Extraído da Seção Equilíbrio do Jornal A Folha de São Paulo
MONIQUE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
21/01/2014 03h09
Beatriz Koh, 8, teve problemas
para se adaptar à escola e chegou a não querer frequentar as aulas
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O início das aulas para Beatriz Koh, 8,
foi mais custoso que o de outras crianças de sua idade. "Ela chegava da
escola chorando", conta o pai, Eduardo Koh, empresário. "A Bibi tinha
dificuldade para fazer amigos e demorou para se adaptar."
Beatriz
passou por um período descrito popularmente como fobia escolar, medo excessivo
de ir ou permanecer na escola capaz de provocar crises de choro, náuseas,
tonturas, dores de cabeça e suor excessivo em alguns alunos.
Um dos
primeiros artigos sobre o assunto, "School Phobia And Its Treatment"
("A fobia escolar e o seu tratamento"), publicado no "British
Journal of Medical Psychology", em 1964, mostrou que a fobia escolar é
caracterizada como ansiedade de separação, ou seja, dificuldade da criança de
se adaptar a um novo espaço sem a presença do vínculo familiar do qual é
dependente –a mãe, na maior parte dos casos.
É
por esse motivo que esse tipo de fobia se diferencia de outras mais conhecidas,
como a de elevador e de altura.
A
Associação Americana de Depressão e Ansiedade estima que a ansiedade de
separação acometa 5% das crianças em idade escolar.
"Nos
casos mais graves, o aluno apresenta forte dependência da figura materna",
explica Ana Olmos, psicoterapeuta especializada em avaliação neuropsicológica
infantil. "A falta de autonomia pode atrasar a formação de novos vínculos
e a criança se sente excluída, o que é um gatilho para fobia", diz.
Bullying
e problemas na família como agressões e separações podem agravar ou iniciar o
transtorno.
PREOCUPAÇÃO
NORMAL
A
ansiedade, porém, se dá em vários níveis e nem sempre é preocupante. Segundo
terapeutas e educadores, alguma dificuldade no começo da vida escolar é comum.
"Há uma dificuldade inicial de convivência com os outros na escola",
diz Ascânio João Sedrez, diretor do Colégio Marista
Arquidiocesano, na Vila
Mariana. "São muitos os desafios dessa fase".
A
maioria das crianças se adapta em uma semana, aproximadamente –período em que
alguns colégios permitem que os pais permaneçam na escola, mas em salas
separadas para não interromper a transição.
"Mas quando essa ansiedade perdura
por algumas séries é necessário analisar se há um transtorno mais grave",
afirma Mônica Miotto Bertolini, coordenadora pedagógica do Colégio São Judas
Tadeu, no bairro do Cambuci. "Já tivemos uma aluna com síndrome de pânico
associado a esse medo", diz.
Nessas
circunstâncias, a transferência para um colégio especializado pode ser indicada
para a superação do transtorno. "As crianças se adaptam mais facilmente
quando encontram outros colegas na mesma situação", explica Elizabeth
Polity, terapeuta familiar e coordenadora do Colégio Winnicott, no Jardim
Paulista.
É o caso da
Nathália Silveira Dias, 13. Após frequentar quatro escolas e receber
diagnóstico de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ela só
conseguiu se adaptar em uma escola específica. "Ela se sentiu muito
excluída", lembra a mãe Renata Silveira Dias, dona de casa. "Hoje ela
se reconhece nos outros alunos."
Caso a
avaliação médica descarte transtornos associados, a ansiedade de separação pode
ser tratada com terapia cognitivo comportamental. Nela, a criança aprende a
substituir hábitos de dependência por outros que a habilite a enfrentar os
desafios do novo espaço coletivo.
A terapia
familiar também pode ajudar a desatar vínculos de dependência. "Com a
terapia, a Beatriz passou a estabelecer novas relações e hoje ela é líder nas
brincadeiras", diz o pai.
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