TESE DO DR. DANIEL MINAHIM
ARAÚJO DA SILVA
INSTITUTO DE PSIQUIATRIA
DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (Hospital das Clínicas)
Transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade em superdotados: Um estudo de frequência de sintomas e
alterações físicas menores
Leitores, hoje tive o
grande prazer de poder assistir a TESE defendida pelo psiquiatra Dr. Daniel
Minahim, no Instituto de Psiquiatria da USP, sobre o tema acima abordado : DDA
E TDAH em superdotados e adorei o tema escolhido e a tese, por ele,
desenvolvida !
O que me chama a atenção
é o pouco conhecimento do assunto, que foi confessado pelos psiquiatras
renomados que compuseram a banca do Dr. Daniel, sobre o tema superdotação.
E também sei que um
estudo de caso como este que o Dr. Daniel apresentou, demonstrou e comprovou, com números e dados (quantidade e qualidade), com uma pesquisa
aprofundada e real, irá gerar muita polêmica dentre os especialistas da superdotação,
que quase acreditam que a co-existência da TDAH com a superdotação é muito rara e quase ínfima, bem como atribuem os comportamentos hiperativos dos superdotados como uma característica
sua, inata, quando a pesquisa do Dr. Daniel demonstrou que cerca de 1/3 da população
superdotada testada apresenta algum sintoma de TDAH, seja do tipo DDA ou do
tipo combinado (hiperatividade e impulsividade, ou DDA). Este resultado por ele
apresentado vai, com certeza, balançar os alicerces e certezas dos
especialistas da área, que, quem sabe, através das pesquisas científicas, como
esta realizada pelo Dr. Daniel Minahim, possam mudar o olhar destes, para a questão
da co-existência da TDAH dentre os superdotados.
Por essa e por outras
que, cada vez mais eu defendo a avaliação e diagnóstico para altas habilidades
/ superdotação a ser realizado com uma EQUIPE MULTIDISCIPLINAR, com vários
olhares, de vários profissionais da área da saúde, para que não deixemos
escapar outras condições também importantes, além da superdotação no
diagnóstico da pessoa que procura uma avaliação.
Prá mim, foi um grande prazer poder assistir a defesa de tese e aprender, mais ainda, sobre este assunto tão complexo que é a dupla excepcionalidade : TDAH e Superdotação !
Parabéns, Daniel, pelo brilhantismo do trabalho, da pesquisa e pela escolha deste tema, tão delicado e que tanto precisamos que seja aprofundado, no Brasil.
Para quem quiser
conhecer a tese completa, clique neste link : https://www.dropbox.com/s/px5urup3r63zvn2/dissert.pdf
MINAHIM, D. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em Superdotados: um estudo de frequência de sintomas e alterações físicas menores [Dissertação].
São Paulo:
Faculdade de Medicina, Universidade de
São Paulo;
2013.
INTRODUÇÃO: Os dados anteriores sobre a frequência de sintomas de TDAH na população de alto QI ainda são escassos e contraditórios, principalmente no topo da curva. OBJETIVO: Avaliar a frequência
e o padrão de sintomas de TDAH em indivíduos
superdotados durante dois momentos distintos do ciclo de vida, aplicando escalas
padronizadas. Além disso, testamos se uma associação entre anomalias físicas
menores e TDAH pode ser encontrada em adultos superdotados.
MÉTODOS: Dois estudos transversais
foram realizados em indivíduos previamente avaliados para QI com as Matrizes
Progressivas de Raven: (1) Mensa: Este estudo incluiu 77 participantes adultos (22 % mulheres)
recrutados a partir dos registros de membros ativos da Mensa Brasil que vivem em São Paulo. A escala ASRS-18
e uma versão modificada
da escala Waldrop
para
pequenas anomalias
físicas foram aplicadas;
(2) Colégio Objetivo: Foram incluídas todas as crianças do primeiro
ao quinto ano do ensino fundamental (6-11 anos de idade)
que estavam acima do percentil 99 para o
QI (n =39). O grupo controle incluiu 39 colegas
de classe selecionados aleatoriamente entre aqueles abaixo do percentil 90 para QI pareados por idade e sexo. Os professores avaliaram os participantes usando
o MTA-SNAP-IV.
RESULTADOS: (1) Mensa: A frequência estimada
do TDAH foi de 37,8 %. O número total de anomalias
físicas menores foi
significativamente
associado com TDAH (p <0 span="" style="letter-spacing: -1.0pt;">
0>e 8 dos 36 sinais avaliados
apresentaram esta associação individualmente (p <0 span="" style="letter-spacing: 1.0pt;"> 0>
(2)
Colégio Objetivo: Obtivemos uma frequência de TDAH
de 25,6 % no grupo controle e 17,9 %
no grupo de indivíduos de alto QI (OR = 0,64, p= 0,58).
CONCLUSÃO: Embora nossos dados não confirmem inequivocamente a
maior prevalência de TDAH em indivíduos de alto QI durante o ciclo de vida, eles sugerem a validade do diagnóstico nesta população. Na população da Mensa, foi encontrada uma associação entre os casos de TDAH
e anomalias
físicas menores, apoiando
ainda mais a noção de que o
TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento.
Descritores: Transtorno do déficit
de atenção com hiperatividade;
Inteligência; Anormalidades múltiplas; Testes de inteligências; Reprodutibilidade dos testes; Criança; Adulto; Estudos transversais.
CONCLUSÕES
:
Os estudos realizados com os dois grupos de pessoas reconhecidamente superdotadas por critérios nacionalmente validados,
permitiu que se concluísse:
Nossas descobertas, tomadas em conjunto, não sugerem que o TDAH é mais frequente entre os superdotados.
Contudo indicam que os sintomas de
TDAH
ocorrem com certa frequência nessa população,
contra o que é previsto
pela teoria da reserva cognitiva. Consideramos que os resultados do nosso estudo contribuem
para fortalecer a validade do diagnóstico de TDAH em crianças de alto QI e adultos como indicado por Antshel et al. (2009)
;
Existe uma frequência muito elevada, entre os
adultos da Mensa, de
sintomas de TDAH;
Dentre as crianças estudadas
também encontramos
uma frequência elevada de TDAH tanto no grupo de superdotados
como no grupo de controle;
Em ambas as amostras, o tipo combinado foi aparentemente o
mais frequente ;
Também encontramos
presença significativa de alterações físicas menores
na po pulação
de adultos superdotados,
que preencheram os critérios de pesquisa para TDAH, ressaltando-se oito anomalias físicas
menores que apresentaram
associação significativa individual.
Muito interessante. Citarei este trabalho em breve nos meus estudos. Obrigada!
ResponderExcluirÉ muito importante divulgar esta importante pesquisa, pois inicialmente - quando estes alunos começaram a ser percebidos nas escolas, lá pelo final do século XIX e início do século XX, os alunos com perfil hiperativo foram considerados infradotados, inclusive sendo separados da turma de crianças normais. Foram consideradas com "retardo mental". Ainda hoje crianças hiperativas sofrem bullying por serem xingadas pelos colegas (e não raro por adultos) como sendo "burros". Elas se sentem incapazes, e esta insegurança as perseguem pro resto de suas vidas. Eu mesma sofri muito com este tipo de assédio moral e ainda hoje tenho sérias dificuldades para acreditar em mim mesma. Preciso reunir uma série de evidências, graças a um grande esforço pessoal tremendo, muita dedicação em termos de meu tempo e planejamento, a um custo emocional que só eu posso estimar. As pessoas que me conhecem hoje, adulta, nem imaginam que eu tenha esta insegurança. Mas tenho. Sim, sou resiliente. Mas os fantasmas ainda me assombram. Sorte que aprendi a exorcizá-los (e hoje: sorrindo nem que seja apenas por dentro, ao invés de fugir ou chorar). Obrigada pela iniciativa!
ResponderExcluirNo que depender de mim, irei difundir o máximo possível está tese ! Obrigada pelo seu depoimento !
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