Fonte
: http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/04/09/professores-nao-conseguem-perceber-diferenca-entre-alunos-aponta-pesquisa.htm
Fernando Pivetti
Da Agência USP
·
Dentro do
contexto escolar, os professores têm dificuldades de enxergar as diferenças
existentes entre os alunos em uma sala de aula. Uma
pesquisa da FE (Faculdade de Educação) da USP (Universidade de São Paulo)
aponta que a maioria dos educadores não conseguem desenvolver projetos de
ensino eficientes e que contemplem a todos os estudantes devido à falta
de métodos de aprendizado e recursos pedagógicos.
Cerca de 60% das professoras
caracterizaram a heterogeneidade dos alunos apenas enquanto diferenças nos
níveis de aprendizado apresentados por eles. Outros 24% focaram as diferenças a
partir das deficiências dos alunos, como transtornos de atenção, hiperatividade
e outros casos, com ênfase nos aspectos negativos que esses comportamentos
trazem para a sala de aula.
Apenas 16%
das professoras que participaram do estudo justificavam a classe heterogênea a
partir das diferenças de personalidade, de história e de vivência das crianças,
observando com naturalidade as riquezas desse fenômeno.
No estudo
feito por Miriam Brito Guimarães foram entrevistadas 31 professoras da rede
pública de ensino, e que trabalham com os anos iniciais da alfabetização de
crianças. As educadoras trabalham em três escolas da periferia da cidade de São
Paulo. Segundo a pesquisadora, a escolha da periferia leva em consideração o
grande impacto do professor em promover a educação dentro das classes mais
pobres. "Nesse meio, as escolas têm grande potencial de transformação das
pessoas."
As
entrevistas realizadas com as professoras eram escritas e utilizavam dois
contextos. O primeiro buscava realizar um levantamento sobre como o professor
enxergava a sua própria sala de aula, e o outro contexto buscava promover um
debate sobre um caso de heterogeneidade dentro de uma classe e a maneira como o
professor lida com essa demanda.
Na segunda
etapa do estudo, as professoras participantes avaliaram um contexto de sala
aula em que os alunos possuíam diferentes origens, religiosidades e gêneros.
"É interessante notar que, nesse momento, as professoras identificavam a
real heterogeneidade entre os alunos e reconheciam, no exemplo dado, a sua
turma", aponta Miriam.
Confira
experiências inspiradoras de professores em escolas de todo o país15 fotos
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Para melhorar
a comunicação entre entre crianças e deficientes visuais e auditivos, a
professora Sara Rufino Mazzei criou o projeto de educação inclusiva
"Leitura por todos os sentidos". O objetivo do projeto é ensinar
braille e libras (Língua Brasileira de Sinais) para alunos do ensino
fundamental da Escola Municipal Professora Silvia Regina Schiavon Marasca, em
Itanhaém (a 114 km de São Paulo). Na foto, a funcionária Daniele Cristina de
Ponte é deficiente auditiva e conversa com os alunos por linguagem de sinais.
As crianças pedem para ir ao banheiro e tomar água apenas usando os sinaisLeia mais Katia
Doenz/Prefeitura Municipal de Itanhaém/Divulgação
Dificuldades
e estratégias
As análises
realizadas pelos participantes apontaram que a principal dificuldade dos
professores frente às diferenças dos alunos é a carência de recursos
pedagógicos, revelando uma formação profissional que não os prepara para
esse contexto. Entretanto, a pesquisadora ressalta que um aspecto positivo
é a visão de apoio que os professores possuem da coordenação e direção das
escolas. "A escola, enquanto coordenação, é vista pelos professores como
recurso de apoio, e não apenas como fonte de cobrança pelo seu trabalho".
Miriam afirma
que a carência identificada pelos professores serve de alerta para a avaliação
das estratégias de ensino dentro da sala de aula. "É necessário
utilizar hoje outras habilidades, para atender diferentes demandas. Uma única
forma de trabalhar com a classe gera um processo de exclusão".
Para ela, o
déficit de recursos advém da formação dos próprios professores, e a melhoria
nesse ponto, como cursos de especialização, não é vista como alternativa
pelos profissionais. "Na academia, a heterogeneidade também se aplica. Se
a gente entende que um grupo de professores é heterogêneo, é preciso considerar
essas diferenças durante a formação deles e ouvir suas necessidades",
completa.
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