Extraído do site
: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-12-16/irmaos-superdotados-superam-falta-de-recursos-e-incentivos-no-distrito-federal.html

(foto extraída da internet - não é dos irmãos da reportagem)
Irmãos superdotados superam falta de recursos e incentivos no Distrito Federal
Priscilla
Borges- iG Brasília
Em Ceilândia,
uma das regiões com mais alto índice de violência do Distrito Federal, Sandra e
Valdemir Rodrigues Barros têm um desafio diferente dos normalmente enfrentado
pelos pais. Desde que o filho mais velho, Jean, nasceu, há 12 anos, tiveram de
aprender a lidar com crianças curiosas, precoces e extremamente inteligentes.
Jean andou
com nove meses de vida, começou a falar na mesma época e, aos 3 anos, já lia
com fluência. Adorava ganhar cadernos de presente para desenhar – as folhas
vazias acabavam em dois dias, repletas de belas figuras. Os pais se revezavam
entre se espantar com a precocidade do menino e se orgulhar da capacidade e
inteligência da criança.
Mesmo sem
muitos recursos financeiros ou conhecimento especializado, os pais buscaram
estimular o filho como podiam. Davam brinquedos pedagógicos, gibis e livros
para colorir. “Ele sempre teve facilidade para absorver informações. Por isso,
eu sempre procurei conversar muito com ele, ensinar o que eu aprendi”, conta a
mãe orgulhosa.
Na segunda
série da educação infantil, a professora chamou Sandra. Achava que Jean Michel
não deveria estar naquela turma. “Ela disse que ele estava muito avançado em
relação às outras crianças de 4 anos e me explicaram que seria melhor se ele
fosse adiantado”, conta. Jean foi para a 1ª série do ensino fundamental.
O resultado
foi ainda melhor. Quanto mais era estimulado, mais aprendia. Não teve problemas
de adaptação com os colegas. Por recomendação da escola, Jean foi encaminhado
ao serviço especializado em identificar talentos e habilidades de cada um,
oferecer atividades para estimulá-las e acompanhar as famílias das crianças.
Na sala de
recursos desde 2009, Jean foi diagnosticado como uma criança superdotada. Ele
participa de encontros semanais junto com outras crianças que também têm altas
habilidades e, desde então, já escreveu um pequeno livro, ganhou um concurso
nacional de poesia e duas medalhas de bronze de diferentes edições da Olimpíada
Brasileira de Astronomia.
Diagnóstico
difícil
A família de
Jean faz parte de uma minoria no País em todos os sentidos. Primeiro, porque
poucos estudantes superdotados são identificados nas escolas brasileiras. Menos
de 10 mil alunos têm superdotação de acordo com os dados do Censo Escolar. Além
disso, nem todos recebem atendimento diferenciado como Jean.
Com a ajuda
das psicólogas, Sandra e Valdemir puderam compreender melhor o que significava
todo o talento de Jean. Conseguiram ajudar a identificar a mesma superdotação
no filho caçula, Mizael, de 7 anos, que seguiu os passos do irmão. Começou a
ler na mesma época que ele, pulou uma série, adora desenhar e pretende tocar
bateria no futuro.
Sandra, que
não trabalha fora de casa, acompanha todas as tarefas dos meninos. O pai, que é
cobrador de ônibus, também. Os dois se preparam para enfrentar o desafio de ter
dois superdotados em casa, já que Mizael também foi diagnosticado.
“A gente é só orgulho. Mas sempre falamos que
não podem deixar a sabedoria subir à cabeça e fazer eles se sentirem melhores
que os outros. Eles têm de servir de exemplo, ainda mais em um lugar tão cheio
de problema como o que a gente vive”, comenta a mãe.
A pedagoga
Renata Rodrigues Maia-Pinto, que acabou
de concluir uma tese de doutorado sobre o tema no Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília (UnB), afirma que ainda é muito difícil identificar as crianças com
superdotação. Os professores não estão preparados para perceber os sinais e não
há psicólogos nas escolas.
Segundo ela,
algumas características são semelhantes nos superdotados. Mas nem todas as
crianças apresentam todas elas e o diagnóstico pode ser de difícil
conclusão. “Em geral, eles
têm notas muito altas na escola (risco meu, discordo, aqui entram os
underachievers), têm um interesse quase obsessivo em
alguns temas, são muito criativos, têm fluência verbal e de ideias”, diz.
Jogados à
própria sorte
A
pesquisadora Renata Maia critica a falta de apoio do governo e da
iniciativa privada aos projetos de suporte aos superdotados. “Há potencial para oferecer um
bom atendimento, mas os professores são muito desassistidos, não têm apoio
financeiro e nem político. Esses talentos podem se perder, desperdiçados. Essas
crianças são largadas à própria sorte”, afirma.
Uma das
experiências vividas por Jean exemplifica a afirmação de Renata. Na última
edição da olimpíada de Astronomia, ele não conseguiu se preparar para a prova.
Em casa, não tem livros sobre o tema. Também não tem internet. A escola, que
também não tem obras de Astronomia na biblioteca, passou meses em greve. Com
isso, os encontros foram suspensos.
“Uma semana
depois que as aulas tinham voltado, a professora disse que tinha de aplicar a
prova. Falou que quem quisesse podia fazer e eu fiz”, conta. Jean apostou no
conhecimento que já tinha adquirido e conseguiu uma medalha de bronze na
competição. “A professora ficou surpresa quando eu ganhei”, diz, tímido.
A mãe,
Sandra, gostaria de poder oferecer muito mais aos filhos. Para o ano que vem,
ela conseguiu uma vaga em um curso de inglês gratuito para ele. Queria poder
colocá-lo em uma escola de música em que pudesse aprimorar as habilidades para
tocar teclado e cantar. Além disso, sonha em poder oferecer aulas de bateria e
futebol a Mizael.
“A gente
gostaria de poder investir mais neles, oferecer mais. Infelizmente, tudo
envolve dinheiro e aí dificulta”, desabafa a mãe. Sandra admite que, no início,
não compreendeu muito bem o que o filho fazia na sala de recursos. Agora,
defende o espaço, que também será frequentado por Mizael. “Lá ele consegue focar no que gosta, se estimula”, diz
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