Superdotados devem identificar habilidades cedo
para o mercado
Extraído do site : http://www.douradosnews.com.br/brasil-mundo/superdotados-devem-identificar-habilidades-cedo-para-o-mercado
Ex-aluno da rede
pública, Jhonathan descobriu cedo a aptidão em linguagens: hoje, é
bibliotecário do Ipea
A imagem de um
superdotado é cercada de mitos. A princípio, vem à mente um aluno nota 10, um
adolescente que tem respostas para tudo e um adulto com fortes traços de
genialidade. Por isso, enfrentar dificuldades no mercado de trabalho estaria
fora de cogitação. Não é bem assim. Associar inteligência a sucesso
profissional é natural, mas deve ser feito com ressalvas. O êxito de alguém com
alta capacidade para determinada área depende de escolhas ao longo da vida.
Além disso, o talento pode passar despercebido caso colegas, chefes e o próprio
trabalhador não saibam lidar com a situação. O reconhecimento formal e precoce
da superdotação também é essencial para o bom desempenho no mundo corporativo.
Afinal, os números de pessoas identificadas no Brasil ainda está aquém das
estimativas de superdotados existentes.
Embora
eles encontrem espaço mais favorável no meio acadêmico (leia mais na página 2),
usualmente aberto à criatividade e à inovação, há superdotados realizados
profissionalmente no serviço público, na iniciativa privada ou atuando como
empreendedores. “Ser bem-sucedido
tem a ver com fazer a escolha certa. Para os superdotados, não é diferente. Ou
seja, é necessário optar por uma carreira na qual seja possível colocar em
prática as habilidades desenvolvidas desde a infância”, afirma a psicóloga
Cristina Maria Carvalho Delou, que preside o Conselho Brasileiro para
Superdotação (Conbrasd).
Foi
assim com o brasiliense Jhonathan Divino Ferreira dos Santos, 23 anos,
identificado como superdotado na área de linguagens ainda na época escolar,
quando frequentava um colégio público em Taguatinga. Hoje, acumula os diplomas de graduação em biblioteconomia e
especialização em tecnologia da informação, ambos pela Universidade de Brasília
(UnB). Ele trabalhou durante seis meses na Escola das Nações antes de assumir o
cargo de técnico de desenvolvimento e administração — especialidade
biblioteconomia no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), onde está
desde maio de 2009. Bem adaptado, diz que consegue usar seus conhecimentos no
dia a dia profissional.
Jhonathan
tem habilidades em outras áreas. Por
isso, a rotina fora do serviço é agitada: faz dança, é catequista, canta em um
coral e está concluindo um curso de francês. Já sabe espanhol e inglês. Não
quer abrir mão do atual emprego, mas pretende fazer mestrado e doutorado. E
esclarece: não tem pressa para definir o futuro profissional. “Sou novo, com
apenas 23 anos, e isso não é uma competição. Tenho outras prioridades além do
trabalho. Por exemplo, quero aprender a nadar”, comenta.
Sobre
o potencial que possui, avisa: “Não tenho problema em contar, mas também não
saio por aí falando. O que
conquistei até hoje foi porque me dediquei, estudei”, pondera o rapaz. Cristina
Delou defende que os colegas de trabalho devem saber quando há um superdotado
por perto: “Não é questão de se mostrar, mas de facilitar o relacionamento.
Você só fica bem em um meio quando os outros sabem quem você é. Além disso,
devemos aprender a conviver com nossos talentos e nossas deficiências. Uma
pessoa pode ser superdotada em uma área e ter dificuldades em outra”, afirma.
Justamente
por isso, a nomenclatura para quem tem habilidades acima da média costuma
causar polêmica. Isso porque, para
alguns estudiosos, dizer que alguém é superdotado dá a falsa impressão de que
se trata de um sabe-tudo. “Quem tem aptidões cognitivas pode ter dificuldades
emotivas, por exemplo, e quem possui facilidades psicomotoras pode enfrentar
problemas de memorização”, justifica a presidente do Conbrasd. Altas habilidades, alta
capacidade ou habilidades especiais são sinônimos usados para a superdotação.
Maria
Aparecida de Oliveira, professora de língua e literatura que acompanhou
Jhonathan na sala de recursos (leia mais na página 3) do Centro Educacional
Elefante Branco durante o ensino médio, sabe que diferenciar as aptidões das
dificuldades demonstradas pelo aluno faz a diferença no futuro profissional. “O mercado de trabalho hoje quer saber de criatividade.
Então, trabalhamos isso. Fica natural para o jovem porque a gente dá ênfase à
área de interesse dele”, afirma.
Ambiente
favorável
Para
evitar que as deficiências se sobreponham às habilidades, além de escolher a
ocupação compatível com a superdotação, é preciso estar em um ambiente
profissional favorável — o que é difícil em algumas situações. “Ao contrário do que parece à primeira vista, superdotados
podem apresentar uma dificuldade maior do que o normal para se inserir no
mercado. Por possuírem uma visão mais abrangente das coisas, muitas vezes
acabam não tendo suas opiniões aceitas pelo grupo”, opina Cristiane Fabian da
Costa Cruz, presidente da Mensa Brasil, sociedade formada por pessoas de alto
QI.
Além
do mais, os processos seletivos nas empresas dão valor às habilidades de
relacionamento em detrimento de outras, acredita Cristiane. “Não quero dizer que os superdotados sejam antissociais. O
que ocorre é que a maioria deles tem pouca paciência para assuntos banais e
prefere ficar longe de grupinhos em algumas situações, o que acaba sendo
malvisto pelos participantes desses grupos”, analisa.
Diagnóstico além do QI
A
conceituação mais aceita na atualidade é a do pesquisador norte-americano
Joseph Renzulli. Segundo ele, o
superdotado é quem apresenta um conjunto de três características bem definidas:
habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade. O
diagnóstico, normalmente, é feito durante o período escolar. Embora o teste de
QI seja válido, não é o único instrumento considerado. Também são adotadas a
observação em sala de aula e as indicações de professores, de familiares ou do
próprio superdotado. Na rede pública de ensino, um psicólogo faz uma avaliação
que pode durar até três meses. São usadas ferramentas da psicologia e da
pedagogia, sempre com base na teoria de Renzulli.
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