Por Selma Boer, Maria Alice Fontes
O que é a superdotação?
A superdotação é um fenômeno que se caracteriza por uma elevada
capacidade mental e um nível de performance significativamente superior à
média. Nos Estados Unidos, o sistema educacional tem o objetivo de identificar
estudantes, crianças, ou jovens que demonstram grandes habilidades na área
intelectual, criativa, artística, capacidade de liderança ou em determinadas
áreas acadêmicas específicas, e que precisam de serviços e atividades
normalmente não fornecidos pela escola, a fim de desenvolver plenamente essas
habilidades. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que entre 3,5% a 5% da
população brasileira seja composta de superdotados.
Como é medido o grau de superdotação?
O grau das capacidades mentais pode ser medido através de uma escala padronizada
de Q.I. (Quociente de Inteligência), e nos indivíduos superdotados o Q.I. é
superior à 130, sendo que a média para a população geral é 100 a 110.
Entretanto, a caracterização de um indivíduo superdotado vai muito além do QI,
um número atribuído por um sistema padronizado, e deve envolver a análise
aprofundada da personalidade e das habilidades da criança.
Seria possível ensinar uma criança até
se tornar superdotada?
Diferentemente de uma habilidade, que pode ser adquirida através do
aprendizado, a superdotação é entendida como um talento, uma aptidão inata; ou
seja, o indivíduo nasce superdotado, e necessitará de um ambiente que lhe
ofereça condições para exercer essas capacidades de forma adequada. Estes
indivíduos, além das elevadas capacidades intelectuais, criativas ou artísticas
tem forte espírito de liderança, e frequentemente se destacam numa determinada
área acadêmica. Sabe-se que se trata de um fenômeno com marcadores
genéticos, porém a vivência num ambiente com melhores recursos e estímulos
promovem um desenvolvimento cada vez maior das capacidades mentais do
superdotado.
Os superdotados são bons em tudo que fazem?
Os superdotados não precisam ser bons em todas as áreas. A superdotação
pode ser geral ou específica para alguma área do conhecimento. Por exemplo, uma
pessoa pode apresentar uma capacidade extraordinária em matemática ou na
música, porém na área linguística, suas competências não serem igualmente
superiores.
Quais são as principais características
das pessoas superdotadas?
Embora não exista um padrão comportamental homogêneo entre os indivíduos
superdotados, há um conjunto de características que podem servir como
indicativos na avaliação da superdotação. Vale ressaltar que os superdotados
podem apresentar diversas dessas características, mas não necessariamente todas
elas. Os traços observados são os seguintes:
- Desenvolvimento neuropsicomotor precoce: a criança engatinha, anda e fala mais cedo do que o esperado, com vocabulário avançado para a idade;
- Habilidade
superior para manutenção da atenção;
- Ótima capacidade de memória com elevada e rápida capacidade de aprendizagem;
- Persistência e motivação para a resolução de problemas;
- Aquisição precoce da leitura;
- Habilidade acima da média com números e aritmética;
- Curiosidade incomum, desejo de aprender e capacidade de elaborar questionamentos de forma ilimitada;
- Interesses em áreas específicas, podendo tornar-se especialista no assunto;
- Criatividade;
- Sensibilidade elevada, podendo apresentar fortes reações em relação a parte sensorial (ruídos, odores, dores), e especialmente à frustração;
- Comportamento de liderança;
- Energia elevada, o que pode ser confundido com hiperatividade, especialmente quando não estimuladas adequadamente;
- Aguçada percepção de relações de causa e efeito;
- Facilidade para estabelecer generalizações, ou seja, transferir aprendizagens de uma situação para outra;
- Elevado senso crítico: rapidez em identificar contradições e inconsistências;
- Pensamento
divergente: habilidade em encontrar diversas idéias e soluções para um
mesmo problema;
- Tendência ao perfeccionismo.
Há diferenças no cérebro das pessoas
superdotadas em comparação às pessoas com inteligência normal?
Uma pesquisa conduzida pelo National Institute of Mental Health, nos
EUA, mostrou diferenças no desenvolvimento cerebral de crianças com Q.I.
elevado, quando comparadas com crianças com inteligência normal. Esse estudo
apontou, através do uso de Ressonância Magnética, que a córtex cerebral de
crianças com Q.I. superior a 121, atingia sua espessura máxima mais tarde do
que o esperado. Por exemplo, aos 12 anos de idade, ao invés de 8 a 9 anos, em
média, e após atingir essa espessura, o processo de maturação do córtex ocorria
numa velocidade muito mais rápida. Tendo em vista que o córtex cerebral é a
estrutura responsável pelas funções mentais mais complexas, e a área cortical
pré-frontal relacionada ao planejamento, organização e controle, os dados da
pesquisa podem explicar a facilidade da criança em resolver problemas de grande
complexidade.
O superdotado pode se deparar com algum
tipo de dificuldade?
As crianças superdotadas podem eventualmente sofrer de problemas no
ajustamento socioemocional. Uma vez que o desenvolvimento das capacidades
mentais e intelectuais encontra-se muito acentuado, e incompatível com os pares
da mesma idade, é comum que o superdotado tenha prejuízos na interação social,
devido a dificuldade em compartilhar os mesmos interesses. Alguns acabam por se
relacionar com crianças mais velhas ou adultos, ou até mesmo podem apresentar
um grande apreço pela solidão. Se a criança superdotada não for auxiliada pela
família ou até mesmo por um profissional para lidar de modo adequado com sua
condição, esse desajuste socioemocional pode evoluir para problemas de
personalidade ou até depressão e ou traços de agressividade.
Como lidar com um filho superdotado?
É no campo emocional que se encontram algumas das maiores demandas
dessas crianças, e dessa forma, os pais devem auxiliá-las a ter um
desenvolvimento psicológico mais saudável possível. A superdotação só oferece
vantagens se os aspectos psicossociais se encontram ajustados.
Quais são as dicas para os pais?
- Oferecer um ambiente com recursos que estimulem continuamente as capacidades mentais da criança;
- Evitar
a supervalorização e as expectativas quanto ao desempenho da criança; ela
mesma, em geral, já é muito exigente, e os pais devem aceitar falhas e
ajudar a criança a enfrentar dificuldades de qualquer ordem.
- Ajudar a criança a lidar com frustrações emocionais; apesar do superdotado não passar por dificuldades no aspecto acadêmico, o fracasso faz parte de outros contextos da vida, e prepará-lo para isso é favorecer seu desenvolvimento emocional saudável;
- Não
se esquecer que, embora possua capacidades avançadas para sua idade o
superdotado deve ser tratada de acordo com a sua faixa etária de
desenvolvimento.
O que fazer se você suspeita que seu
filho é superdotado?
Caso você perceba que seu filho está muito diferente dos amigos, e que
sua capacidade de aprendizagem e habilidade mental são elevadas, leve-o para
fazer uma avaliação específica com um psicólogo experiente neste assunto. Uma
avaliação neuropsicológica poderá precisar se as potencialidades estão
realmente acima da média de outras crianças.
A partir de que idade é possível
avaliar?
A padronização dos testes de QI (Escala Weschler para crianças - WISC),
com tabelas normativas existe a partir dos 6 anos completos. Antes desta idade
é possível fazer uma avaliação qualitativa, mas para o cálculo do QI é
necessário que a criança tenha 6 anos completos.
O que um psicólogo habilitado pode fazer
para ajudar?
Um psicólogo treinado pode: a) detectar possíveis pessoas altamente
habilidosas por meio de avaliações específicas; b) no caso de crianças,
orientar suas famílias e professores; c) encaminhar crianças altamente
habilidosas à escolas que possam suprir a necessidade de estimulação, enviando
relatórios das avaliações feitas nas diferentes áreas; d) orientar, aconselhar
e encaminhar superdotados, desafiando-os a se desenvolver psicologicamente de
forma global.
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