Letícia Mattos da Silva, a aluna
superdotada que cursou três disciplinas em Harvard, nos EUA. Divulgação
Aos 16 anos de idade e sem ter concluído
o ensino médio, a adolescente Letícia Mattos da Silva, de Porto Alegre (RS), já
conseguiu realizar o sonho de muitos brasileiros: estudar na Universidade
Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais prestigiadas do mundo.
Entre julho e agosto deste ano, a jovem cursou três disciplinas na instituição: astronomia, matemática e topologia. “Foi bem difícil, principalmente as aulas de matemática, porque era uma matéria muito específica e de um nível muito avançado. Normalmente, aqui no Brasil, eles dão isso no mestrado, às vezes no doutorado. Mas no final acho que acabei aproveitando bastante”, conta a estudante.
Letícia é o que os especialistas chamam
de superdotados, pessoas que possuem habilidades especiais ou inteligência
acima da média. A condição dela foi diagnosticada antes dos cinco anos de
idade, quando foi submetida a um teste de QI (quociente de inteligência). Desde
então, ela tem evoluído cada vez mais e encontrado muitas dificuldades em um
ambiente escolar nem sempre preparado para reconhecer e lidar com esse tipo de
aluno.
Não existem pesquisas oficiais sobre o
número de superdotados no Brasil. A última foi feita no Rio Grande do Sul em
2001 pela pela Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação (AGAAHSD),
que encontrou um índice de 7,78%. Isso significa cerca de 200 mil alunos na
educação básica do estado, ou seja, entre dois e três por sala de aula. A
estimativa do Conselho Brasileiro para Superdotação é de que entre 3,5% a 5%
dos brasileiros sejam superdotados.
Muitos deles acabam passando
despercebidos por pais e professores. Não foi o caso de Letícia. A capacidade
dela de assimilar conteúdos na sala de aula sempre foi acima da média dos
demais. Na 1ª série, ela já sabia ler, mas os pais decidiram que ela não
adiantaria um ano para conviver com crianças da mesma idade. Foi uma decisão
pensada com foco no desenvolvimento psicoemocional da criança, seguindo a
recomendação de especialistas.
Com o passar do tempo, no entanto, ela
começou a se sentir cada vez mais diferente. “Normalmente, eu falava coisas que
os meus colegas não falavam muito no dia a dia, palavras diferentes, que meus
pais usavam e meus colegas não. Ou eu lia livros que tinham mais palavras do
que eles, que na época liam algo com mais desenhos. E normalmente eu aprendia
mais rápido no colégio, com mais facilidade”, lembra Letícia.
Quando a estudante entrou no Ensino
Médio, a distância entre ela e os outros alunos ficou ainda maior. Da mesma
fora, aumentaram os problemas. “Acho que muitos professores não gostavam de
mim, porque, muitas vezes, quando eles faziam algo errado, os colegas ficavam
quietos, e eu corrigia. Quando eu acabava as minhas lições, eu sempre queria
mais, fazia mais, e acho que isso irritava um pouco eles”, conta.
A jovem explica que nunca teve problemas
por gostar de estudar, mas já sofreu por não ser compreendida. Para ela, faltam
informações e capacitação entre professores e educadores para lidar com
estudantes mais avançados. Os próprios pais de Letícia muitas vezes ficavam sem
as repostas certas sobre como proceder. “Eu não teria sofrido tanto com algumas
questões se as pessoas conhecessem mais sobre o assunto, procurassem entender
um pouco melhor além do senso comum”, desabafa.
Ela mudou de colégio e conseguiu pular
do 1º ano do Ensino Médio diretamente para o 2º ano. “Uma matéria que a
professora vai levar um mês para ensinar, eu aprendo em uma semana”, garante a
jovem, que prefere ficar em casa lendo sobre astronomia ou matemática em vez de
ir a festas. Ela diz que até já fez alguns esportes, mas nunca
encontrou um exercício que realmente interessasse. A sua paixão é os livros.
No final de 2012, quando estava com 15
anos, Letícia passou no vestibular de física da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), mas por não ter concluído o Ensino Médio foi proibida de se
matricular. Frustrada com a negativa e com vontade de ter uma experiência
universitária antes de terminar o colégio, ela foi aceita em Harvard para
cursar disciplinas avulsas. Resultado: foi aprovada nas três com conceitos A e
B. “Se eu voltar pra lá, já tenho oito créditos universitários”,
comemora.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário