Extraído do site do Jornal A Folha de São Paulo, Coluna da Psicóloga Rosely Sayão : ttp://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2013/11/1366917-aprender.shtml
Aprender
Há
muitos pais que reclamam do comportamento dos filhos em relação à vida escolar.
Em geral, porque eles não se esforçam, acham muito chato aprender e dizem que
não gostam de estudar; também porque resistem até o fim para sentar em casa e
realizar a tarefa e/ou rever a matéria; e porque não conseguem prestar atenção.
Além desses, há os que afirmam que o filho apresenta "dificuldade de
aprendizagem".
Em
relação a essa última questão, é preciso considerar que essa frase é vazia, sem
sentido. Aprender algo novo é sempre difícil, por mais que a pessoa queira ou
goste. Para aprender, é preciso reconhecer a própria ignorância, e isso tem
sido cada vez mais difícil no nosso mundo.
Em
resumo: todos nós temos dificuldades de aprendizagem, por isso seria
interessante deixarmos de lado esse rótulo quando nos referimos aos mais novos.
Retomemos
as primeiras razões das reclamações dos pais e vamos pensar no quanto eles
mesmos colaboram para que tudo aquilo aconteça com o filho, sem que eles
percebam sua contribuição.
E,
de largada, vamos lembrar: quando a criança inicia seus estudos formais, ela
terá de persistir, se esforçar, encarar o erro e procurar não repeti-lo,
aprender a "grudar a bunda na cadeira" cada vez por mais tempo e a
seguir um processo.
A
maioria dos pais reconhece tais requisitos mas, na hora de tentar passar aos
filhos, comete um equívoco: o de dizer à criança o que ela precisa fazer, na
esperança de que ela apreenda as lições dos pais e passe a aplicá-las nos
estudos. Costuma ser em vão essa estratégia, porque as crianças continuam com
os mesmos comportamentos.
É
que elas precisam aprender isso com os pais no cotidiano. Para ilustrar essa
questão, vou usar um exemplo muito presente na vida dos mais novos: os convites
para comparecer a festas de aniversários. Aliás, nunca antes as crianças
tiveram tantas demandas para eventos sociais. Será bom para elas essa alta
frequência? Ainda não sabemos.
Qual
costuma ser o comportamento das crianças em relação aos convites que recebem?
Primeiramente, elas não pensam se querem mesmo ir ou não. Desconfio que elas
acham que o comparecimento a essas festas é obrigatório, como ir à escola.
Elas
não pensam porque os pais não as levam a isso. Perguntar ao filho qual ou quais
motivos ele tem para querer ir à festa pode ser um bom começo. Ele gosta do
colega? Tem boa convivência com ele? Quer brincar com outras crianças?
Entretanto, o motivo mais utilizado, o de que "todo mundo vai", não
deve ser suficiente para convencer os pais.
Depois
disso, sair em busca de um presente para o colega. Pensar na idade dele, do que
ele gosta, de suas características, usar uma faixa de preço para escolher, ir
com os pais até a loja e --por que não?-- contribuir com parte de sua mesada
são questões que também ajudam a criança a vivenciar um processo do começo ao
fim dele.
Ir
a uma festa exige uma preparação: não é apenas ir e se divertir, não é verdade?
Muitas
crianças só se defrontam com os processos da vida na escola e, por isso,
resistem tanto, reclamam tanto, acham tão chato. A escola tem sido, para muitas
delas, a única instituição a exigir delas dedicação, esforço, perseverança,
espera, contenção, planejamento etc.
Desde
antes dos sete anos a criança já pode, em família, começar a vivenciar todas
essas questões. Afinal, pertencer a uma família já é um processo que exige
muito, não é?
Mas
parece que temos deixado a criança concluir que pertencer a uma família é puro
desfrute e que aprender algo deve ser fácil.
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Cotidiano".
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