Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

https://www.facebook.com/groups/aspergerteaesuperdotacaoporclaudiahakim/?ref=share

domingo, 10 de novembro de 2013

Gênios solitários




JULIANA TIRABOSCHI

O "boom" do autismo

Estatísticas recentes apontam uma explosão de casos de autismo nos EUA e em alguns países da Europa. Se antes havia uma taxa de 1 caso a cada 1.000 americanos, hoje essa proporção é de 1 a cada 150. Antes que você pense que há uma epidemia de autismo, é bom saber que esse aumento é, em grande parte, reflexo de uma mudança nos critérios de diagnóstico. "Sempre houve um número muito maior de autistas do que os diagnosticados", diz José Salomão Schwartzman. "Ampliou-se o conceito. Provavelmente muitos amigos nossos que consideramos meio esquisitos, que têm dificuldade de relacionamento e não gostam muito de sair de casa, hoje em dia caberiam no rótulo de Asperger", diz. Alguns pesquisadores identificam características da síndrome em gênios como Albert Einstein e Wolfgang Mozart, brilhantes em suas carreiras, mas deficientes nas relações humanas.


Um fenômeno observado recentemente é a disseminação de distúrbios do espectro autista em locais específicos. Um deles é o Vale do Silício, na Califórnia, lar das grandes empresas de tecnologia dos EUA. Em 1993, havia 4.911 casos de autismo registrados no estado da Califórnia - excluindo os pacientes de Asperger. Em 2001, já eram 15.441 casos. O fenômeno vem sendo chamado de "síndrome geek" e levanta novamente as questões das relações entre influência do ambiente, pais com propensão biológica e mudanças no critério do diagnóstico.


Qual ou quais fatores são responsáveis pelo "boom" autista no Vale? "Todo geek tem um pouco de asperger. Pessoas com habilidades sociais desenvolvidas não se interessam tanto assim por computadores", diz Temple Grandin sobre os fissurados por computadores, que estariam situados em uma escala menos grave do distúrbio. Isso diz um pouco sobre como funciona a mente asperger. "Exames de ressonância magnética funcional em autistas mostram que, quando eles vêem pessoas, são ativadas áreas no cérebro que as pessoas normais usam quando observam objetos", afirma Schwartzman. Isso pode significar que os autistas priorizam mais o contato com objetos do que as relações pessoais. "Sem os aspergers não haveria tecnologia", afirma Grandin.


Desse ponto de vista, o autismo acaba se diluindo entre a população, e o espectro pode chegar a níveis muito sutis. Algumas pesquisas mostram, inclusive, que é possível despertar (pelo menos um pouco) o savant que existe em cada um de nós. Acredita-se que os talentos dos savants possam vir de uma espécie de "enchente de informações". Muitos dos dados que processamos em nossos cérebros são barrados inconscientemente, porque aparentemente não têm grande importância. Porém danos aos lobos frontais do cérebro podem permitir que esse processamento entre em nosso nível de consciência, como se um filtro fosse removido. Assim os savants passariam a externar habilidades que estavam dormentes. O pesquisador Allan Snyder, diretor do Centro da Mente da Universidade de Sydney, Austrália, descobriu uma maneira de desativar em parte esse circuito, por meio da estimulação magnética intracraniana. Com esse procedimento, conseguiu melhorar a habilidade de desenho de quatro entre 11 voluntários livres de distúrbios mentais.


Isso reforça a teoria de que a semente da genialidade pode estar embutida em qualquer pessoa. Até porque temos o exemplo de casos como o do escultor Alonzo Clemons, que teve seus dotes aflorados após uma lesão cerebral. Para Snyder, a genialidade dos savants não é resultado de uma compensação do que resta da capacidade mental de um indivíduo prejudicado, mas a projeção de uma habilidade que todos têm no subconsciente.


Pode ser que um dia a ciência descubra como acionar esse "botão", que desliga os circuitos normais e impulsiona talentos incríveis que vemos em indivíduos como Kim Peek e Stephen Wiltshire, sem as limitações que aprisionam os autistas savants em seus universos solitários. Talvez, então, as palavras preconceituosas escritas em 1862 no jornal "Observer" perderão o sentido: "O pobre menino cego tem a infelicidade de possuir muito pouco da natureza humana. Parece agir inconscientemente quando é levado a se apresentar, e sua mente parece um receptáculo vazio, onde a natureza guarda suas jóias para convocá-las ao seu bel-prazer". Vivenciar a porção autista existente em nossas cabeças pode abrir nossos olhos para um tipo inédito de beleza: aquela escondida nas profundezas da mente dos gênios solitários.


APENAS UM COMENTÁRIO MEU : ATÉ AONDE EU SEI, A TEMPLE GRANDIN (que é mulher e não homem) não é médica e nem especialistas em asperger. Ela tem diagnóstico de autista de alto funcionamento e algumas pessoas acham que ela é asperger. Acho que foi um erro de traduação. Eu só copiei (transcrevi) o artigo tal como eu o encontrei !)


Um comentário:

  1. Interessante matéria. Faz alguns anos que me interesso e atuo na área de Educação Especial. Atualmente atendo um aluno com autismo. No meu blog tem referência a ele, inclusive um relato da mãe do garoto. É um mundo a ser desvendado, mas faz parte do conhecer alguém e algo.

    ResponderExcluir