escolas.
Analogamente, dado que a disputa pelas posições
mais altas é apertada --o 70º colocado tem nota apenas 10% menor que a do
primeiro--, não é difícil para um colégio galgar alguns pontinhos manobrando
para que só os melhores estudantes façam a prova. Valem truques como expulsar
alunos repetentes ou oferecer prêmios para que aqueles que costumam gabaritar
se inscrevam.
Eu costumo até brincar afirmando que, como é forte
a correlação entre renda dos pais e desempenho escolar, o modo mais eficiente
de uma escola melhorar sua posição no Enem é aumentar o valor da mensalidade.
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