O perfeccionismo, excesso de autocrítica, sensibilidade exacerbada,
entre outras características associadas à dimensão emocional, têm sido também
apontados com possíveis fontes de stress para crianças e jovens com altas
habilidades intelectuais.
O perfeccionismo diz respeito a "uma combinação de
pensamentos e comportamentos geralmente associados a altos padrões ou
expectativas com relação ao próprio desempenho" (Schuler, 2002, p.
71), variando em uma gradação que vai do normal ou saudável ao
neurótico ou não-saudável.
Estudos realizados por Schuler (2000, 2002; Schuler & cols., 2003) e
Moreira (2005) constataram que muitos superdotados apresentam o
perfeccionismo que se caracteriza como saudável, constituindo-se em uma
influência positiva para a sua realização pessoal. Estes estabelecem
altos padrões de desempenho, dedicam-se com afinco e comprometimento na
realização das tarefas referentes às metas que almejam alcançar, têm
expectativas mais realistas com relação a si mesmos, apresentam sentimentos de
prazer ao perceber o resultado positivo de seus esforços, reconhecendo e
aceitando tanto os seus pontos fortes quanto as suas limitações. Por outro lado, os
perfeccionistas neuróticos são incapazes de se sentirem satisfeitos com o seu
próprio desempenho, uma vez que consideram que o que fazem nunca atinge o nível
que gostariam. É comum refazerem o mesmo trabalho muitas vezes, investindo uma grande
quantidade de tempo e energia para alcançar o nível de qualidade que desejam
nas tarefas realizadas. São ainda dominados pelo medo do fracasso, excessivamente
autocríticos e altamente sensíveis às críticas externas, além de
considerarem os próprios erros, não como uma oportunidade para aprender, mas
antes como algo humilhante, a ser evitado a todo custo. É freqüente
apresentarem-se como ansiosos, preocupados e inseguros a respeito de seu
desempenho.
No Brasil, um estudo realizado por Moreira (2005), com uma amostra de 51
estudantes superdotados, que freqüentavam o programa para alunos com altas
habilidades da Secretaria de Educação do Distrito Federal, indicou que 34
(66,67%) se classificaram como perfeccionistas saudáveis e 10 (19,61%) como
perfeccionistas não-saudáveis. Um percentual similar de perfeccionistas foi observado
em estudo realizado por Schuler (2000), com uma amostra de 112 alunos
superdotados, dos quais 98 se identificaram como perfeccionistas. Entretanto,
deste total, 65 (58,03%) da amostra total foram classificados como saudáveis e
33 (29,46%) como não-saudáveis. Tais resultados chamam a atenção para um número
significativo de alunos superdotados que necessitam de assistência, no sentido
de que possam compreender e lidar melhor com a psicodinâmica de sua conduta,
buscando reverter a dimensão disfuncional e destrutiva do perfeccionismo que
apresentam.
Com o objetivo de ajudar o superdotado que apresenta
problemas e dificuldades de ordem psicológica, vários centros e serviços
de aconselhamento foram criados, especialmente nos Estados Unidos, país que
mais tem investido na educação daqueles alunos que se destacam por um potencial
superior.
Também a família do superdotado,
muitas vezes, necessita de aconselhamento. Algumas têm dificuldade em
lidar com a discrepância entre o desenvolvimento intelectual e emocional do
superdotado, sendo esta, inclusive, a maior dificuldade apontada pelos pais nas suas
relações com filhos que se destacam por uma inteligência superior, conforme
observado por Landau (1990).
Muitos pais sentem-se perdidos sobre a melhor maneira
de lidar e orientar o seu filho com altas habilidades. Esta dificuldade é
sentida com freqüência em nosso meio, dado o reduzido número de programas de
ordem acadêmica voltados para o superdotado, que venham a atender às suas
necessidades de aprendizagem e possibilitar-lhes o contato com colegas que
também se sobressaem por um potencial superior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário