Extraído do site : http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/1248260-jardinzinho-universitario.shtm
Tive
uma longa e interessante conversa com um professor universitário que há mais de
15 anos vem lecionando para os anos iniciais de diversos cursos de graduação.
Ele
me procurou para trocar ideias a respeito de seu trabalho porque anda
atormentado com uma questão. Ultimamente, diz o professor, não se sente mais
preparado para continuar a dar aulas em universidades.
Aceitei
de bom grado o convite dele porque acho que quem reflete sobre o próprio
trabalho em qualquer área profissional, especialmente na educacional, uma hora
ou outra acaba por sentir-se dessa maneira. E é isso que possibilita novas
buscas, estimulando aquilo que chamamos de formação continuada.
As
questões que ele trouxe são conhecidas de muitos professores de nível superior.
Nos últimos anos, os calouros têm chegado cada vez mais diferentes, se
comparados aos de outros tempos.
O
comportamento é mais adolescente e inconsequente, menos comprometido com os
estudos, mais ruidoso, mais festivo. O professor disse estar atônito com suas
turmas e já não sabe como proceder.
Ele
tentou algumas estratégias, mas elas fracassaram. Dou um exemplo: abriu uma
discussão com uma sala para buscar saber os motivos de tanta dispersão em aula.
O
máximo que o professor conseguiu foi um pedido para que ele fosse mais autoritário
com os estudantes, tirasse de sala alguns alunos para dar o exemplo e desse
aulas mais motivadoras.
Cito
outra situação que deixou o professor perplexo. Em sua primeira aula do
semestre, apresentou o curso sob sua responsabilidade, deu a bibliografia a ser
usada, fez uma apresentação sucinta dos conceitos que seriam estudados e
pesquisados e levantou algumas perguntas que serviriam como um norte para o
curso.
Ao
final de sua fala, solicitou a participação dos alunos para comentários,
dúvidas, etc. De imediato um aluno pediu a palavra e ele, silenciosamente,
comemorou o fato. Ocorre que o aluno queria saber apenas se deveria anotar tudo
o que ele falava ou não...
Tal
como esse professor, muitos outros docentes devem sentir-se da mesma maneira:
cheios de dúvidas, inseguranças, desalentos. Isso significa que as instituições
de terceiro grau devem assumir seu papel na questão.
Não
podemos ignorar que o mundo mudou muito e que, agora, o comportamento
adolescente começa cada vez mais cedo e está sem prazo para terminar.
Também
não precisamos nos conformar com o fato: podemos traçar projetos de trabalho,
discutir e refletir a esse respeito. Os docentes não devem enfrentar de modo
solitário as novas questões que os alunos trazem.
É
preciso estabelecer alguns princípios de trabalho que possam colaborar para a
precipitação desses jovens à maturidade.
As
instituições universitárias devem enfrentar a questão de forma coletiva. Mas é
bom salientar que chamar os pais dos calouros para reuniões só estimula o comportamento
infantilizado dos estudantes universitários.
Também
a escola básica precisa fazer a sua parte aqui, discutindo sobre como tem
contribuído para solidificar esse quadro.
Falamos
muito de autonomia nos anos iniciais da educação infantil e formamos, ao final
do ensino médio, jovens dependentes e carentes de compromisso com sua vida
escolar. Onde estão os equívocos nesse processo ?
Há
muito tempo que a escola, em todos os seus níveis, deixou de ser a instituição
responsável pela transmissão dos saberes; muitas outras instituições fazem
isso. O papel de formação tem sido, cada vez mais, fundamental. Temos respondido a contento a essa demanda?
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